COME TO GRIEF: «When The World Dies» | Translation Loss, 2022 [review]

Daquela formação que tornou os Grief uma das bandas da linha da frente no que respeita ao sludge mais negro, durante aqueles loucos anos da década de 90 onde nada parecia fazer sentido e ninguém se importava com isso, já só restam o guitarrista Terry Savastano e o baterista Chuck Conlon. Savastano é precisamente quem tem procurado manter a chama acesa durante o período de maior turbulência que se seguiu à segunda encarnação, já muito tempo depois daquele período dourado entre 1993 e 2001, uma época onde cuspiram um manto misantrópico de sentimentos tortos que haviam de culminar naquele que continua a ser um disco incontornável senão do género pelo menos da época, esse pequeno tesouro que é o « …And Man Will Become The Hunted».  

«When The World Dies» é o longa-duração de estreia dos Come To Grief, e se o disco editado pela Translation Loss não dissipa exatamente a impressão de se estar perante uma banda encostadinha à sombra das trincheiras rasgadas por referências como os Eyehategod, não restam  no entanto dúvidas quanto à autenticidade da atitude que os inspira a entrar em estúdio e a subir a um palco. E até mesmo os mais cínicos destas reuniões de glórias de tempos passados podem encontrar algum descanso ao reparar nos “convidados” que aqui aparecem: Kurt Ballou aos comandos da produção de um álbum seco como uma corda na garganta, sem um único segundo a mais; e Jacob Bannon com uma participação em duas faixas, uma colaboração que tem a capacidade de colocar o disco num patamar de uma convivência musical a que apetece chamar familiar.

Não por acaso, são mesmo as duas canções que contam com a presença do vocalista dos Converge, «Life Curse» e «Bludgeon The Soul / Returning To The Void», temas em que Bannon berra de plenos pulmões abertos, que mais depressa nos encontramos ali à beira de entrar num ciclo de repeat sem misericórdias. Impressionante como sempre, o vocalista consegue oferecer uma agressividade arrancada ao que de mais sentido se pode pensar, elevando o disco para um nível francamente alucinante, até mesmo pela forma como se nota a sensação de liberdade de composição que contagia toda a banda, uma aragem de quem apanhou aqui novo folego. É Bannon a âncora das mudanças de tempo no tema «Bludgeon…», um daqueles temas com entrada direta para a lista de “incontornáveis” pela forma como o riff ora se desmultiplica numa progressão de sludge enleante, ora se cristaliza com o peso do doom mais arrastado, sempre consoante a textura e a cadência das vocalizações de Bannon. E que o tema desemboque num solo que tem um tom de uma celebração qualquer não outra coisa senão um maravilhamento. Disco notável, absolutamente notável.  [8]