Para a Rolling Stone, «Sweet Dreams (Are Made of This)», dos Eurythmics, é uma das melhores 500 canções de sempre. Para Marilyn Manson foi um bom tema para uma trip de ácido. E nada melhor que estas duas perspectivas para falar daquele que é o melhor tema dos britânicos, e um dos singles chave da carreira de Manson. Basta ver o vídeo promocional do duo britânico, perceber todo o positivismo de Annie Lennox. A forma como canta enquanto se vêem imagens de tecnologia. Uma crítica velada a uma sociedade capitalista, em que uns “usam” e outros querem ser “usados”, ou “abusados”. Mensagem positiva, com ligeira crítica, mas que facilmente obteria uma aprovação do conservador mais empedernido. Um mundo rosa, como só os anos 80 poderiam pintar.
Manson, que na sua autobiografia revelou ter efectivamente reinterpretado o tema durante uma viagem de ácido, canta de novo, mas nos seus lábios há uma sexualidade que a androgenia de Annie Lennox nunca conseguiria expor. Manson baixa o ritmo do tema, apresenta-se num vídeo distorcido, com uma estética desde logo marginal. Transfigura-se de noiva, que faz headbanging enquanto instrumentos são destruídos. Pequenas explosões sonoras tornam o tema ainda mais histriónico. Quadros vão seguindo, quase sempre numa casa abandonada e semidestruída. A esperança de Lennox transmuta-se em desespero com Manson. E a um dado momento nem sabemos já se ele é vítima ou abusador. Annie Lennox fala da condição humana, do problema existencial. Manson apela ao lado negro no interior de cada um.
O positivismo de “Hold your head up, keep your head up, movin’ on”, praticamente é excluído e “Some of them want to use you” salta para primeiro plano. Dave Stewart admitiu gostar da versão, ao mesmo tempo que achou o vídeo do mais assustador que tinha visto. De facto, em 2013 ficou numa lista, da Billboard, dos quinze vídeos mais assustadores, conseguindo o terceiro lugar, atrás de «Thriller» e de «Come To Daddy», este de APHEX TWIN. Os registos apontam para mais de centena e meia de versões, mas apenas Manson conseguiu marcar a diferença e rivalizar em popularidade com o original. Se para os EURYTHMICS foi o seu maior hit, para Manson, foi o primeiro, preparando terreno para «Antichrist Superstar», de 1996. As outras versões simplesmente não conseguiram fazer história. Manson sugou o espaço, como buraco negro.