AQUELA VERSÃO [#14]: DEEP PURPLE vs. DEEP PURPLE e algo mais

«Hush» foi o primeiro clássico dos DEEP PURPLE. Encontra-se também no seu primeiro álbum, e pertence à MKI, apenas conhecida assim, porque a MKII é a formação clássica do grupo. Confuso? Talvez, mas não tanto como Jon Lord a falar de fantasmas com Hugh Hefner na Mansão Playboy. Comum a tudo isto? «Hush». O primeiro trabalho do grupo de Lord, Paice e Blackmore intitula-se «Shades Of Deep Purple». Formados em 1967, sob a designação ROUNDABOUT, estiveram quase para se chamar CONCRETE GOD, mas foi como DEEP PURPLE que entraram para estúdio para gravar aquele que seria o primeiro álbum. Rod Evans, na voz, e Nick Simper, no baixo, completaram a formação. O single promocional «Hush» conseguiu um quarto lugar no top da Billboard, e providenciou a banda-sonora para uma actuação tão irónica como estranha, com os cinco a glosarem com o playback e um Rod Evans de toalha, frente a uma lareira, contrastando com os outros elementos devidamente agasalhados.

O humor do saudoso Jon Lord prosseguiu mais tarde, quando o grupo foi convidado para actuar na Mansão Playboy, com o próprio Hugh Hefner a entrevistar o músico. Para lá do non sense da curta conversa, de notar a forma como Jon usa o seu Hammond como instrumento de percussão. As cabeleiras e roupas coloridas são, obviamente, um reflexo do ambiente na casa e do final dos anos 60. Na realidade, o tema não era um original da banda, mas a reciclagem de um hit. Escrito por Joe South, a primeira versão do tema aparece em 1967, através de Billy Joe Royal, um cantor country. Seria no ano seguinte que os DEEP PURPLE pegariam no tema, tornando-o num hit do rock. Ainda nesse ano, e antes da banda britânica, já o francês Johnny Hallyday faria uma versão francesa da música, intitulada «Mal».

A popularidade do tema, obrigou a que, por diversas vezes, pegassem nele nas digressões. Acontece que, dois anos depois, já não seria Rod Evans na voz, mas Ian Gillan. Em 1988, o grupo gravaria uma versão ao vivo com Gillan, para a qual produziria um vídeo “so eighties”, em que a componente “ao vivo” é minimizada. Mas o tema acabaria a propagar-se pela árvore genealógica da banda de tal forma que Joe Lynn Turner, outrora vocalista dos RAINBOW, faria a sua própria e desinteressante versão. A faixa ainda marcaria mais um ponto na história dos DEEP PURPLE, quando Quentin Tarantino a escolheria para o filme «Once Upon a Time… In Hollywood». Curiosa, sobretudo pelos envolvidos, seria a all star version, num concerto de homenagem a Jon Lord. São onze minutos com Bruce Dickinson, Bernie Marsden e Rick Wakeman, uma orquestra e os membros da banda na época.

Há ainda outras versões, como a dos GOTTHARD, sem teclas e com guitarras mais pesadas. Ou, graças ao poder do youtube, uma obscura versão dos THIN LIZZY, em que o baixo de Phil Lynnot substitui o teclado de Lord. Trata-se de uma colectânea, «Funky Junction Play a Tribute to Deep Purple», em que músicos dos THIN LIZZY foram convidados a participar, datada de 1973. Os KULA SHAKER fariam também uma versão interessante para o tema. Imensa, não pela qualidade, mas pelo número de intervenientes, é o medley que combina «Hush» e «Sympathy For The Devil», dos THE ROLLING STONES, interpretado pelo colectivo ROCKIN’1000, em 2018. «Hush», um daqueles casos em que ao primeiro single se marca uma carreira, mesmo sendo um percurso com mais de cinco décadas e diversos participantes.