DISCO DO MÊS #229: ORANSSI PAZUZU, «Mestarin Kynsi» [Nuclear Blast]

Há uns anos já que os ORANSSI PAZUZU andam sorrateiramente a transformar-se numa das propostas mais interessantes e desafiantes saídas da música extrema na última década. Ao longo de um percurso que começou em 2009, com o só por comparação rudimentar «Muukalainen puhuu», o colectivo finlandês foi aperfeiçoando a sua abordagem psych ao black metal mais avantgarde, fundindo a negritude abissal deste último com a inevitável transcendentalidade do primeiro. O resultado deu origem a mindfucks colossais, ampliados em palco, como uns quantos sortudos tiveram oportunidade de sentir no SWR. Mostrando que a quantidade do output não tem necessariamente de afectar a qualidade do mesmo, depois da experiência claustrofóbica que foi o «Värähtelijä» e o expandir de horizontes da colaboração com os conterrâneos Dark Budha Rising, que deu origem à brilhante estreia dos Waste Of Space Orchestra, os Oranssi Pazuzu estão de regresso com um novo álbum.

Em «Mestarin Kynsi», talvez antevendo poderem ficar aquém do sufocante poço negro do último LP em nome próprio, soltam amarras e soam mais psicadélicos e estranhos do que nunca. À excepção da derradeira «Taivaan Portti», o grupo mantém a quota de black metal reduzida ao essencial (destaque para as vocalizações de Jun-His, que cada vez mais parece um Attila Csihar finlandês) e foca-se no colossal híbrido de psych/space/kraut rock, mas não sacrifica um grama que seja de peso. O resultado são mantras instrumentais tão envolventes quanto se possa imaginar, que nunca ultrapassam a fronteira para o registo da jam band meio inconsequente; aliás, só vêm reforçar a ideia de que estamos perante gente que sabe como seleccionar meticulosamente paisagens sonoras, e com a mesma intensidade com que debita riffs difusos ou mergulha em ruído obscuro. «Mestarin Kynsi» revela-se em todo o seu esplendor: mais uma experiência sonora imersiva, mas um pouco diferente, talvez porque haja bastante mais espaço para respirar. [9]

Texto originalmente publicado na edição #229 da LOUD!, que pode ser descarregada de forma gratuita aqui.