40 Anos de Punk Rock: KILLIMANJARO + STONE DEAD [reportagem]

40 anos do Punk: Killimanjaro + Stone Dead é, provavelmente dos títulos mais enganadores que por aí circulam, e depois do furacão que passou no palco secundário do Theatro de Circo de Braga, assinalar isso é o mínimo a fazer, numa noite que resultou de quatro enganos e produziu uma certeza.

Engano #1: Fala-se de 40 anos, mas na verdade recuou-se até à década de 60, para uma versão furiosa de «Kick Out The Jams» dos MC5. Face à raiva com que cada tema desta actuação era cuspido, bem que poderiam ter ousado vir até um período recente e abordar o pop punk de uns Offspring, ou homenagear uns Tara Perdida/Censurados — por isso, são no mínimo 50 anos de música.

Engano #2: Punk? O termo aqui apenas funcionou de chamariz. Claro que estavam lá os nomes obrigatórios — Ramones, Sex Pistols ou The Clash–, mas também estiveram duas malhas da “maior banda de rock de sempre”, nas palavras de Zé Roberto, a saber, «We Are The Roadcrew» e «Ace Of Spades». Mesmo o tema escolhido para os The Clash, «I Fought The Law», é na realidade um original de Sonny Curtis, próximo de Buddy Holly. E que dizer da fabulosa «TV Eye» dos The Stooges? Chamem-lhe proto-punk, mas nesta noite o palco do Theatro Circo viu mesmo foi rock e do (muito) bom, sem gorduras, osso ou espinhas. Faltaram os Dead Kennedys, os Plasmatics ou os Dictators; os New York Dolls vieram pelo Johnny Thunders e os Devo poderiam ter sido substituídos pelos Stranglers, mas, citando um grupo local, “o que é que isso interessa?“.

Engano #3: A sala, mesmo pintada de negro, pouco tem a ver com um espaço rock. Aqui o mais audaz que se consegue é fazer umas fotos com o telemóvel. Vários elementos dos grupos, em outras tantas ocasiões, tentaram puxar pelo público, que os seguranças impediram de descer, Zé Roberto pediu para todos estarem de pé, “Nenhum de nós está a tocar sentado! Foda-se, juntem-se!“, mas havia seguranças e assistentes a insistirem que se ocupassem os lugares, de pé só nas laterais, logo os pontos mais afastados do palco. Mesmo sabendo como a sala mãe já se deu mal com o mosh, o rock nesta noite andou numa camisa-de-forças e a diversão só estava no palco.

Engano #4: Olhando para o cartaz, surgido em 2017 numa ideia conjunta da Antena 3 e da Lovers & Lollypops, pensa-se que as bandas irão repartir uns temas entre eles e misturar com o seu próprio repertório. Nada mais errado; o que se teve foi algo mais complexo com todos os elementos de ambos os grupos, sim duas baterias, dois baixos e três guitarras, a uma dada altura secundados por Peter, baterista, dos Solar Corona. Aqui e ali um membro saía, mas quase sempre era oferecida uma versão reforçada de um dos grupos, a injectar mais decibéis em temas já por si a abordar a overdose. Killimanjaro & Stone Dead Ensemble era mais justo para todo o esforço aqui reunido.

Uma certeza: No fim, o palco estava claramente massacrado, a adrenalina em alta, o coração cheio de boa música e, por mais uma noite, a BRAGA MUSIC WEEK abanava a letargia musical de Braga. Fabuloso.

Alinhamento: «If The Kids Are United» (Sham 69), «White Riot» (The Clash), «Blitzkrieg Bop» (Ramones), «Viva La Revolution» (The Adicts), «Havana» (Ramones), «Commando» (Ramones), «Teenage Kicks» (The Undertones), «Gut Feeling» (DEVO), «Orgasm Addict» (The Buzzcocks), «Born To Loose» (Johnny Thunders), «Search’N’ Destroy» (The Stooges), «I Fought The Law» (The Clash), «Troco Deus Por Uma Cerveja» (Renegados de Boliqueime), «We Are The Road Crew» (Motorhead), «Ace Of Spades» (Motorhead), «So Lonely» (The Parkinsons), «TV Eye» (The Stooges), «Anarchy In The UK» (Sex Pistols), «Kick Out The Jams» (MC5). Encore: «No Fun» (The Stooges)