RETROVISOR: Serrabulho, «Disgusting Piece Of Shit» (SWR, Barroselas, Portugal, 24 de Abril de 2014)

Pode o Natal ser em Abril? Sim, pelo menos para os muitos que religiosamente marcam logo no calendário o fim-de-semana do SWR — BARROSELAS METALFEST. Este mês, o RETROVISOR não se foca tanto nos momentos bem conseguidos deste ou daquele artista, mas num festival que nunca sendo de massas ou massificado, fica sempre no coração de quem o experiencia.

Gama, esta é para ti”, informa Ivan, baterista dos SERRABULHO. E se o grupo já torna qualquer concerto numa ruidosa festa de família, o ambiente de Barroselas ajuda muito a isso. São catorze minutos e várias músicas, mas como o Toca informa, a primeira “chama-se «Disgusting Piece Of Shit»” e é para pôr “tudo a mexer”. Pede-se desculpa pelo solo de guitarra e, aos primeiros acordes, de facto tudo se começa a mexer… Para o palco.

Horas antes, os GRUNT tinham oferecido uma das actuações mais extremas que o festival presenciou, acompanhando a sua música com uma sessão de sado-maso bem extrema, quase como que um catálogo do estilo exemplificado ao vivo, por duas dominatrix manipulando um escravo. Algo brutal, que se poderia esperar ser o auge do festival, pelo menos para o Palco 2. Um par de nomes depois, os transmontanos entraram em cena, e apresentaram uma mistura de temas contidos no disco de estreia, e outros ainda inéditos. O resultado está bem patente no caos em palco, na destruição controlada, “Não comam o material, só pedimos isso!”, e uns acordes de AC/DC conduzem pela festa dentro. Como numa final olímpica, em que a um recorde mundial se responde com outro, naquela tarde percebeu-se o valor do grupo.

Tal como muitos músicos que passam por este festival, os membros dos SERRABULHO, antes de pensarem em tocar no SWR, foram elementos do público, o que aparece sempre na hora de tocar. Aquela pontinha de orgulho de chegar lá, uma meta que só quem frequentou o festival pode entender. “Esta é para Barroselas!” grita Toca, mas no fundo, cada músico nacional que sobe a um dos palcos do festival, é isso que grita bem lá no fundo, porque em Abril, numa vila do Alto Minho, é Natal!