MISSA ORTODOXA: Energy Vampires – «Energy Vampires» (1991)

ENERGY VAMPIRES
«Energy Vampires»
[Edição de Autor, 1991]

Morreu muito recentemente um grande vulto do Heavy Metal e mal se deu por isso. Muito pouco se leu na net e nas revistas. O músico de quem falo chamava-se Jonathon Stewart, e com a sua morte partiu um vocalista único, que deu a sua voz singular a um dos melhores álbuns que o metal americano alguma vez produziu. Um álbum surpreendente, experimental, técnico e absolutamente metálico, obra dos pioneiros Slauter Xstroyes. Lançado em 1985 pela própria banda numa tiragem reduzidíssima, sobretudo para a altura, passou despercebido fora da sua Chicago natal e só mais tarde viria a ser reconhecido como um verdadeiro marco do que se poderia chamar power metal progressivo (quando digo power metal refiro-me àquele a sério, bem entendido). Um álbum genial, épico e essencial, que ainda hoje não recebe nem de longe a atenção que merece, com um som extremamente original (nada realmente soava como aquilo), muito bem composto e tocado, guiado pelas atípicas entoações características de Jonathon.

“The very air shimmered with magic” – Slauter Xstroyes

Que dizer ao ouvir maluquices como «The Stage», ou o incrível tema-título ou, enfim, qualquer um dos temas do álbum, na realidade? O segundo álbum, «Free The Beast», que deveria ter sido lançado pouco depois, nunca foi completado, acabando por ver a luz do dia apenas em 1998, numa versão que compilava os temas sobreviventes das sessões de gravação juntamente com diverso material de demos anteriores. O material de estúdio de 1987 é extraordinário e por vezes ainda mais experimental e técnico que o de «Winter Kill» (Aquele baixo em «Wicked Bitch»! Aqueles quase dez minutos de «Metal’s no Sin», que monstruosidade! O tarado instrumental «E Pluribus Unum»).

Jonathon Stewart

No entanto, como cada episódio desta rubrica recai sobre um único lançamento, o que vos trago aqui oficialmente não é nem um nem outro álbum de Slauter Xstroyes, mas antes a demo homónima do ano de 1991 dos Energy Vampires, gravada por Jonathon Stewart com um batalhão de músicos contratados, a julgar pelos pouco explícitos créditos, numa tentativa de continuar a dar corpo à sua criatividade musical num momento em que a sua anterior banda era já uma memória do passado. Uma autêntica obra-prima, reeditada em CD e vinil (com quatro temas bónus) pela Shadow Kingdom há uma década, em que o vocalista explora os seus próprios limites. A música segue muito o estilo de Slauter Xstroyes, não somente devido à voz mas também ao intenso experimentalismo que transparece em tudo, na música como nas letras. Neste caso recuso-me mesmo, aliás, a apontar títulos. É um álbum que deveria ser sempre ouvido do princípio ao fim. O arrojo do aventureirismo vocal de Jonathon pode ser especialmente apreciado em temas grandiosos recuperados de Slauter Xstroyes: «Battle Axe» e «Mother Fucker». Mas tudo é admirável neste disco.

O Metal Inquisitor com imenso metal fantástico na mão!

E assim aqui vos falei de três álbuns praticamente desconhecidos. Três dos melhores álbuns que o metal tem para oferecer. E, como em tantos outros casos, a música verdadeiramente boa nada tem a ver com a quantidade de pessoas que a ouvem. Fica a minha homenagem a um músico genial praticamente anónimo.

Danger, sister, danger! Whatever happened to reality?