DEFTONES: Recordam o álbum «Deftones», de 2003 [entrevista exclusiva]

Ao longo das últimas duas décadas, os DEFTONES transformaram-se num dos nomes maiores da música de peso, construindo uma carreira sólida e intocável, sobretudo quando comparado com a maior parte dos seus contemporâneos. Aproveitando a última paragem da banda californiana em Portugal, para um concerto incluído no SBSR, sentámo-nos com o vocalista Chino Moreno e com o baterista Abe Cunningham num camarim nas entranhas da gigantesca Altice Arena Arena e analisámos o output discográfico do quinteto até ao momento. Hoje recuperamos o que nos disseram acerca do álbum homónimo de 2003, que comemora já 16 anos de existência.

Chino: Esse é um disco que divide opiniões. Há quem o adore e quem o odeie. Não sei, se calhar as pessoas precisaram de tempo para o digerir, mas a verdade é que marca o início daquilo a que chamamos “os dias negros”… Não só dos Deftones, mas também das nossas vidas pessoais. Andávamos em digressão há demasiado tempo, havia cada vez mais gente enfiada no seu próprio mundinho das drogas, houve pessoal que se casou nessa altura…

Abe: Até ali não tinha havido pausas, estávamos tão dedicados à banda que não tínhamos tempo para mais nada e, às tantas, deixou de ser divertido.

Chino: Fazer um álbum, nessa altura, foi um autêntico fardo. Não é que não curtíssemos estar uns com os outros, mas estava ali uma brecha para respirarmos um pouco e a última coisa que queríamos era voltar para um estúdio. Estava tudo com a cabeça noutro lugar. E eu fui um dos principais culpados disso, sem dúvida. Acabámos por fazê-lo e acho que até acaba por ser um disco cool, mas agora – quando ouço algumas canções e, sobretudo,
quando leio as letras – vejo-me remetido para aquela altura. É negro, muito depressivo, e, hoje, já não me identifico porque sou um tipo mais feliz. No outro dia estávamos a ensaiar a «Deathblow», que é uma canção fantástica, mas já não me lembrava da letra e fui à internet pesquisá-la… [risos] Li tudo e fiquei sem saber se queria cantar aquilo outra vez. É um reflexo daquela época, isso ninguém nos tira.

Abe: Acho que todos gostávamos de ter feito alguma coisa de forma diferente nesse disco. Lembro-me que estava tão cansado quando gravámos a «Mona» que, no final, fiz um único take do fill de bateria, saltei do banco e fugi do estúdio sem querer saber como ia ficar. E acho que ficou inacabado! [risos] A sério, até o título do álbum…

Chino: Sim, o álbum não se chama «Deftones» porque achássemos que seria uma boa representação da banda, mas porque não queríamos sequer chatear-nos a pensar nisso.

Abe: O que, verdade seja dita, é terrível.