AQUELA VERSÃO #49: “It’s a long way to the top (if you wanna rock and roll)”

Neste Verão de todos os concertos, os adiamentos e cancelamentos têm vindo em catadupa. Os WHITESNAKE cancelaram uma digressão por doença. Os LIMP BIZKIT também, sabe-se lá porquê. GUNS N’ ROSES, IGGY POP e vários outros tiveram de cancelar datas, também por doença. Do outro lado do oceano, Tommy Lee atirava costelas, “ribs” como chamam por lá, ao público, para recordar ter partido as costelas. Ao mesmo tempo, o guitarrista Tracii Guns tocava dentro de um WC, com a restante banda em palco, por estar a sofrer de um ataque de pânico. Eddie Veder, cancelou uma data na Áustria, por ter inalado demasiado fumo em França. Estranhos tempos estes, naquilo que alguns tentam dizer ser o novo normal. Talvez seja o momento de recordar que é um caminho longo para o topo no mundo do rock’n’roll. Ou algo assim, como dizem os AC/DC no seu clássico «It’s A Long Way To The Top (If You Wanna Rock ‘N’ Roll)». Um dos primeiros hits do grupo, e um dos temas que melhor traduz aquilo que era Bon Scott quando substituía a caneca de cerveja por um microfone. Lançada em 1975, ajudou a internacionalizar o grupo. Há nela, uma lição para os puristas. Todos aqueles que estão presos aos standards, agrilhoados aos formatos e que amaldiçoam os experimentalismos fariam bem em recordar este tema. Pois em 75, quando ainda eram uma jovem banda a querer testar terreno, os AC/DC escreveram uma música em que incluíam uma gaita de foles. Décadas antes dos KORN, já os irmãos Young e companhia usavam sopros na sua música.

Essa parte da história deve-se ao produtor George Young, irmão mais velho de Angus e Malcolm. Quando descobriu que Bon Scott tinha integrado um grupo de gaitas de foles, resolveu que o repetisse no tema. O único problema, é que no referido grupo, Bon era o baterista. Claro que nos anos 70, a alternativa era deitar mãos à obra para arranjar soluções em lugar de criar barreiras. E assim, Scott aprendeu rapidamente a usar a gaita de foles. Existem vários vídeos da sua interpretação do tema, como em 1976 na TV Australiana. Mais interessante, e num gesto ocasionalmente repetido por bandas para vídeos, é o vídeo-clip promocional em que o grupo segue por Swanston Street, uma das principais ruas de Melbourne, na Austrália. Em memória do icónico vídeo, uma rua próxima, foi mesmo renomeada em homenagem ao grupo. Os também australianos AIRBOURNE inspiraram-se no vídeo para gravarem «Runnin’ Wild», em que seguem dentro de um camião, nas ruas de Los Angeles, com Lemmy ao volante. O próprio Lemmy juntar-se-ia aos AC/DC para interpretar o tema original, diga-se. Também o faria numa versão com os seus MOTÖRHEAD, dando protagonismo ao baixo.

Boas bandas de tributo ainda permanecem fieis ao uso da gaita de foles no tema, recordando a singularidade do mesmo. Isto apesar da dificuldade do tema ao vivo, pois existe a necessidade de afinar as guitarras para estarem no mesmo tom da frequência da gaita de foles. Até o próprio Bon Scott tinha problemas com o tema, não pela componente vocal, mas porque o uso da gaita roubava fôlego para depois continuar com a energia que se lhe reconhecia em palco. Foi mesmo essa a principal razão para que o tema, com o passar dos anos, deixasse de ser executado com gaita de foles. Com o seu falecimento, veio um novo vocalista, Brian Johnson. Este, raras vezes canta o tema, por achar que o mesmo é marca de Scott. Naturalmente que a canção se tornou uma expressão aq que vulgarmente se recorre, tal como a «Highway To Hell», também dos AC/DC, ou a «Stairway To Heaven», dos LED ZEPPELIN. Muitos grupos usaram-na para tentar esse mesmo caminho para o topo, como o caso dos glamsters FEMME FATALE, em 1988. Outros, usaram-na a meio da carreira, como que reflectindo sobre o percurso, caso dos W.A.S.P. ou ICED EARTH. Estes últimos, em «Tribute To The Gods», de 2002. Mais interessantes, e completamente diferentes, são as versões fora da caixa de nomes menos esperados. Um deles o crooner Pat Boone, numa incursão por versões de metal, no álbum de 1997 «In A Metal Mood – No More Mr. Nice Guy». O cantor faz uma versão jazzy, para big band, com o tema, que resulta inusitada. Também fora da caixa, mas até normal, temos a dos DIE KRUPPS. Interessante, bem articulada, mas com a abordagem expectável para um grupo associado ao industrial. Dentro das novas promessas e bandas de nova geração, os THE IRON CROSS resolveram também abordar o tema, mas claramente num registo em que falta adrenalina e testosterona.

Em 2003, Jack Black surgia com uma comédia musical que se tornaria um recente clássico no género. Intitulada “School Of Rock”, relatava as experiências de um professor substituto que tornava num projecto pessoal levar uma turma a actuar. No clímax final, o tema escolhido era exactamente «It’s A Long Way To The Top (If You Wanna Rock’n’Roll)», catapultando o mesmo, de novo, para os tops. O tema era o encore no concerto do grupo escolar, servindo como coroar do sucesso dos alunos, na Battle Of Bands em que participavam. Servia também para conclusão do filme, de forma brilhante. O sucesso da abordagem, e do filme, foram de tal forma que, anos mais tarde, numa reunião de casting, todos voltariam a interpretar o tema. Por tudo isto, e em particular neste Verão, venham as mudanças e cancelamentos que vierem, convém que fãs, promotores e músicos se recordem que… It’s A Long Way To The Top (If You Wanna Rock ‘N’ Roll)!