RETROVISOR: Judas Priest, «Victim Of Changes» (Glen Helen Park, San Bernardino, Califórnia, 29 de Maio de 1983)

Aos JUDAS PRIEST está, para muitos, associado o tema «Painkiller». Numa afirmação que certamente fará mossa, há que explicar que este não é de longe um bom exemplo da grandiosidade do grupo, mas antes uma (boa) súmula de um trabalho feito ao longo de discos como «Stained Class», «British Steel» ou «Defenders Of The Faith», que merecem mais crédito que o trabalho de 91, adorado por tantos.

O quinteto de Birmingham, não teve uma carreira fácil, e a sua popularidade cresceu ao ritmo a que depurava o seu som e imagem, criando standards para aquilo que muitos associam ao heavy metal. Talvez por isso, muitos dos seus discos mereçam hoje uma audição mais cuidada, para se perceber as pérolas que encerram. Um desses trabalhos é ainda de 76, «Sad Wings Of Destiny», onde está este «Victim Of Changes». Apenas a partir de 80 o colectivo conseguiria atingir os tops e obter relevância no mercado norte-americano, no que muito ajudou «Screaming For Vengeance», outro disco clássico e de cuja fase é este vídeo.

O contexto é o US Festival, que apenas teve duas edições e foi criado por Steve Wozniak, fundador da Apple, que à época necessitava de um veículo para promover a sua marca. Se a edição de 82 foi irrelevante, a de 83 ficou na história da música, dividindo-se por quatro dias, cada um dedicado a uma área musical: new wave, rock, heavy metal e country. Na data dedicada ao peso, Quiet Riot, Mötley Crüe, Ozzy Osbourne, Judas Priest, Triumph, Scorpions e Van Halen, foram, por esta ordem, os nomes a desfilar, num festival que serviu de rampa de lançamento para muitos deles.

A prestação dos JUDAS PRIEST está toda disponível online, mas neste tema há todo um Judas Priest que não encontramos hoje e que está para lá da formação actual. Aqui não há show de luzes nem palco especial, os músicos valem por eles, Glen Tipton faz backing vocals, Rob Halford mostra uma capacidade vocal bem diferente da de hoje. Na bateria está Dave Holand, falecido este ano, substituído por Scott Travis, após uma polémica em que foi notado haver, debaixo do palco, um segundo baterista, Jonathan Van Halen dos Legs Diamond, que “ajudava” a reforçar o som de Holand. Anos depois, olha-se para o grande estrado que suporta a bateria, neste vídeo, e esboça-se um sorriso.

Aqui há todo um mostruário do que é heavy metal; o solo aos quatro minutos, as twin guitars, o solo de KK Downing aos cinco minutos, as mudanças de tempo, e o espectro sonoro percorrido por Halford. Nesta performance há mais música que a que se encontra em álbuns inteiros de bandas conhecidas.

Uma nota final para um senhor discreto, Ian Hill, um grande baixista, talvez o membro menos conhecido da formação clássica. É, no entanto, o mais antigo e, junto com Tipton, esteve presente em todas as gravações do grupo.