2021: o melhor e o pior até agora para a redacção da LOUD! [vol. III]

O tempo parece que voa, e aqui estamos nós, já a atingir o ponto médio de 2021. Os balanços mais sérios, como de costume, serão feitos no final do ano, mas apesar das limitações que a pandemia continua a teimar em nos impôr, a verdade é que já houve uma quantidade assinalável de lançamentos para fincarmos os dentes durante a primeira metade deste ano. Assim, pedimos aos membros da nossa redacção para, de forma descontraída e sem pensarem demasiado nisso, nos dizerem aquilo que 2021 teve de melhor para eles em termos musicais até agora e, porque não, soltar alguma bílis escolhendo também o pior. Depois do Ricardo S. Amorim e do Emanuel Ferreira terem ventilado as suas musas e a sua bílis, segue-se o Fernando Ferreira:

O MELHOR



CRIMSON DIMENSION

«Crimson Dimension»
[Spread Evil]
Aceitando o difícil desafio de encontrar o campeão de Verão para o campeonato do álbum do ano, não foi fácil encontrar um que tivesse um enorme destaque em relação em todos os restantes. Há todo um conjunto de lançamentos que já marcaram o presente ano (CANNIBAL CORPSE. MOONSPELL, HELLOWEEN, VULTURE), pelo que preferi ir para o novato, aquele que aparece de nenhures e é candidato ao título. Falo então dos CRIMSON DIMENSION e da sua estreia discográfica auto-intitulada. A banda finlandesa começa a sua carreira com quatro temas apenas, mas todos ultrapassam a marca dos dez e dos quinze minutos. Juntando isto ao rótulo “metal extremo progressivo”, os OPETH surgem imediatamente na cabeça, principalmente se tivermos em conta os seus primórdios. Há por aqui muito mais do que qualquer uma destas referências. A banda classifica o seu som como blackened progressive metal, mas também temos algum death metal à mistura.

Não são os temas longos que tornam automaticamente um álbum progressivo, mas a forma como os mesmos conseguem transportar o ouvinte numa autêntica viagem, algo que acontece aqui. Vou ser sincero, não é uma viagem que se faça de ânimo leve, nem é um álbum ao qual se agarre logo facilmente. São necessárias várias incursões. No entanto, há todo uma riqueza de momentos que ficam, todo um espanto juvenil que faz pensar em como temos sorte de conseguir compreender e absorver obras como estas. Obras que não estão alcance das massas, mas que contêm dentro de si enigmas que depois de revelados (com maior ou menor dificuldade) belezas únicas. «Crimson Dimension» é uma obra que permite perder-nos do tempo, perder-nos das preocupações para nos encontrarmos no momento presente, sem amarras e apenas a desfrutar aquele que é um dos álbuns mais poderosos de 2021. E se calhar até mais além disso.

O PIOR



RED FANG
«Arrows»
[Relapse]
Pequeno aviso. Este não será de todo o pior álbum do ano até ao momento. No entanto, será certamente a maior desilusão para este vosso escriba. Os RED FANG sempre tiveram uma certa magia. A magia da simplicidade, uma magia nem sempre capaz de ser atingida. Seja pelos videos criativos, seja pela abordagem cativante do rock ora mais stoner ora mais sludge, seja pela atitude despreocupada com que abordam o que fazem. E tudo isso tem trazido tanto a eles como a nós, os seus fãs, muita música boa. Isso também fez com que as expectativas estivessem em alta para este disco, principalmente após uma demora em lançar o álbum que já estava pronto desde o final de 2019. Quando finalmente peguei em «Arrows», estava preparado. Pensava eu. Até que… nada. Uma, duas, três passagens. E ainda nada. A sua música nunca foi exactamente imediata, mas havia sempre um riff, um refrão, algo que despontava primeiro e que nos fazia voltar para apanhar mais.

No entanto, aqui era mesmo a teimosia que ditava “tens que insistir”. Depois da insistência descobre-se aquilo que se procura, mas em quantidades menores e longe das expectativas iniciais. Até mesmo as expectativas posteriores, aquelas que dizem que apenas temos que dar uma hipótese, não são cumpridas desta vez. Talvez seja um álbum com efeito prolongado, que demore mais tempo a bater, se é que isso alguma vez vá acontecer. Fazendo a analogia que a banda prefere, se «Arrows» fosse uma cerveja, ainda poderia ter algum gás, mas estaria definitivamente quente.