BLIND GUARDIAN: “Não podemos incluir tudo o que os fãs querem nos alinhamentos” [entrevista exclusiva]

Depois de algumas “pistas”, nomeadamente a divulgação de três singles inéditos – «Secrets Of The American Gods», «Deliver Us From Evil» e «Blood Of The Elves» –, os reis do power metal germânico BLIND GUARDIAN anunciaram finalmente todos os detalhes acerca do seu muito aguardado novo álbum de estúdio no passado mês de Maio. «The God Machine», o sucessor de «Legacy Of The Dark Lands», foi gravado nos Twilight Hall Studios entre Março de 2020 e Março de 2021, e será editado a 2 de Setembro através da Nuclear Blast, com Hansi Kürsch, o vocalista do grupo, a garantir que o disco vai ser “o mais intenso” que fizeram “em muito, muito tempo”. Pois bem, antes ainda de libertar a novidade no mundo, a banda vai assinar uma sequência de actuações durante o Verão que, já no próximo fim-de-semana os vê a actuarem como cabeças-de-cartaz no Z! Live Rock, em Zamora, Espanha. A LOUD! está associada ao evento e aproveitou o momento para conversar com Kürsch.

Já lançaram três singles e têm um disco novo anunciado para Setembro. Já vão tocar temas novos nestes concertos que se avizinham ou vão manter a celebração de três décadas do «Somewhere Far Beyond»?
O alinhamento vai mais nessa última direcção. Foi o que prepáramos e a intenção inicial destes espectáculos sempre foi essa. Vamos fazerum set muito tradicional dos Blind Guardian, naturalmente mais focado no «Somewhere Far Beyond». Vamos tocar apenas um novo tema, como teaser. Este ano e o período pandémico foram dedicados às três décadas desse disco, portanto esse será a direcção de todos os concertos que fizemos em 2022.

Tendo em conta a quantidade de temas e álbuns que têm no vosso fundo de catálogo, o que é hoje em dia um set tradicional dos Blind Guardian?
É óbvio quenão podemos incluir tudo o que os fãs querem nos alinhamentos e, além disso, na maior parte dos concertos deste Verão apenas vamos ter noventa minutos para tocar, por isso vamos centrar-nos no «Somewhere Far Beyond» e talvez um pouco também no «Nightfall In Middle-Earth». Será material clássico, isso é certo. Este ano o que será mais negligenciado é o «Imaginations From The Other Side», porque o tocámos um par de vezes há cerca de cinco anos. Queremos ter algo que encaixe e, neste contexto, era uma decisão lógica abordar o «Nightfall In Middle-Earth» e, claro, que temas como «Valhalla», que não deixarão de ter o seu espaço no alinhamento.

Além de terem gravado o novo álbum, vomo usaram os dois anos de confinamento?Como todos os artistas, ficámos escravos da situação. Podíamos ficar a lamentar-nos ou tornar-nos criativos, e optámos por usar o nosso tempo da forma mais criativa possível. Para nossa sorte, no início de 2020, já estávamos no processo de começar a produção do «God Machine», por isso, para nós, a pandemia acabou por não interferir demasiado com os nossos planos. A maior parte do tempo foi usado a escrever o disco e a trabalhar na produção. Se tivesse acontecido durante uma digressão, teria sido bem mais dramático. Como temos o nosso próprio estúdio, não estivemos restringidos e, tecnicamente, pudemos fazer o que queríamos e prosseguir com as gravações como estava planeado. Durante o último ano, já marcámos alguns concertos, mas acabaram por ser para agora. Nesse campo, foi um período crítico para nós, e não queria voltar a passar novamente por algo assim. Apesar disso, com as hipóteses que tínhamos, não posso dizer que tenhamos sido muito afectados.

Nem nas datas de edição, com uma distância tão grande entre o primeiro single e o lançamento do álbum?
Não posso negar que isso foi uma consequência directa da pandemia, e algo que me deixou transtornado. Em termos de gravação, conseguimos terminar o disco em Março de 2021. Fizemos as misturas e a masterização, sendo que em Agosto desse ano estava tudo pronto. Desde aí, estamos à espera que seja editado. A razão do atraso deve-se ao largo período de espera que as editoras têm de enfrentar para ter a edição do vinil do seu lado. A falta de vinil e a escassez de fábricas é a razão pela qual a Nuclear Blast não encontrou uma data mais cedo para editar. Podíamos ter dividido o lançamento em fases, primeiro a versão digital, dois meses depois o CD e, após uns seis meses, finalmente o vinil, mas essa hipótese não nos agradou. Aceitámos ter de viver com esse tempo de espera.

E como lidaram com mais essa frustração?
Não havia grande coisa a fazer e, na verdade, permitiu-nos pensarmos numa forma diferente de promover o disco. Geralmente, sai um single imediatamente antes da edição do álbum… Desta vez, planeámos picar as pessoas com músicas, enquanto esperávamos. Até agora lançamos três singles e vai sair ainda mais um, algures em Julho. Para música complexa como a dos Blind Guardian, penso que é uma mais-valia, porque as pessoas têm mais tempo para se irem habituando aos novos temas. Com um álbum inteiro é demasiada informação de uma só vez. Os singles vão funcionar como pilares, nos quais o disco vai assentar. Acho que as pessoas vão estar mais preparadas para o receber. A primeira experiência de audição será mais fácil para todos. Nesse sentido, tornámos aquilo que era uma desvantagem numa vantagem.

Há uma mudança no estilo de ilustração da capa.
Não é propriamente uma mudança, as capas dos singles estão dentro do nosso estilo. Procurámos o artista definitivo para o nosso trabalho e encontramo-lo na pessoa do Peter Mohrbacher, que é o perfeito para o campo da fantasia. Dissemos-lhe como queríamos que fizesse a capa e, inicialmente, o trabalho dele seria usado apenas na edição especial, mas gostámos tanto do resultado que resolvemos usá-lo em mais versões.

Ao ler o título do single «Secrets Of The American Gods», e depois o do álbum, pensei de imediato no autor Neil Gaiman.
Sim, essa é a ligação. Fiquei muito entusiasmado quando li o “American Gods”. Tiro as minhas inspirações mais de livros que de filmes, para ser muito sincero, e a atmosfera desse livro é muito interessante, com aquele lado bem dark. A cena mais engenhosa do Gaiman é colocar deuses do antigo mundo numa terra nova, no estrangeiro, onde perdiam a importância. Ao mesmo tempo, são tantos deuses diferentes e muito poucos crentes, por estarem fora das suas terras. Gostei da ideia dos deuses incarnarem numa terra onde não pertenciam, destinados a viver para sempre por lá, na sua imortalidade. Criei a minha própria visão de tudo isso. Imaginei Jesus Cristo a chegar pela primeira vez à Terra Prometida e a ser observado por deuses como o Odin.

A Z! Live Homecoming Party “Toro On The Rocks”acontece no dia 9 de Junho no município de El Toro, com um cartaz formado pelos DESTRUCTION, GRAVE DIGGER e os vencedores do concurso de bandas Z! 2021, ANTECESOR e ATOMIC MEGALODON. Nos dias 10 e 11 de Junho, já em Zamora, realiza-se então mais uma edição do Z! LIVE ROCK que, para além dos BLIND GUARDIAN e LACUNA COIL, conta também com nomes como BEAST IN BLACK, KORPIKLAANI, MOONSPELL e REVOLUTION WITHIN. Estarão também presentes diversas bandas espanholas, como é o caso dos AVALANCH, EL ALTAR DEL HOLOCAUSTO e BLOODHUNTER, entre muitas outras. A localidade de Zamora fica perto da fronteira portuguesa, a cerca de uma hora de viagem de Bragança e a três horas da cidade do Porto. As entradas adquiridas no passado, para as edições adiadas por causa da pandemia são válidas para a edição este ano. Além disso, há entradas estão disponíveis no site oficial do festival.