A BANDA DA SEMANA DO PAULO ANDRÉ: PINK CITY

Aproveito esta semana para fazer uma confissão: sinto-me cada vez mais soterrado, ou afogado se preferirem, em música. Música, música e mais música. O sentimento não é novo, pois é algo que só tem crescido desde que a música se tornou indissociável de mim. Nunca fui daqueles que consegue consumir música como quem consome pastilha elástica, ou como quem vê um filme de sábado à tarde na SIC. Desde cedo tive aquela necessidade compulsiva de conhecer mais e mais, o que não raras vezes leva à terrível encruzilhada entre o pesquisar em largura ou em profundidade e, frequentemente, aquele vazio de ficar tanto ainda por descobrir. Como se não bastasse o interesse em ouvir, surgiu logo depois o interesse em escrever sobre aquilo que tanto se gosta e fazê-lo com responsabilidade, numa publicação com considerável historial e visibilidade, implica a predisposição para alargar horizontes que desde logo não podem ser diminutos.

Ora, e voltando ao início do raciocínio, num quotidiano cada vez mais ocupado e onde, pelo menos no meu caso e no de todos os que andam nisto pela proverbial “carolice”, a música não pode passar de um hobby, onde é que vou buscar tempo e energias para preencher as minhas lacunas pessoais relativas à história da música e, simultaneamente, continuar a acompanhar tudo o que de bom vai aparecendo de novo? Como é que resolvo as minhas graves falhas em boa parte da discografia dos Swans, Godflesh, ou Killing Joke – só para citar uma ínfima parte de um todo que não tenho problemas em admitir – e ao mesmo tempo absorvo os novos de KEN mode, Portal, Terra Tenebrosa e Nails, entre dezenas e dezenas de outros? Mas não vamos confundir este artigo com um lamento. Porque tudo isto só é um problema devido ao facto incontornável de se ter criado – ao longo dos tempos e com tendência para o infinito – uma quantidade astronómica de música genial e que simplesmente merece ser ouvida e absorvida.

Ah, é verdade, este espaço é para vos mostrar uma banda nova por semana. Já me esquecia. Como isto já vai longo, basta dizer que hoje voltamos a variar um bocado e o que vos trago é assim uma espécie de cruzamento pervertido entre os Killing Joke e os Ministry que acontece dentro da cabeça do Scott Walker após o dito se ter fechado numa cave escura, com os seus óculos escuros, durante uma semana, a ouvir Joy Division e Jesus And Mary Chain, apenas com (poucas) pausas para ir à casa de banho. O perverso resultado podia ser estes Pink City, cujo álbum «Designing Women» de 2011 é, segundo a própria banda, “post-everything”. Ou então é pós-nada e simplesmente trata-se de uma niilista e valente jarda. Digam-me vocês.

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Outras coisas, esta semana, por aqui:

• «The Litigators», John Grisham
• The Quartet of Woah!, «Ultrabomb»
• KEN mode, «Entrenched»
• Portal, «Vexovoid»
• Alice In Chains, «Dirt»
• Capricorns, «Ruder Forms Survive»
• Katatonia, «Discouraged Ones»

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