COM VIDA 20 | #03: KRYPTO [Porto]

A proposta de hoje enquadra-se mais no campo do rock, fugindo do metal mais extremo das anteriores. Em 2018, um dos nomes sensação na cidade do Porto eram os GREENGO, praticantes um stoner/sludge bem sujo, a cargo de Chaka e Martelo, bateria e guitarra, respectivamente. Quando tudo apontava para um segundo disco da dupla, estes juntam-se a um dos maiores frontman da cena portuense, Gon, dos ZEN e PLUS ULTRA, e criam um novo projecto; estes KRYPTO. A amizade é antiga, assente em copos e charros, num grupo tão novo em que os consumos passados, se calhar serão mais “do que aqueles que fumámos e bebemos desde que estamos juntos como banda”, refere Chaka. “O álbum foi composto em 2018”, prossegue o baterista. “2019 foi passado a apurar as músicas, no fim de 18 já tocamos”. Para Martelo, o objectivo inicial era “compor, fazer um leque de músicas que encaixasse no que procurávamos, e tocar no fim do ano”.

O resultado foi «Eye18», disco lançado já este ano pela Lovers & Lollypops, num formato anormal para o meio português, pois surge nos escaparates acompanhado por uma BD. “Esperámos que fizessem a BD”, refere Gon, autor das letras e vocalista. E “houve ali um tempo para criar as coisas”, completa Chaka. Na escuta do disco, sente-se esse tempo, pois o rock está lá, mas também o afastamento suficiente das duas bandas de onde os músicos originam. “Compararem-nos com Greengo… Somos dois, em Krypto somos três”, alerta Chaka, “o Gon traz outro som à banda, mais aberto, com o Martelo abrimos tudo.” Na distinção, o músico refere que “com os Greengo será um som mais de jam, aqui é um rock mais um pouco “mais estruturado”, no que é corroborado por Martelo, que define o som dos KRYPTO como tendo “raiva na mesma, mais comprimida, mais vertiginosa.

O lançamento do disco, foi assinalado com a primeira parte das duas datas dos PETBRICK, o projecto de eletrónica de Igor Cavalera, em Portugal. Numa dessas datas, a LOUD! testemunhou como a química entre os três elementos resulta, com um Gon hiperactivo, e intenso como sempre. As letras são dele — “a música serve para extravasar”, explica, “Krypto foi escrever para o ano de 2018, daí se chamar «Eye18», é uma descrição bastante pessoal de muitas coisas más”. Boas ou más, a energia em palco é brutal, e um concerto deste trio, é uma experiência a não perder. Gon transfigura-se e desafia a plateia, misto de pugilista e poeta antissistema que declama a sua raiva. Chaka e Martelo erguem a banda sonora em que se apoia. Imperdível.