BLACK SABBATH: «Master Of Reality», a cartilha do metal feito com riffs de excelência

Os três anos seguintes, voaram numa tempestade de drogas, cocaína, álcool, sexo e da melhor música que alguém nos Black Sabbath alguma vez fez”. É assim que Mick Wall, na sua biografia da banda de Birmingham, inicia o capítulo em que fala de «Master Of Reality». Apenas depois, explica que Geezer Buttler necessitou de afinar o seu instrumento em tons mais baixos, para assim acompanhar Tony Iommi. Este, devido ao problema com os dedos, fora já obrigado a isso, nos discos anteriores. Já não eram a banda de pacóvios da província, mas um grupo em ascensão, com dois discos muito bem-sucedidos e inúmeras digressões, continuamente na estrada. Rockstars por direito próprio, vivendo no excesso pelo hedonismo, mas também pela ignorância. O arranque com «Sweet Leaf», introduzido por uma tosse sarcástica, não deixa muito espaço à imaginação. Hoje, ninguém do grupo consegue ter memória do que se passou durante a fase de gravação, o que atesta os níveis de “inspiração” na época. Com «Master of Reality», não se escrevia apenas um pilar do heavy metal, mas fundavam-se dois ou três estilos musicais. Afinal, sem «Lord Of This World», ou «Into The Void», como poderia existir o grunge, sludge ou stoner? E sem «Solitude», como é que os CANDLEMASS teriam recriado o doom nos anos 80 com… «Solitude»?

Para lá da composição, também instrumentalmente o disco é impressionante, seja nos dois curtos instrumentais, «Embryo» e «Orchid», que também inspirariam muito nome posterior, como na bateria de «Sweet Leaf», ou na abordagem intensa de psych rock que é «After Forever» ou nos riffs de «Children Of The Grave». Tal como antes, a versão norte-americana surgiu com mais títulos, na realidade, as mesmas faixas, apenas divididas em partes, devido à sua duração. «The Elegy» e «Step Up», são apenas faixas “para americano ver”. No top britânico, o disco estrearia no número cinco da tabela de vendas, ficando em oitavo do lado do Atlântico. Aqui temos um registo que influenciaria gerações. Uma banda roubou mesmo o título para si, e são inúmeras as versões que referenciam o disco. Em Portugal, ninguém se esquecerá aquela noite em 1994, em que no meio do caos de um normal concerto dos PANTERA, os quatro se chegam à boca de palco, sentam e, após Phil Anselmo sugar uma boa dose de inspiração, partem para uma rendição de «Sweet Leaf», numa das melhores safras que se viram em palcos nacionais. Em finais de 1971, pouco disso se adivinhava e o sucesso já não interessava. O louco comboio tinha partido da estação e no final do ano, pela primeira vez, cancelavam uma digressão, pois todos estavam doentes. Sem saberem, «Snowblind» começava a escrever-se.