BEHEMOTH: «Opvs Contra Natvram» | Nuclear Blast, 2022 [review]

É curioso pensarmos em bandas como os BEHEMOTH, que chegam a uma altura da sua carreira na qual já têm mais tempo para trás do que aquele que ainda está à sua frente. E que chegando a esse estágio, há uma linha cronológica que parece ser quase sempre comum – o início no underground com uma sonoridade mais primitiva e crua; a mudança para algo que se revelou excitante para chegar a um público maior; e o seguir desse caminho até o passado ficar demasiado longínquo, acabando por se encerrarem numa espécie de zona de conforto. Nessa fase, a imagem (ou outros detalhes/acontecimentos) até se torna mais revelante do que a música em si, o que acaba por denotar um certo cansaço da fórmula estabelecida, levando a querer furar fronteiras de maneira forçada, não sendo essa diferença muitas vezes bem acolhida por público/fãs e/ou crítica – mas sobretudo público… até que há, nos melhores casos pelo menos, um regresso à boa e velha zona de conforto.

E resumidamente (e de forma simplória, admitimos), é este o percurso que nos leva a «Opvs Contra Natvram», um álbum que, naturalmente, reúne expectativas e antecipação. Depois de um divisivo «I Loved You At Your Darkest», o 12.º álbum da banda polaca vê o regressar a terrenos mais familiares, tanto para si como para os seus seguidores. E se não temos forma de saber se é um passo calculado, mesmo admitindo que o anterior foi em falso (nem interessa para o caso), a verdade é que este é um álbum bem mais inspirado, seja qual for a forma. E mantém intactas as ambiências que ajudam também a estabelecer o impacto cénico das actuações ao vivo – que é o que mais interessa nesta altura – indo até ir buscar algumas referências aos Nile nas suas intros/interlúdios que soam muito bem.

O black/death metal (ou death/black metal, conforme preferirem) actual dos Behemoth surge então inspirado e mais conciliador do que nos dois últimos trabalhos. E sim, podemos encarar isso como um passo atrás. Ou ao lado, mas a verdade é que a banda soa com uma vitalidade que por esta altura já não se esperava, compensando em força e poder aquilo que não conseguem apresentar em surpresa – afinal, são indiscutivelmente terrenos já trilhados que atravessam aqui. É também um álbum que não se dá muitas certezas em relação ao futuro. Tanto poderão explorar para além das fronteiras que grande parte da sua discografia nas últimas duas décadas estabelece, como poderão ficar para sempre nesta zona de conforto que parece ser a preferida de todos. Vivendo o presente, e perante todas as queixas que surgem cada vez que uma banda ousa sair do underground sem pedir licença a alguns fãs, o que fica é que este é o melhor momento da banda desde há algum tempo. [8.5]