EM FOCO –» As BLACK WIDOWS e o regresso em grande forma de «Among the Brave Ones» [entrevista + stream]

Definem-se como “uma banda composta exclusivamente por mulheres que tocam metal pesado e melódico”. São cinco e formam as BLACK WIDOWS, colectivo com origem em 1995, numa formação que integrava Rute, na voz e guitarra, Xana, na guitarra, Chris nabateria, Vanessa no baixo e Marta P. nos teclados. A primeira demo-tape foi gravada em Dezembro de 1996, transformando-se no primeiro registo em Portugal de uma banda feminina de metal – que, também anómalo à época, praticava um “um metal influenciado por uma mensagem cristã”. O tempo passou, as mudanças de formação foram, normalmente, acontecendo. Entre elas, a entrada da teclista Carla Marques. A sua morte súbita, em 1999, no regresso de um concerto, criou uma disrupção no grupo, ficando apenas Rute e Chris na formação. O ano de 2001 vê o lançamento do EP «Dark Side Of An Angel», seguido de «Sweet… The Hell», em 2002. Em declarações à LOUD!, a vocalista Rute Fevereiro aborda a eventual reedição destes trabalhos. “Já foi falado nisso por alto, e seria muito interessante trazer algo do género para o fim do ano que vem, até porque tanto o «Sweet…The Hell» como o EP «Dark Side Of An Angel» são já CDs de colecção, tenho sempre pessoas a perguntarem onde comprar, e quem tem estes discos já não os vende”, explica. Nessa perpectiva, “quem sabe a hipótese de uma reedição com nova mistura e masterização? É uma questão a pensar”.

A partir do lançamento do primeiro álbum, o grupo vai fazendo actuações ao mesmo tempo que elementos entravam e saíam. Embora 2007 visse surgir a Arising Tour, dois anos depois o colectivo entrava em pausa. Uma década depois, verificou-se o regresso, que levou à edição de um novo trabalho agora em 2022. “Após o lançamento de «Sweet… The Hell» a formação do álbum não entrou em consenso para continuar a trabalhar como banda”, refere Rute, hoje reconhecida como o motor por trás do projecto. Essa falta de consenso “levou à ruptura e fiquei a gerir a banda sozinha”, afirma. Por tudo isso “só fez mais sentido este regresso em força quando, em 2018, convidei a teclita Mónica Rodrigues para regressar à banda e pusemos as coisas a andar efectivamente”. Hoje, Rute Fevereiro partilha este projecto com outro, Enchantya, “banda que tem traçado um percurso de edição de álbuns a nível internacional, além de também ser cantora e guitarrista convidada em algumas bandas e projectos nacionais e internacionais”. Nas BLACK WIDOWS estão também Mónica nas teclas, Solange Campos no baixo, Marta Brissos na bateria e Irís Prado na guitarra – uma aquisição já deste ano, que “está a iniciar-se nestas andanças, mas tem um notável background musical”. Nos restantes elementos, “Mónica Rodrigues foi a cara conhecida dos Inner Blast onde, durante anos, teve o papel de teclista, a Solange Campos é uma baixista de renome das Rock’a’Lady e tem outros projectos de originais”, enquanto “a Marta Brissos é bastante conhecida porque também assume o papel de baterista nos Gwydion”.

Apesar de ocupada com Enchantya, Rute Fevereiro não hesitou em recomeçar com o seu projecto de origem, “Na realidade sempre adorei o desafio que as Black Widows me trazem enquanto artista e gosto de poder tocar guitarra e solar”, explica-nos. “Ter encontrado a Mónica num concerto deu vontade de ver se poderíamos gravar um álbum e regressar porque, na realidade, esta banda nunca acabou para mim e fez muito sentido nesta fase da minha vida, com mais experiência musical e pessoal, regressar e explorar tudo o que evoluí nestes anos todos”. A evolução de Rute não passou só pela capacidade vocal e instrumental, mas também pelos gostos musicais, que levaram a uma mudança no som da banda, num “misto do que nos apeteceu compor para este álbum, mas também das características musicais e competências de cada uma das instrumentistas da banda, que permitiram colocar a fasquia mais alta”. Falando em fasquia, a vocalista e também guitarrista vai já afirmando que contam que “o sucessor deste novo álbum seja ainda mais pesado e complexo”. O novo «Among The Brave Ones» teve direito a video-clip para a faixa homónima, com a estratega do grupo a dizer que “o título do álbum, assim como o vídeo, foram direccionados para a ideia de que quando somos resilientes, podemos estar entre os audazes”. Com selo da finlandesa Inverse Records, o disco foi gravado no The Pentagon Audio Manufacturer Studios, com o produtor Fernando Matias. Desde o princípio desta nova fase que o objectivo foi “marcar um regresso em força das Black Widows e dar muitos concertos”, acrescenta Rute. Pois bem, hoje as BLACK WIDOWS são sinónimo de um percurso singular e raro na música pesada nacional, em que durante anos as mulheres não pisaram palcos. “Há, felizmente, muito mais mulheres no meio do metal nacional e não apenas a nível vocal”, refere Rute. “Em 96, quando as Black Widows deram o primeiro concerto, senti honestamente que estava a desbravar um caminho espinhoso, em que havia muito poucas mulheres instrumentistas e em que a visão das mesmas acabava sempre com um “despe” quando nos viam subir ao palco. Com foco e perseverança, tentei arduamente que o reconhecimento fosse pela música, pelo trabalho intensivo que tínhamos em compor e executar temas que de simples nada têm. Fico satisfeita por ver tantas senhoras a serem livres de abraçarem a arte musical, pisarem palcos e serem vistas pela sua performance e não tanto por serem mulheres. Aquela abordagem sexista dos anos 90 atenuou imensamente. No final do dia, homens ou mulheres tocam e cantam porque o amam fazer independentemente o seu género sexual”.

Serão estas novas malhas, a par de outras mais clássicas, que o grupo se prepara para apresentar em dois concertos em Lisboa e Porto. A 18 de Novembro, a banda sobe ao palco do RCA Club, em conjunto com os My Enchantment, também a apresentarem novo EP, e ainda com os Primal Warfare. Dias mais tarde, a 26 de Novembro, o grupo aparecerá no paaco do Metalpoint, no C.C. Stop, fazendo-se acompanhar dos Malignea e Dallian. Para alguns, será apenas um regresso, para outros é a possibilidade de assistirem a um momento de história, em que podem observar a primeira banda nacional de metal no feminino, ao vivo e a cores.