A BANDA DA SEMANA DO PAULO ANDRÉ (Reloaded) – VULGAARI

Sem querer sequer fugir ao trocadilho óbvio, a história da banda que trago hoje acaba por ser vulgar no sentido em que começou como tantas outras. Já o resultado final, esse, tem tudo menos de vulgar, pois o sludge/doom dos norte-americanos Vulgaari, ainda que nada reinvente, tem peso suficiente para esmagar este mundo e o outro. Denotando todas as boas influências de uns Black Sabbath, Electric Wizard ou YOB, há aqui um toque bluesy e psicadélico que o faz fugir à norma, até como ecos de death metal ou funeral doom.

Tendo sido um projecto originalmente concebido por dois amigos sem qualquer tipo de intenção de publicar o que quer que fosse, cedo Zack Kinsey e Brent Hedtke perceberam que não havia como confinar o som deste duo de Minneapolis ao limitativo espaço da sala de ensaio. Após publicarem alguns temas online foi um pequeno passo até assinarem com a Cubo de Sangre, editando em LP e CD em finais de 2012 e já este ano, a necessidade de debitar esta besta ao vivo fez com que os Vulgaari se transformassem num line-up completo, após o recrutamento de Dinis DeCarvalho, Pete Cambell e Todd Haug para o baixo, bateria e guitarra respectivamente, constituíndo assim o quinteto com que os Vulgaari têm obliterado os espaços onde têm tocado.

Dois dedos de conversa com o Zack Kinsey, tatuador de profissão, e ficámos a perceber melhor a génese e a motivação por trás destes Vulgaari.

És tatuador e o Brent é um assistente legal com uma queda para a comédia. Como é que isto se traduz numa das mais pesadas bandas de sludge/doom da actualidade?
Trabalho com outros seis tipos na loja (Uptown Tattoo em Minneapolis) e todos apreciamos música pesada de diferentes sub-géneros por isso encontro inspiração e influências de muitas fontes diferentes, mesmo em bandas das quais não gosto particularmente. O Brent é uma das pessoas mais ridiculamente hilariantes que conheço, mas quando pega na guitarra leva as coisas bem a sério.

Vocês abriram recentemente para os Orange Goblin na vossa cidade mas aparentemente não têm tocado muito mais que isso. Os vossos empregos consomem demasiado do vosso tempo ou tocar ao vivo simplesmente não é uma prioridade?
Tocámos apenas meia dúzia de vezes desde a primeira vez em 3 de Abril deste ano. Ainda assim já partilhámos o palco com bandas como Windhand, Lord Dying, Orange Goblin, Holy Grail, Lazer/Wulf, Zebulon Pike, Witchden, Exhumed, Rivers of Nihil e vamos tocar com os Church Of Misery no próximo mês. Os nossos empregos tendem a dificultar este aspecto mas se marcarmos as coisas com bastante antecedência, conseguimos fazer algumas pequenas digressões. Espero que nos primeiros meses de 2014.

Sei que o Brent não tem um background no metal e tu assumes sem problemas que não és propriamente um guitarrista de lead. Como achas que isso ajudou a moldar o som dos Vulgaari? Parece-me que isso se manifesta na forma bastante “atmosférica” como o Brent toca sobre a tua parede de som, mas qual é a tua opinião?
O Brent é fã de um tipo de música em que as guitarras lead tendem a brilhar mais e soar um pouco mais pronunciadas do que na maioria do metal. Ele gosta de muita música, mas não tanto das coisas pesadas que o resto da banda gosta. E acho que isso nos permite ter uma justaposição bastante única. Quanto a mim, comecei a tocar baixo aos 14 anos e continuei com esse instrumento durante dez anos antes de pegar numa guitarra. Por isso, sempre tive uma abordagem muito rítmica e não tanto de lead. Gosto mais de escrever riffs do que melodias. Nós tocámos junto numa banda anteriormente onde eu era o baixista e o Brent compunha todas as melodias e harmonias de guitarra. Quando comecei este projecto, sabia que o Brent era o tipo certo para tocar por cima dos meus riffs. Tento manter as coisas simples, com um bom groove, para que os leads possam efectivamente brilhar.

Além disso, em termos mais concretos, quais foram as vossas principais influências (até fora da música) na composição deste vosso primeiro disco?
É difícil dizer. As influências podem vir de todo o lado a todo o momento, tanto a nível músical como noutras áreas. Mas Crowbar, Melvins, Iron Monkey, Ahab, Coffins e Ufommamut estão sempre a tocar muito por aqui.

O que podemos esperar de um concerto dos Vulgaari?
Com três guitarras (duas de lead), baixo e bateria, tende a ser um doom bem pesado, bem alto e também melódico. Enquanto guitarrista de ritmo e o vocalista, não me vejo propriamente como um front man, por isso não desempenho esse papel. Tendo a ficar mais atrás dos leads do Brent e do Todd (Haug). O nosso baixista Dinis DeCarvalho e baterista “Minnesota” Pete Campbell seguram o forte e mantêm as coisas bem pesadas.

O projecto começou apenas por ser tu e o Brent, o álbum foi escrito dessa forma mas são agora uma banda completa ao vivo. Já encaras os Vulgaari dessa forma, a todos os níveis? O que se pode esperar do futuro da banda?
Isto claramente já se transformou numa banda completa. Já não vejo isto como apenas o Brent e eu. No primeiro álbum, compus tudo e gravei todas as guitarras de ritmo, baixo, bateria e vozes. O Brent gravou todos os leads por cima depois dos temas estarem escritos. No próximo álbum, continuarei a compôr tudo e a gravar as guitarras de ritmo e vozes mas os outros tocarão as suas próprias partes com os seus respectivos instrumentos. Todos estão à vontade para participarem com o envolvimento no processo que quiserem mas a maioria deles prefere que lhes seja apresentado um produto quase final para depois adicionarem as suas partes, não se envolvendo tanto na composição. Em última análise, isto transformou-se em mais do que imaginávamos e por isso não temos planos muito concretos para o futuro. Queremos apenas continuar a fazer música que gostemos até já não nos divertirmos. Se isso acontece amanhã ou daqui a dez anos, estaremos cá para ver.

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