DEATH: «Scream Bloody Gore» [25.05.1987]

Sempre houve um debate eterno entre os fanáticos de death metal, e este nunca morreu. Afinal, será que o álbum de estreia dos DEATH, o «Scream Bloody Gore», lançado em 25 de Maio de 1987, foi mesmo o primeiro álbum de death metal? A resposta, tanto tempo depois, continua em aberto. Alguns dizem que aquela proto-brutalidade feroz e frenética do «Seven Churches», lançado em 1985, leva a coroa. Outros apontam para os ataques apocalípticos do EP de estreia dos HELLHAMMER, de 1984. Uma coisa é certa — a partir do momento em que os MANTAS passaram a chamar-se DEATH e lançaram a maqueta «Death By Metal» em 1984, transformaram-se num nome incontornável do death metal. O impacto que o álbum de estreia dos DEATH causou em 1987 é inegável e, olhando para trás, percebe-se que foi o momento definitivo para criar o género como o conhecemos hoje.

Para todos os efeitos, o «Scream Bloody Gore» é uma obra juvenil em todos os sentidos. Gravado quando o genial Chuck ainda estava no final da adolescência, representa o primeiro passo da inocência ensanguentada para a experiência, a partir da qual conquistou sua reputação como um dos músicos mais inovadores de sempre no campo da música extrema. Logo para começar, o disco foi gravado numa altura em que o grupo estava em fase de transição de formação, com Chuck Schuldiner a assegurar todas as vocalizações, a guitarra e o baixo, e o Chris Reifert, posteriormente dos AUTOPSY, aqui na sua única aparição com a banda, a gravar as baterias. Apesar da instabilidade interna, o mentor do projecto tratou de se certificar-se que os DEATH estavam aí para ficar, e tudo graças ao «Scream Bloody Gore».

Metade das canções do álbum estavam “na batata”, porque já tinham aparecido originalmente em forma (ainda) mais primitiva nas demos da banda; «Evil Dead» e «Beyond The Unholy Grave» estavam em «Death By Metal» de 1984, «Infernal Death» e «Baptized In Blood» eram de «Infernal Death», de 1985, e «Zombie Ritual», «Mutilation» e «Land Of No Return» tinham aparecido na «Mutilation» de 1986. Ao contrário dos passos evolutivos gigantes que deram no seus trabalhos posteriores, em que assumiriam uma forma mais complexa de death metal técnico parcialmente influenciado pelo jazz e pelo rock progressivo, aqui não há ponta de evolução nos DEATH. As faixas escritas especificamente para o «Scream Bloody Gore»«Denial Of Life», «Sacrificial», «Regurgited Guts», «Torn To Pieces» e o tema-título — não são representam qualquer diferença a nível estrutural em relação ao material escrito anteriormente. E ainda bem, porque mantêm a visceralidade no máximo do início ao fim, naquilo que é uma proverbial “murraça nas fuças”.

Essa murraça é esmagadora, talvez resultado dos músicos terem sido forçados a gravar a maior parte do material duas vezes. Primeiro, Schuldiner produziu as guitarras e a bateria num pequeno estúdio na Flórida, mas a Combat Records não gostou da mistura e Chuck e Chris voaram para Los Angeles para regravar tudo com Randy Burns. Juntos, fizeram história. Com uma belíssima capa do muito aplaudido Ed Repka, o disco estava cheio de batidas explosivas, riffs relativamente simples e repetitivos, mas ampliados por ganchos incisivos, leads e vocais estridentes. Em suma, todos os elementos que se transformaram em marcas registadas do género, e que fizeram deste disco o momento formativo de toda uma tendência. O próprio Chuck parecia discordar e passou grande parte de sua carreira a tentar distanciar-se deste período da banda, alegadamente “por ser jovem, ingénuo e pouco sofisticado musicalmente“. Os fãs, esses, mantiveram-se estoicamente defensores desta estreia, com o álbum a ser reeditado numa edição expandida tripla em 2008 e a entrar na Billboard 200 no #174, marcando a única vez que os DEATH tiveram o seu nome na tabela.