SHREDS OF STATTURDAY #3

(for the English version, please scroll down)

A minha vida é diferente daquilo que costumava ser. Claro que o tiroteio mudou a maior parte, mas não tudo. Há decisões tomadas que tiveram um papel determinante também. Há anos atrás, decidi entrar para a escola de arte, principalmente para evitar níveis mais altos de matemática numa universidade ou colégio “a sério”. Dêem-me qualquer coisa que não tenha a ver com calcular uma única resposta verdadeira e, no final de contas, impiedosa. Os números continuam a fazer parte da minha vida na arte, estou constantemente a usar medições, etc, mas consigo gerir isso; a resposta nunca é (x), ou (y), ou (z). Essa decisão pôs a minha vida a seguir um percurso que nunca planeei. Estou feliz por a ter tomado. Parece que foi a escolha certa.

Chegado à escola de arte, conheci novas pessoas, li novos livros e pensei pensamentos novos. Durante todo o tempo que lá estive, aprendi mais e mais sobre mim próprio. Coisas pessoais, coisas humanas. Amores e luxúrias. Preferências. Aprendi que era um bocadinho diferente da maior parte dos outros. Não estava quebrado. Não me tinha acontecido nada horrível na minha infância. Não estava necessariamente zangado ou perdido. O meu plano era ser o melhor que pudesse ser. Como artista e como pessoa. Felizmente, foi dessa forma que fui criado.

Desde cedo que me dediquei à composição. Tinha uma professora incrível, também. Ela era muito apaixonada pelo que ensinava, e eu achava-a uma das mulheres mais sexy que alguma vez tinha visto na minha vida. Luxúria, lembram-se? Houve uma semana em que nos deu um trabalho que consistia de escrever uma curta obra de ficção. Foi a primeira vez em algum tempo que me senti entusiasmado por escrever qualquer coisa. Não me demorou muito tempo a terminar e lembro-me que fiquei feliz com o resultado. Feliz como estava, estava também preocupado; era uma história estranha e violenta sobre um homem e a sua mulher grávida. Chamava-se «The Waiting» e tive um A e uma nota escrita à mão na primeira página, “Isto é muito escuro, mas maravilhoso. Continua a escrever.” Estava assinado, também. Só me lembro de ter sorrido de orelha a orelha, ter olhado para cima e ter dado à minha “Mrs. Robinson” um olhar e uma piscadela de olho. Juro que ela piscou de volta.

Tudo isto é relevante, prometo. Porque vai ter à banda-sonora da história. Lembro-me do que estava a ouvir quando escrevi esse conto violento e escuro de um homem, uma mulher e um momento perdido de tempo e sanidade.

Morbid Angel. O álbum era o «Blessed Are The Sick». De alguma forma, rastejou até ao meu cérebro e permeou a papa cerebral. Fez com que saíssem algumas coisas muito estranhas. A música tem formas de fazer isso. É uma coisa poderosa. Extremamente poderosa. Fico contente, porque sem ela o resultado teria sido nada impressionante. Ainda é uma memória muito forte que tenho. Tenho a certeza que o vai ser durante muito tempo.

 

Avançando dezanove anos, mais ou menos. Estou finalmente a seguir o conselho da Mrs. Robinson. Estou a escrever mais e estou a adorar. Limpa os meus pensamentos. Faz-me sentir que realizei alguma coisa.

A minha vida é completamente diferente do que costumava ser. E é tudo baseado numa única decisão. Estou contente por a ter feito. Estou grato que alguém tenha visto potencial em mim há muito tempo. É incrível o que as palavras de alguém podem fazer. Aquela pequena nota escrita a tinta vermelha na minha primeira página deixou-me uma impressão que nunca vou esquecer. E não preciso de matemática para isso.

Here’s to you Mrs. Robinson.

Yours in metal,

Statts

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ENGLISH VERSION

My life is different than it used to be. Of course the shooting changed most of it, but not all. Decisions have played a major role as well. Years ago, I made a decision to attend art school mainly to avoid higher levels of mathematics in a “real” college or university. Give me anything else as long as it has nothing to do with calculating a one true, and ultimately, unforgiving answer. Numbers are still part of my life in art, as I am constantly using measurements, etc., but I can handle that; the answer is never an (x), or (y), or (z). That one decision put my life on course that I could’ve never planned. I’m glad I made it. It seems like it was the right choice.

Once there, I met new people, read new books, and thought new thoughts. Through it all I learned more and more about myself. Personal things, human things. Loves and lusts. Preferences. I learned that I was a little different than most. I wasn’t broken. Nothing horrible had ever happened to me in my childhood. I wasn’t necessarily angry, or lost. My plan was to be the best I could be. As an artist and as a person. That’s the way I was raised, thankfully.

Early on I took composition. Had an amazing teacher, too. She was very passionate about what she was teaching, and I thought she was one of the sexiest women I’d ever see in my life. Lust, remember? One week she gave us an assignment to write a short work of fiction. It was the first time I had been excited about writing something in a while. It didn’t take me long to finish and I remember being happy with the result. As happy as I was, I was just as worried; it was a strange and violent story about a man and his pregnant wife. It was called «The Waiting». I received an “A” and a hand-written note on the title page, “This was very dark, but wonderful. Keep writing.” It was signed, too. I just remember smiling from ear to ear, and looking up and giving my own “Mrs. Robinson” a look and a wink. I swear she winked back.

This is all relevant, I promise. It goes back to the soundtrack of that story. I remember what I was listening to when I wrote that violent, dark tale of a man and a woman and a lost moment of time and sanity.

Morbid Angel. The album was «Blessed Are The Sick». Somehow it had crawled into my brain and permeated the goo. It made some strange things come out. Music has a way of doing that. It is a powerful thing. Extremely powerful. I’m glad, otherwise I would’ve turned in something unimpressive. It is still a very strong memory of mine. I’m sure it will be for a long time to come.

Fast forward 19 years or so. I am finally taking Mrs. Robinson’s advice. I am writing more and I am loving it. It clears my thoughts. Makes me feel like I’ve accomplished something.

My life is completely different than it used to be. And it’s all based on one single decision. I am glad I made that call. I am grateful that someone saw potential in me a long time ago. It is amazing what someone’s words can do. That short note written in red ink on my title page left an impression on me that I’ll never forget. And I don’t need math for that.

Here’s to you Mrs. Robinson.

Yours in metal,

Statts

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