AQUELA VERSÃO #34: LED ZEPPELIN vs. WILLIE DIXON

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Jimmy Page, pode estar no topo dos virtuosos, mas nunca conseguiu o título de ‘riff master’ de um Tony Iommi. Se calhar, a forma como ambos cresceram musicalmente pode explicar muito disso. Enquanto Iommi era o trabalhador que, ao fim de semana, tocava em bandas de bares, Page foi, desde bem cedo, algo entre o ghost musician e o guitar session guy. São, de resto, inúmeras as gravações em que ele, tal como John Paul Jones, operaram como músicos de sessão. Mesmo a entrada de Page para os THE YARDBIRDS foi um pouco como músico de substituição, de um grupo em queda quase vertical. Foi também por isso que Page e Peter Grant ficaram com contratos para concertos na mão e sem banda. A urgência de cumprir contratos levou à procura de elementos e à formação do grupo denominado THE NEW YARDBIRDS. Seria este o nome que originalmente seria usado para lançar o primeiro disco do grupo até Chris Dreja, membro dos THE YARDBIRDS, não o permitir. A designação mudaria rapidamente para LED ZEPPELIN e o resto é história.

A pressa de edição, levou a que quatro dos nove temas, incluídos no disco fossem clássicos reciclados, mesmo que do original ficasse apenas um riff, ou parte de uma letra. «Babe I’m Gonna Leave You» foi originalmente composto por Anne Bredon nos anos 50. «You Shook Me» é um tema de blues com letra de Willie Dixon, que até tinha sido aproveitada por Jeff Beck, amigo de Page e também presente nos THE YARDBIRDS. A versão do também guitarrista surge em 1968, no álbum «Truth». Já «Dazed And Confused» foi escrita e registada por Jake Holmes em 1967. Também este era um tema usado pelos THE YARDBIRDS, em 68, que recebeu um arranjo especial de Page, incluindo o mítico arco de violino que se tornaria trademark do guitarrista, entre outras. O solo seria mesmo reciclado pelo próprio Page no tema «Think About It», dos próprios THE YARDBIRDS. Naturalmente que Page merece todo o crédito pela forma como foi reformulando o tema ao longo dos anos, incorporando mesmo trechos de músicas de autores como Joni Mitchell e Scott McKenzie.

A reciclagem prosseguiu no lado B do vinil, com «Black Mountain Side», baseado num tema acústico, instrumental de Bert Jansch, para um original folk de título, «Black Water Side». Também aqui, o guitarrista se socorria de um tema do repertório da sua anterior banda, onde surgia num medley com o tema «White Summer». Por fim, a versão mais famosa do disco seria «I Can’t Quit You Baby», um clássico de Willie Dixon. Este seria um dos temas que percorreria a carreira do grupo e seria mesmo repescado quando Plant e Page se reuniram no final dos anos 90. Quase metade de «Led Zeppelin», um álbum que seria fundamental nos anos seguintes, acabava por ser a transformação de velhos temas, ou temas de um reportório que não podia ser executado com o nome THE YARDBIRDS ou THE NEW YARDBIRDS. Claro que o embrulhar e dar de novo sempre foi algo que viria a percorrer a indústria musical. Se os LED ZEPPELIN o fizeram, depois sofreram da mesma sorte, fosse com os KINGDOM COME ou, mais recentemente, com os GRETA VAN FLEET, entre outros.

No entanto, reciclar é algo que ainda hoje se sente nas múltiplas edições em que também os LED ZEPPELIN souberam ser precursores, como no caso dos boxsets com múltiplos formatos hoje tão popularizados. Mais recente ainda, é a edição de vinil em exclusivo para uma cadeia de hipermercados norte-americanos que se está a revelar a alegria de flippers à volta do globo. A edição de 2022 do «I», edição Wallmart, já vale mais do dobro fora do mercado norte-americano. No álbum seguinte, «II», também de 1969, já “apenas” três dos nove temas teriam outros nomes creditados que não os dos quatro elementos do grupo. Curiosamente, ou não, Willie Dixon voltaria a ser a referência para dois deles, «Whole Lotta Love» e «Bring It On Home». Afinal, talvez 69 não tenha sido o ano dos LED ZEPPELIN, mas sim de Led Dixon.