AQUELA VERSÃO [#6]: «Here Comes The Sun», GHOST vs. THE BEATLES e algo mais

GHOST. THE BEATLES. Pouco terão em comum; ou muito, dirão os haters habituados a odiar a popularidade. «Here Comes The Sun», lembrarão os fãs. Pois, os GHOST, essa banda de covers. A letra é de George Harrison, celebra o regresso da Primavera após um longo Inverno. Musicalmente há uma mistura de pop com folk. Verdade seja dita, não há nada de especial neste tema de 1969, apenas daqueles refrões que irritantemente se colam no ouvido, como pastilha elástica à sola de sapato. Versões? São mais de trezentas, fora as instrumentais. Mark Reale e os seus RIOT fizeram-na em acústico, como bónus para o álbum «Through the Storm», de 2002. Perry Farrell interpretou-a numa noite de homenagem a George Harrison, em 2014. Agora, a versão que justifica este texto, esse é praticamente dos GHOST. Praticamente, porque há aquele toque de vídeo que acentua a subversão.

O ano é 2010. O disco, intitula-se «Opus Eponymous» e marca a estreia do grupo liderado por Tobias Forge, ainda na sua primeira versão Papa Emeritus. O tema, inicialmente, aparece só na versão japonesa, mas rapidamente se torna um sucesso e praticamente obrigatório em todos os concertos. O lado pop ganha uma toada mais pesada, quase doom. As teclas conferem um espírito de space rock. Sem retirar a “cola” do tema, Tobias consegue tornar a canção capaz de chegar a audiências mais pesadas. Tudo resulta bem, ou quase, até chegar um fã, misturar um filme de Kenneth Anger, «Lucifer’s Rising», e subverter tudo. De repente passa a falar-se de mortos-vivos, antigo Egipto e satanismo, com vulcões à mistura e invocações satânicas. É ver. O filme, já de si maldito, mereceu banda-sonora de Jimmy Page, ou melhor, tentou.

Rodada em 1972, a curta-metragem só veio a ser exibida em 1980, quando finalmente teve a sua banda-sonora concluída. Tentativa de homenagem a Aleister Crowley, surgido da contracultura inglesa de finais da década de 60. Só com Page, é que realmente Anger pôde ter uma banda sonora à altura. As relações entre ambos deterioram-se, e a obra de Page apenas foi publicada em 2012, «Lucifer Rising And Other Sound Tracks». Controvérsias à parte, a escolha de excertos do filme, resultou perfeitamente no tema e redirecionou o sentido da letra para um campo para o qual não tinha sido imaginada, transfigurando-a. O resultado está de tal forma acima das expectativas que, recentemente, outro fã voltou a realizar um vídeo promocional, recorrendo a imagens clássicas de filmes de terror. Uma coisa é certa: depois dos GHOST, a letra de George Harrison nunca mais soará da mesma forma.