MISSA ORTODOXA: Calderone – «Calderone» (1988)

CALDERONE
«Calderone»
[Parallel Lines Records, 1988]

Dividido em Lado A – Bam! e em Lado B – Bam Bam! esta pérola perdida da cena germânica dos anos 80 é realmente um estrondo do underground. É mais uma banda que não chegou a lado nenhum, mas não apenas mais uma, pois a qualidade musical encerrada neste vinil está claramente acima da mediania do panorama de então. Um EP destes é, em grande medida, uma máquina do tempo, e é inspirador ver como houve um momento em que o metal era tão jovem e tão cheio de ânimo e vigor e que tantos adolescentes ou jovens adultos espalhados pelo globo tivessem capacidade para criar composições destas.

Tão novos e a fazer música do caraças!

Tocavam um power metal muito speedado, a roçar o thrash dos conterrâneos Vendetta, Deathrow, ou Paradox, e quanto mais ouço esta rodela mais me impressionam o trabalho de cordas, os riffs, a bateria, as melodias vocais. O vocalista não será certamente ao gosto de todos, mas para mim a voz até é dos pontos fortes deste único registo em vinil desta banda (que apenas lançou uma demo no ano anterior e uma outra já no ano de 1994, com outro line-up, antes da desaparição na obscuridade).

A demo anterior.

A prestação do vocalista Zlatko Relic não é particularmente técnica ou cristalina, mas imprime uma agressividade muito própria à música dos Calderone com um constante ímpeto enrouquecido alternado com agudos muito à Kai Hansen. Em conjunto com a velocidade da bateria e as magníficas guitarras resulta espectacularmente. 

Um vocalista pouco ortodoxo mas cheio de força.

Apesar de todas as cinco músicas aqui presentes músicas terem grande nível, não deixo de referir «God Forgive Us» como uma composição particularmente forte. Como digo, porém, todo este curto EP, que não chega aos 25 minutos de música, vale bem a audição por parte dos metálicos que ainda por aí andem. Quanto ao presente, a banda tem aparecido e desaparecido ao longo das décadas, estando actualmente activa, mas restando apenas o baterista Chris Mosch do tempo deste lançamento de 1988. De resto, pelo que se ouve no Soundcloud e afins, o som está muito modernizado e muito distante do speed dos anos 80. 

Uma pérola perdida da cena germânica dos anos 80.
Se não fosse o tema-título eu nem saberia como se pronuncia o nome da banda.