THE OMINOUS CIRCLE: Diário de bordo da tour dos Estados Unidos [parte 3]

Depois de nos terem dado conta da chegada aos Estados Unidos, dos primeiros três concertos da digressão Poison Fumes Over North America MMXVIII e da passagem vitoriosa pelo Migration Fest, os THE OMINOUS CIRCLE apresentam-nos agora a terceira (e última!) parte de um diário de bordo criado em exclusivo para a LOUD!.

New York City, New York
2 de Agosto

Este último capítulo chega-vos directamente do aeroporto JFK em Nova Iorque, onde nos encontramos absolutamente torturados pelo stress que é o regresso a casa. Basta um par de dias na estrada para que os nossos sistemas se adaptem à rotina nomádica de load ins, changeovers, load outs e curfews pelo que tudo o que fuja a este esquema é de difícil concretização. Some-se o caos etílico da noite anterior e temos uma combinação explosiva de inércia e estupidez. Neste momento qualquer tentativa de planeamento é infrutífera — bola para a frente e que tudo corra bem.

Voltando uns dias atrás no tempo. Ainda extasiados pela recepção em Pittsburgh (PA) seguimos para a próxima estação: Filadélfia (PA). Uma das muitas coisas boas desta tour foi a meticulosa gestão de tempo (obrigatória pois aqui duas horas de viagem duplicam com o trânsito) e, apesar das cinco horas na estrada, conseguimos chegar com tempo para picar mais um ponto turístico e visitar os Degraus de Rocky, no Art Museum. Paragem rápida em mais um Dunkin’ Donuts para ingestão de açúcares vários e pouco depois já estávamos no Millcreek Tavern, outra das casas do extremo na Costa Leste dos Estados Unidos. O facto de não haver merchandise para vender suavizou por completo o nosso trabalho. Sem obrigações para além do concerto pudemos aproveitar para descansar os esqueletos que à data já contavam mais de 2000 km de asfalto.

Mais um concerto na bagagem e mais estrada para devorar em direcção a Wilmington, Delaware, onde estabeleceríamos base para as próximas datas em casa dos nossos companheiros Scorched. Kaparitaville (baptizada em honra de Jimmy Buffet), é o HQ perfeito para este tipo de empreendimentos. Tem três andares, um quintal enorme com piscina e maquinismos de BBQ, espaço de sobra para uma tour de 3 ou 4 bandas e — o melhor de tudo — fica a duas ou três horas das principais cidades da Costa Leste. Para além disso, os nossos anfitriões mostraram-nos também que Delaware é o mais próximo que encontraríamos de casa em termos gastronómicos: desde o Scrapple (algo semelhante à nossa mioleira de porco) no Mary’s Kountry Kitchen às sandwiches do Ioannoni’s, tudo comida caseira e excelente. Exactamente o que precisávamos para poupar os nossos organismos à brutalidade de fast food que temos consumido. De realçar a extrema simpatia e hospitalidade de toda a gente nesta terra, que contribuiu em muito para que nos sentíssemos mais perto de casa.

À sexta data o jet lag finalmente dava tréguas e assim se reuniam as condições para uma boa noite de sono. Afinal de contas, estávamos em casa e apenas a três horas de Washington DC, onde tocaríamos no dia seguinte — ou pelo menos assim parecia. Por força do trânsito, chegar à capital levou-nos quase seis horas na estrada debaixo de um calor insuportável. Valeram-nos os packs de Twisted Tea na geleira e boa música para passar o tempo. Em D.C. somos apresentados ao Atlas Brew Works, uma fábrica de cerveja artesanal que muito regularmente recebe concertos de música extrema e onde nesse dia partilhámos palco com os Neolithic e tivemos o prazer de contar com Chris Moore (Repulsion, Magrudergrind, Coke Bust) ao comando do som. No final da noite ainda fomos presenteados com umas quantas grades de algumas das cervejas da casa que foram um autêntico bálsamo no regresso a Karapitaville.

Mais uma noite insana em Kaparitvaille e novo despertar para a última data em Richmond (VA). Após mais umas sandes no Ioannoni’s lá fizemos mais uma Interstate em direcção ao sétimo estado que visitaríamos nesta incursão norte-americana. O Strange Matter é um misto de sala de espectáculos, bar/restaurante e salão de jogos arcade com todos os clássicos: “Golden Axe”, “Streetfighter II”, “Paperboy”, etc… Nada melhor para estourar os últimos quarters na carteira antes de subirmos ao palco.

A páginas tantas na noite do Migration Fest (Pittsburgh – PA) entre litros de álcool variado, alguém concluiu que a nossa tour e a dos Spirit Adrift coincidiriam num day off no dia 1 de Agosto. Nós estaríamos em Nova Iorque em preparativos para o voo de regresso (que aconteceria no dia seguinte) e eles tinham planeado ficar a usufruir de um dia de folga na mesma cidade. Algo que ficou a pairar no meio de tantos copos mas que no dia seguinte nos seria relembrado via SMS: o concerto iria efectivamente acontecer. Scorched, The Ominous Circle e Spirit Adrift numa última noite juntos no Saint Vitus. Despedimo-nos de Kaparitaville com promessas de um novo regresso e beijámos o asfalto pela última vez para tocarmos no novo CBGBs, onde tudo começou. Redbull e cerveja gelada no backstage, condimentos perfeitos para uma noite de grande música e camaradagem sem paralelo marcada por shotguns sem fim, mais trashcans e uma “amigável” intervenção policial na rua. Uma noite para relembrar, a quem tiver sido abençoado com esse dom.

Como já seria de esperar, esta manhã começou com a habitual recolha de pedaços da noite anterior e a possível reconstituição de factos com recurso a dispositivos de multimedia. Malas arrumadas, checkout feito e 45 minutos depois cá estamos, prontos para mais 13 horas de viagem até casa. Uma tour memorável a todos os níveis, com esperanças de um regresso a curto prazo.

Uma última linha apenas para endereçar a nossa sincera gratidão à LOUD! pela vontade em acompanhar e transmitir este nosso trajecto pelos Estados Unidos. O nosso muito obrigado!