DARK FUNERAL: “Queríamos esticar os limites e ver o quão rápido é possível ir sem perder a atmosfera” [entrevista]

Os DARK FUNERAL são uma das mais lendárias bandas de black metal da Suécia. Prestes a celebrar trinta anos de carreira, continuam em grande forma e uma boa prova disso é o seu mais recente álbum, intitulado «We Are The Apocalypse», que se tem vindo a afirmar como um dos melhores lançamentos da já longa carreira do grupo. A LOUD! esteve recentemente à conversa com o guitarrista de sempre e principal compositor, Lord Ahriman, para saber mais pormenores sobre este novo trabalho e sobre o concerto especial do próximo dia 16 de Abril, que vai ser transmitido em streaming para o mundo inteiro.

Como estão actualmente as coisas na Suécia no que toca à pandemia?
Por esta altura já levantámos quase todas as restrições, por isso as coisas estão a voltar ao normal dentro do possível. As pessoas continuam a ficar doentes, mas não de uma forma mortal… Nesta fase começa a parecer-se um pouco mais com uma gripe. Nas notícias diziam que boa parte da população já tinha sido vacinada ou tinha apanhado o vírus, por isso acho que estamos numa boa posição.

E quando começaram a trabalhar nos temas para o «We Are The Apocalypse»?
Comecei a trabalhar e a gravar algumas ideias há quatro anos, depois continuei a gravar esboços… Nada de temas completos ou com arranjos, eram mesmo apenas ideias. No geral, é assim que tudo começa normalmente, com esses esqueletos que vou gravando no meu estúdio caseiro. Depois chega a uma altura em que começo realmente a trabalhar nas canções. Tento olhar para todas as ideias e logo vejo o que se aproveita.

E, normalmente, demoras muito tempo a terminar uma canção ou depende?
Depende, claro. Há temas que podem demorar meses a ficar prontos e outros que podem demorar duas semanas. Muitas vezes tenho já algum material e as outras as peças encaixam normalmente. Na verdade, nunca fecho a porta a nada; quando tenho um arranjo, tento perceber a sensação que me dá. Depois deixo a ideia de lado durante uns dias e, às tantas, volto a trabalhar nesse arranjo e faço isso com regularidade até sentir que tenho uma canção.

Neste disco, o segundo single, «Nightfall», que é um temas super-rápido…
Foi tudo planeado! [risos]

Como surgiu a ideia para essa canção, por exemplo? Começas sempre com a música ou as letras podem dar-te alguma ideia do que deves escrever?
Começo sempre com a música, com os riffs e as ideias que gravo ao longo do tempo. Em cada um dos nossos discos, tento sempre esticar os limites em relação à velocidade. Tenho tentado trabalhar em canções com 300 bpm… Mas nunca consegui porque tudo soava tão rápido que perdia a parte atmosférica que gosto de ter nas músicas. Desta vez, tentei uma abordagem diferente. Foquei-me mais na parte atmosférica e menos nos riffs e melodias. Dessa forma, consegui manter o equilíbrio ao não ir muito rápido com um riff ou melodia e consegui manter a atmosfera, que é algo muito importante para a nossa música. Desta vez encontrei esse equilíbrio… Já tinha tentado trabalhar com aqueles bpms várias vezes, mas nunca tinha encontrado uma fórmula que resultasse para a nossa música.

Esse tema começa muito rápido, depois acalma e deixa o ouvinte respirar um pouco, mas eventualmente arrasta-o novamente para a escuridão.
Sim! Esse tipo de dinâmica é algo que já vem dos primórdios dos Dark Funeral. Quando temos essas partes super-rápidas com blast beats quero que… Possamos levitar nessa sonoridade e desaparecer para outro mundo. Senti que devia esticar os limites e ver o quão rápido é possível ir sem perder a atmosfera e o sentimento da canção, mantê-la groovy… e depois o refrão é super-orelhudo! Às vezes as peças encaixam no sítio certo e, desta vez, resultou a trabalhar naquela velocidade. No entanto, para que este tipod e coisas funcionem é preciso ter um baterista que seja capaz de tocar a essa velocidade não só com as mãos, mas também com os pés. O Jalomaah foi, sem dúvida, o homem certo para o trabalho.

Achas que este vai ser um daqueles temas que os fãs vão cantar nos concertos?

Vamos ver! Sei que as pessoas realmente gostam da canção, mas este disco é tão diverso e abrangente que é difícil perceber qual a canção de que os fãs mais gostam. Estou curioso para ver como vai ser quando o disco sair… Isto é tudo Dark Funeral, claro, mas há aqui algumas canções que tocam em espectros diferentes, percebes? Das muitas entrevistas que tenho feito, há duas/três canções que vêm muito à baila. São a «Nosferatu», a «When I’m Gone» e a «Leviathan». Percebi logo que a «Nosferatu» e «When I’m Gone» iriam ser muito faladas. No que toca à «Leviathan»… É uma grande canção, mas tantas referências nas entrevistas acabaram por surpreender-me.

No próximo ano vão celebrar trinta anos de carreira. Ainda te surpreende que haja tanta gente a ouvir a banda?
Nunca pensei muito nisso… Nunca penso nos anos que passaram. Isto é o que faço, esta é a minha vida e a minha paixão, por isso nunca pensei de outra forma. No entanto, claro que é muito porreiro saber que há muitas pessoas que ainda nos ouvem. Quando há pessoas que me dizem que nos seguem desde o início e que continuam a seguir-nos, que a música que fazemos lhes diz alguma coisa… Sabe sempre bem ouvir isso, claro. Na verdade nós também já alcançamos uma nova geração, um novo tipo de fãs. Alguns dos fãs old school preferem este ou aquele tema e há fãs mais novos que gostam de outros temas. Sei que temos muitos seguidores desde o início da banda e isso é bom.

Com o passar dos anos e dos lançamentos de novos discos, deve ser cada vez mais difícil fazer o alinhamento para os concertos – principalmente quando tens fãs que exigem este ou aquele. Como vão tentar equilibrar o alinhamento desta vez?
Já começámos a falar sobre isso e, para já, vamos fazer um alinhamento básico e, depois, tentar perceber quais as novas músicas que os fãs mais gostam de ouvir e começar por aí. Vamos tentar incluir um tema de cada disco, para que cada geração e cada fã tenha pelo menos um ou dois da altura em que começaram a ouvir os Dark Funeral. Como temos um tempo limitado em palco é sempre um pouco complicado preparar um alinhamento, ainda mais quando temos cada vez mais músicas. A abordagem para os próximos dois anos vai passar por tentar mudar o alinhamento com mais frequência do que o fazíamos habitualmente.

No próximo dia 16 de Abril, vão protagonizar um concerto especial, juntamente com os SAMAEL e ELEINE, que vai ser transmitido em direto na internet. Estão a planear algo especial?
Vai, de certeza, ser um concerto com muita pirotecnia e vamos tentar fazer um concerto enorme. Todo o dinheiro da venda de bilhetes vai directamente para produção, por isso vamos tentar com que seja um espectáculo tão grandioso quanto possível. Vai ser, garantidamente, um concerto a não perder.