OUT OF SIGHT FEST: Fomos conhecer melhor o festival que se estreia este ano

É já nos próximos dias 14 e 15 de Setembro que o underground nacional, e em particular o algarvio, ganham um novo evento – o OUT OF SIGHT FEST estreia-se este ano com muitas caras conhecidas, seja nas bandas presentes ou na própria organização e local. O cartaz promete realmente dois dias em grande com muito punk, hardcore, e até death metal brutal para que ninguém fique com desejos não cumpridos. Para ficar a conhecer um pouco melhor este novo festival, conversámos com o David Rosado da Out Of Sight Booking, responsável pela sua organização.

Apresenta-nos o Out Of Sight Fest! Qual a origem da ideia, quais são os objectivos que tens?
A ideia de criarmos este festival começou a surgir há mais ou menos ano e meio. A partir do momento que nós na Out Of Sight Booking decidimos que não iríamos mais fazer o festival que tínhamos feito até aqui, começámos logo a pensar num novo evento em nome próprio. A ideia inicial era fazer algo na praia de Faro. Juntar o conceito da “Pool Party”, que infelizmente deixou de acontecer, com os festivais que acontecem um pouco por toda a Europa como o Fluff Fest (República Checa) ou o Ieper Fest (Bélgica). A “Pool Party” tinha mais gente que vinha de fora do que pessoal de cá, e nós pensámos que, tendo aqui o aeroporto na cidade com várias companhias low cost seria mais fácil para pessoas de vários pontos da Europa virem cá ter. Grande parte delas já vêm cá passar férias e conhecem o Algarve, então a ideia seria juntar esses factores como a praia, bom tempo e acessibilidade. Infelizmente fazer algo assim na praia iria requerer uma logística grande demais para podermos arriscar neste momento. A nossa ideia é criar as bases e conseguir ter um crescimento sustentado para mais tarde conseguir ter esse evento na praia. Mas escolhemos a ARCM como local para a primeira edição visto ser a nossa “casa”, e ser onde organizamos a maioria dos nossos concertos. Sendo que também o festival é organizado em parceria com a ARCM.

O cartaz foi apresentado, completo, com bastante antecedência, achas que apesar dos riscos inerentes (já houve alguns cancelamentos, não é verdade?), isso é uma medida importante a tomar?
Sabíamos que isso era um risco que iriamos correr, mas também sabíamos que sendo um festival novo o primeiro impacto era importante. O normal hoje em dia são os festivais irem apresentando os nomes a conta-gotas para gerar interesse, manter as pessoas a falar e também haver aquela curiosidade em saber que nomes vão ser anunciados. Mas no nosso caso penso que iria ter menos relevo. Assim ao, anunciarmos o cartaz completo tão cedo, conseguimos ter um bom feedback das pessoas acerca do festival. Claro que marcando algo com sete ou oito meses de antecedência os cancelamentos são sempre possíveis, mas acho que dentro do possível tentámos dar a volta e apresentar um cartaz forte que pode agradar a muita gente.

Manténs-te estoicamente em Faro, como a tua base de operações e local do festival. Qual achas que é a importância de continuar a haver eventos desta dimensão na região?
Desde o final dos anos 90 que Faro e o Algarve têm tido uma cena underground forte com concertos regulares e alguns festivais aqui e ali. Nós na organização somos todos da zona de Faro / Loulé e por isso é que a grande maioria dos eventos que fazemos são aqui. Sempre que é possível tentamos puxar um concerto para o Algarve, mesmo que isso signifique que o retorno financeiro seja negativo, pois somos de cá e queremos que a cena local seja forte. Mas como em todo o lado vamos tendo os nossos altos e baixos, com mais ou menos pessoal a aparecer. Acho que é importante descentralizar e mostrar que no Algarve também existem boas bandas e boas salas para se tocar, não apenas em Lisboa ou no Norte do país. Esperamos que um evento destes ajude a colocar o Algarve no mapa underground com um fest de referência que traga pessoal de todo o lado.

Como é que vês a evolução da cena musical algarvia, desde que começaste a trabalhar em eventos nessa área?
Acho que a cena algarvia sempre foi forte, especialmente desde o final dos anos 90 até aos dias de hoje. Sempre tivemos várias bandas mais ou menos influentes em diferentes estilos a tocar, a editar discos e a fazerem tours, ou até bandas maiores da cena nacional com membros do Algarve. Temos a sorte de ter duas instituições que fazem com que seja mais fácil as coisas acontecerem, apesar de ainda assim ser difícil. Temos a Associação Recreativa e Cultural de Músicos, em Faro, que mesmo com todas as mudanças de sede sempre foi um local onde as bandas podiam ensaiar e tocar, e temos o Bafo de Baco em Loulé que é na minha opinião uma das melhores salas de concertos no nosso país. Nesse aspecto somos privilegiados em ter essas duas instituições tão próximo uma da outra numa zona central do Algarve. É claro que como falei anteriormente vamos sempre tendo as oscilações a nível de público, por exemplo o Verão é sempre uma altura complicada para concertos e para as bandas conseguirem ensaiar pois há muita gente a trabalhar no turismo e nesses meses é sempre complicado. Acho que em termos de infraestruturas estamos bem (embora pudéssemos estar sempre melhor) e há talvez menos bandas que há uns dez anos, mas as que há, penso que se dedicam um pouco mais a tentar ter um produto final melhor, uma boa gravação, esse tipo de coisas.

A toada geral é, como seria de esperar, de punk e hardcore, mas também há ali algum metal extremo a “infiltrar-se”, em especial no segundo dia. Qual foi a ideia por trás desta mistura altamente saudável? Achas que o pessoal vai aderir aos Analepsy ou aos Holocausto Canibal, por exemplo?
Nós na Out Of Sight Booking neste momento somos quatro pessoas, cada uma com o seu gosto distinto, e acho que isso acabou por se reflectir no cartaz final do festival. A mim não me faz confusão nenhuma haver esta diferença de estilos entre as bandas. A cena já de si não é grande, para quê criar ainda mais divisões?! Poderíamos mais facilmente ter um dia do metal e um dia do punk/hardcore, mas acho que o festival iria ficar a perder. É normal que as pessoas não gostem das bandas todas, mas quem sabe não vão passar a gostar, especialmente o pessoal mais novo. Estamos confiantes que no geral o pessoal vai aderir e vão ter um fim de semana para mais tarde recordar.

Fala-nos um pouco dos dois headliners estrangeiros, os Risk It! e os No Turning Back – qual foi o critério por trás destas escolhas, e o que achas que podemos esperar dos concertos deles?
Na minha opinião são provavelmente as maiores bandas de hardcore da Europa neste momento e são velhos amigos. É tudo pessoal que já conhecemos há imenso tempo e sempre nos demos bem. Os Risk It! já há vários anos que não visitam o nosso país, mas por exemplo o vocalista, o Gregor, já marcou vários concertos para bandas nossas que estiveram em tour na Alemanha – ainda há uns meses marcou uma data para Clean Break. Então é sempre bom rever estes amigos e quando estávamos a pensar em bandas para o festival tivemos isso em conta. Não só serem bandas que gostamos e que achamos que são mais valias para o cartaz, mas também o facto de ser pessoal que conhecemos há muitos anos e assim temos uma oportunidade de estar um pouco com eles. É engraçado que quando começámos a falar com os No Turning Back nem sabíamos que eles iam tocar no Hell Of A Weekend. Realmente são a banda mais “tuga” de fora de Portugal.

Para lhes dar um destaque que muitas vezes não têm, e para ver se a malta chega a horas, queres apresentar as bandas que têm as letras mais pequeninas no cartaz, e que vão estar a abrir as primeiras horas de ambos os dias?
O festival não podia começar de melhor maneira que com os Villain Outbreak. São a banda “da casa”, estão neste momento a acabar de gravar o novo disco com o Carlos Rocha (Eyeball Studios) que está a ficar excelente e vão tocar algumas dessas músicas novas. Depois vamos ter o regresso dos To All My Friends que na minha opinião são uma das melhores bandas pop punk cá em Portugal. Fico parvo como é que não são maiores, mas hão-de lá chegar. Por fim temos os Giver, da Alemanha, que são uma banda de hardcore melódico e pesado na onda de Comeback Kid. Tenho a certeza que daqui a uns anos vão estar gigantes e o pessoal vai poder dizer que os viram no Out Of Sight Fest na primeira vez que vieram a Portugal. Depois no dia 15 temos os Linchpin que são uma banda nova da Margem Sul que está a dar os primeiros passos, de seguida temos os Shadowmare a representar o metal algarvio, os Decreto 77 que voltam assim aos concertos depois de um pequeno hiato, os Meltdown do País Basco que vêm espalhar o seu metalcore cheio de energia pela primeira vez no Sul do nosso país, e finalmente os Albert Fish, que dispensam apresentações, e que vêm com um novo line-up apresentar o novo split EP com os norte-americanos Crucial Change. Acho que o cartaz é diversificado e é fácil encontrar várias bandas interessantes para os diferentes gostos de cada um.

Como é que encaras a evolução futura do festival? Achas que há muito por onde crescer ainda, seja na praia ou noutro local?
Nós queremos sempre tentar fazer melhor de concerto para concerto. Já fazemos isto há algum tempo, mas estamos sempre à procura de onde podemos melhorar e a tentar aprender com os erros. A nossa ideia é tentar que o festival se consolide e comece a ser uma referência no underground por esta altura do ano. É esse o nosso foco e o nosso objectivo. Tentar ter um cartaz apelativo não só ao publico português e local, mas também de fora. Vamos ver o que acontece.