AQUELA VERSÃO #30: ENTOMBED vs. O RESTO DO MUNDO

Dificilmente se poderia definir como um rockstar; era mais um bonacheirão que partilharia uma cerveja no final de um gig com um fã do que um ídolo que encheria um estádio. Apesar disso, são formiguinhas como ele que definem estilos e estabelecem pontes geracionais. Sueco, de origem macedónia, entrou em 1988 nos NIHILIST, banda ruidosa que, para a história, deixou meia dúzia de temas de um death metal seminal. Foi nesse grupo que conheceu personagens como Nicke Andersson, Ulf Cederlund ou Alex Hellid, com quem mais tarde formaria os ENTOMBED. É uma perspectiva, mas olhando para o calendário, Petrov teria 18 anos quando assumiu o lugar de vocalista num dos primeiros nomes do death metal sueco. “Apenas” isso. Já em 2022, os finlandeses TRAMALIZER resolveram fazer uma versão de um tema do grupo, acompanhado por um vídeo de homenagem. Antes disso, já os suecos REPUGNANT, de Tobias Forge, tinham revisitado «Carnal Leftovers», tema por vezes abordado pelos próprios ENTOMBED. Em 1989, os NIHILIST acabariam por mudar de nome, dando assim origem à banda que gravaria «Left Hand Path» ainda nesse ano. Petrov segurou o barco até 2014, quando os habituais atritos internos o levaram a criar os ENTOMBED A.D., com os quais prosseguiria até 2021. Com as duas bandas, acabaria por assinar uma dúzia de álbuns de estúdio. Faria ainda uma perninha no super-grupo FIRESPAWN, ao lado de actuais e ex-membros dos NECROPHOBIC, DEFLESHED, UNLEASHED ou DARK FUNERAL. É, no entanto, o seu percurso com os ENTOMBED que serve para encontrar cinco temas que ajudam a definir o vocalista.

«GOD OF THUNDER»
Estava-se em 1993, e ainda não era cool ver grupos de death metal a lançar versões de glam ou hard rock, quando o single «Out Of Hand» trazia esta versão para um original dos norte-americanos KISS. As linhas vocais de Petrov conseguem a força que Gene Simmons não conseguiu ter no original. Um daqueles exemplos em que a versão pode ser melhor que o original. Não seria a única vez que ENTOMBED viria a sair da caixa. São quase três dezenas de versões ao longo da carreira. Das óbvias dos BLACK SABBATH ou KING DIAMOND aos MISFITS, HUSKER DÜ e outras, há um pouco te tudo para todos os gostos.

«BLACK DWARF»
Uma homenagem a compatriotas, também seminais no seu estilo – CANDLEMASS, grupo sueco que colocou o doom no mapa em território europeu. Naturalmente que o original está longe dos clássicos da banda de Leif Edling, mas a versão dos ENTOMBED coloca o tema no campo do thrash, soando bem mais à-vontade no catálogo destes que no repertório dos doomsters. É também uma boa forma de apreciar as capacidades vocais de Petrov, que iam para lá do mero gutural.

«THE BALLAD OF HOLLIS BROWN»
Dylan não merecia isto, claramente. Quando o cantor norte-americano pegou num tema tradicional e resolveu tomá-lo como seu, estaria longe de pensar que, décadas mais tarde, um grupo de death metal sueco viria a usar a delicadeza do poema para criar uma avalanche sonora capaz de deixar boquiaberta qualquer banda extrema que se preze desse título. Uma daquelas versões que pegam no original, estripam-no sem cuidado e penduram-no num disco, com um sorriso pelo trabalho realizado. Como se não bastasse, a canção que surgiu várias vezes na discografia da banda, integraria «Sons Of Satan Praise The Lord», dupla compilação em que o grupo guardou muitas das versões realizadas ao longo dos anos. Um clássico para quem gosta de reunir subversões musicais e também uma delícia para perceber a versatilidade dessa jukebox que os ENTOMBED também souberam ser.

«ONE TRACK MIND»
Não é uma versão brilhante, mas simboliza muito aquilo em que os ENTOMBED se transformariam na recta final, uma espécie de MOTÖRHEAD do death metal. Como muitos outros grupos, souberam explorar a fórmula do rock’n’roll negro, oleado com massa consistente e capaz de percorrer quilómetros a triturar cérebros. Um bom DJ, num final de noite, certamente saberá misturar RAMONES,MOTÖRHEAD e ENTOMBED, num ritmo tão ácido como tonitruante, capaz de espremer as últimas energias de corpos comatosos. Mesmo assim, a versão consegue pegar num tema mais lento e bluesy de Lemmy e injectar-lhe a testosterona necessária para ser rock’n’roll.

«NIGHT OF THE VAMPIRE»
Para muitos canais de TV este era o único vídeo-clip dos ENTOMBED. Mesmo não o sendo, certamente é não só um clássico dos anos 90, como O vídeo que muito grupo de black metal gostaria de ter gravado. Ainda por cima, esta versão, que aparece originalmente num split com os NEW BOMB TURKS, em 1995, merecia ter sido interpretada pelos TYPE O NEGATIVE. Novamente, a versão original de Roky Erickson é completamente distorcido até encaixar no formato dos suecos. Tornar-se-ia um tema obrigatório e omnipresente no setlist de qualquer concerto dos ENTOMBED. A imagem de Petrov, em tronco nu, dentro de um cemitério, no meio da neve, é algo que merece figurar na imagética do death e black europeu.