BE WELL: «Hello Sun» | End Hits, 2022 [review]

Costuma-se dizer que a música tem efeitos terapêuticos, não só para o ouvinte, mas principalmente para quem a compõe e interpreta. Há um quebrar de barreiras emocionais e, de alguma forma, encontram-se maneiras de mandar cá para fora aquilo que dificilmente sairia de outro modo. Para vos dar um pouco de contexto, os BE WELL são a banda de Brian McTernan, que nos anos noventa foi frontman dos BATTERY, mas que, mais importante que isso, se tornou num dos mais influentes produtores (TEXAS IS THE REASON, HOT WATER MUSIC, STRIKE ANYWHERE, TURNSTILE) desde o final dos 90s até inicio deste século, quando a depressão o fez desistir de tudo o que estivesse relacionado com música. Tentou ser “uma pessoa normal”, com “um emprego normal”. Felizmente, isso não durou para sempre e o chamamento da sua verdadeira paixão (a música) falou mais alto.  Em 2020, os BE WELL editaram um dos melhores discos do ano, intitulado «The Weight And The Cost», que foi recebido de braços abertos — não só pela comunidade punk/hardcore, mas pela crítica em geral. É seguro dizer que este ressurgimento que o hardcore melódico está a ter nos últimos tempos também se deve muito aos BE WELL

A frustração de ter um disco novo, mas de não o poder levar para a estrada devido às restrições pandémicas mundiais foi canalizada para a composição de mais material. E, ainda bem que assim foi…  «Hello Sun» é um EP com seis faixas de uma banda que já conquistou o seu espaço e tem a sua identidade bem definida. A faceta mais melódica acaba por ser mais explorada aqui, mas a mescla entre músicas rápidas e “baladas” é equilibrada. Para quem ainda não escutou o excelente primeiro disco, o que aqui temos é hardcore melódico na sua versão mais pura. As guitarras melódicas complementam os riffs rápidos que encaixam na perfeição nas vozes de Brian, que canalizam toda a emoção e desespero, muitas vezes com a voz prestes a falhar e isso funciona na perfeição. «Treadless» inicia o disco com uma energia que culmina com o refrão onde nos pede: “help me find myself”. A segunda malha , «I Will Leave You With This», funciona em modo “balada”, mas não de uma maneira chata ou aborrecida, pois a maneira como cresce para o refrão dá para prever salas cheias a cantar em uníssono com a mesma emoção de Brian. «Only One Wish», a mais curta do EP, pisca o olho aos BATTERY, a antiga banda do vocalista, especialmente no riff rápido do verso.  A par dos COMEBACK KID e IGNITE, os BE WELL — que têm membros dos DARKEST HOUR e BANE na formação — são mais um dos nomes fortes do momento. Mais uma mão cheia de músicas e tínhamos aqui um sério candidato a disco do ano. Não sendo, é um excelente EP, que deixa antever coisas boas no horizonte, especialmente ver todas estas músicas ao vivo e cantar até a voz nos falhar, como de certeza que vai acontecer com o Brian. [8]