CANNIBAL CORPSE: «Violence Unimagined» [review]

«Red Before Black», de 2017, mostrou uma banda mais musical, dinâmica e inventiva. Foi a pedrada que se exigia no charco ensanguentado dos CANNIBAL CORPSE: menos caótico e complexo, sem receio de injectar mais melodia. Resultado: melhores canções. Pois bem, «Violence Unimagined», o 15.º longa-duração destas verdadeiras lendas vivas do death metal, parte exactamente de onde o antecessor ficou, elevando a fasquia em termos de complexidade. A esse nível o destaque maior vai para Paul Mazurkiewicz, que volta a subir a um patamar de intensidade que não antes lhe ouvíramos, contribuindo sobremaneira para a variedade rítmica do disco. Uma diversidade que se manifesta do primeiro ao último segundo, algo que não se pode dizer da maioria dos álbuns da banda.

Da chacina providenciada em «Murderous Rampage» e «Necrogenic Ressurection», passando pelo clássico instantâneo que é «Inhuman Harvest», uma espécie de «Hammer Smashed Face» do século XXI, até aos ganchos da fabulosa «Condemnation Contagion», cheia de groove thrash que descamba num dos riffs mais melódicos e cativantes do disco, com Corpsegrinder a vociferar “Is this the end of all that we know?”, «Violence Unimagined» exibe um arsenal de ideias que a maior parte das bandas do género não têm ao segundo longa-duração, quanto mais ao 15.º. Por falar no homem do pescoço mais famoso do metal, é imperativo referir que assina uma prestação colossal, como sempre, porém perceptível e expressiva, como nunca. A primeira metade do álbum fecha numa onda nostálgica, graças ao balanço de «Surround, Kill, Devour», que tem um refrão onde o gutural do Chris Barnes de antigamente encaixaria que nem uma luva.

A esta capacidade de reinvenção não será alheio Erik Rutan, agora não apenas como produtor, mas também como guitarrista, no lugar do igualmente talentoso Pat O’Brien. Há algo de fresco neste «Violence Unimagined» e não é só o estilo característico de Rutan nos tresloucados solos de guitarra. A sua integração foi além, cabendo-lhe a composição de três canções completas, que este vosso escriba, correndo o risco de se espalhar ao comprido, ousa tentar adivinhar: as melodias obscuras, quase dissonantes, de «Ritual Annihilation»; «Bound And Burned», com o seu travo a MONSTROSITY, e a mini-descarga que é «Overtorture», que tresanda aos velhinhos RIPPING CORPSE.[NR: duas em três, não está mal! – J.C.S.]

Coincidências? Talvez. É possível que nenhuma destas malhas tenha sido escrita pelo mais recente elemento da banda, mas, se assim for, o devaneio servirá pelo menos para comprovar duas ideias: a pluralidade de estilos presentes neste registo, e a forma natural como Rutan se adaptou à banda, o que não será de estranhar dada a ligação umbilical entre as partes, nos últimos quinze anos. É preciso recuar à década de 90 para nos lembrarmos de dois discos consecutivos dos CANNIBAL CORPSE de calibre tão elevado, mas o que mais impressiona é perceber como voltou a ser fácil digeri-los, tendo em conta que nunca soaram tão pesados como soam hoje em dia. [9] Podes ficar a saber ainda mais acerca do novo álbum das lendas do death metal na edição de Abril da LOUD!, já disponível nas bancas e aqui.

Metal Blade, 2021