EM FOCO –» MÁNI, «Sabbats» [Ed. de Autor]

A ideia de MÁNI já existe há algum tempo dado o meu fascínio por mitologia nórdica e crenças espirituais em que o xamanismo faz parte”, conta Filipa Pinto à LOUD!. “Todo este misto fez com que surgisse inspiração para compor dentro desta vertente. O Paulo Bucho, sendo um músico de mente aberta e que gosta de desafiar as suas capacidades, alinhou comigo neste projecto neo folk”. Ambos já se conheciam de outras andanças pois também fazem parte de MAGNÓLIA, projecto de doom, fado e folk, cantado em Português, com o seu primeiro álbum lançado em Novembro de 2019, intitulado «Cinthya». Em 2020 criam então os MÁNI, nome inspirado na mitologia Nórdica, e que significa “Deus da Lua”. “A minha adoração em relação à Lua já é uma referência conhecida da minha personalidade, mesmo no meu trabalho anterior em Magnólia faço referência à Lua. Faz parte das minhas raízes sintrenses, porque Sintra é conhecida como o Monte da Lua”, refere a vocalista. O duo estreou-se em disco nesta Primavera de 2022, através do seu primeiro álbum «Sabbats», com a produção e orientação de Charles Sangnoir. Todo o álbum é cantado em português e cruza narrativa e canto, como acontece em «Fantasmas», onde uma subtil electrónica introduz uma componente etérea, como numa banda-sonora. Definindo-se como neo folk, o duo lança assim dez temas em que as referências folk estão lá, mas também se percebem outras atmosferas e referências, transmutadas para um imaginário nacional que só sai reforçado pela vocalização em português. Em «Gira e Volta», por exemplo, o ritmo e instrumentos remetem para sons medievais, ou pelo menos ao que muitas vezes se tenta recriar nas feiras temáticas. Logo aqui se percebe que há mais do que o rótulo de neo-folk indica.

Mais marcial na sua entrada, «Amor de Verão» socorre-se de instrumentos de sopro para ganhar uma outra dimensão. É também aqui que surgem arranjos que trazem o tema para actualidade. Já «Dentro de Mim», com o seu teclado solitário, remete para a balada clássica, com voz e teclados, e o registo de Filipa a brilhar. Já numa segunda parte, o tema ganha um andamento mais rápido, que acompanha a letra, mas deixa vontade de permanecer na simplicidade dos teclados e da voz. «Gira e Volta» é um dos singles até agora divulgados, a par de «Silêncio», e onde a cantora brilha novamente. Neste caso, leva-nos até ao norte de África e ao azan, mesmo que essa não fosse a intenção original. Heresia, porventura, por ser feito por uma mulher, mas estamos na Europa e no séc. XXI. “Uma vez que decidimos que o álbum seria inspirado na Roda do Ano, calendário que simboliza a concepção de tempo dos pagãos, e sendo sabbats o nome que designa a celebração de cada estação desse mesmo calendário, achámos ser um título”, explica Filipa em relação ao nome do disco. “Podíamos colocar o nome de ‘rituais’ para ficar tudo em português, já que um Sabbat é um ritual, mas ‘sabbats’ é a palavra própria para este fim. Como a palavra Saudade, noutros idiomas, todos sabem o que significa, mas é única.” A Roda do ano “é o calendário pagão que consiste em oito celebrações, formadas em eterna harmonia com o Universo, e busca compreender a complexidade do macrocosmos dando importância aos pequenos detalhes do dia-a-dia. Segmentando um ano em cuidadosos oito eventos, permitimos assim uma perfeita comunhão entre o Deus e a Deusa, reflectindo em união e equilíbrio. Cada faixa foi inspirada nestes oito festivais e nos seus respectivos Sabats”.

Como referido, o duo está junto também em MAGNOLIA, projecto que lançou «Cynthia» em 2019 e do qual foi extraído um single, também intitulado «Magnolia». “Eu e o Paulo Bucho já nos conhecemos há trinta anos, ao longo desse tempo tivemos vários projectos. Uns em que estávamos ambos inseridos, outros em que não. Como tal, Magnólia e MÁNI são dois projectos diferentes com objectivos diferentes. Todos somos livres da nossa vontade e criatividade sem que umas coisas dependam de outras!” Neste momento, “Magnólia está numa fase em que há alguns assuntos internos em resolução. A pandemia trouxe vários dissabores quando Magnólia estava numa fase de evolução. Dentro em breve voltará com toda a sua força e algumas alterações no line-up”. No caso desse projectohá também um terceiro nome subjacente: Charles Sangnoir. “Além de ser nosso produtor, o Charles é um amigo e excelente Mestre”, refere Filipa, sem deixar de referir que o mesmo também “participou no álbum de «MÁNI»”, além de que os vídeos até agora lançados tiveram todos“produção e realização do Charles Sangnoir”. Segundo a vocalista, “o Paulo Bucho já o conhece há mais tempo porque tocou diversas vezes para o Charles; eu conheci-o quando Magnólia gravou o seu primeiro clip e solicitámos-lhe que o produzisse e realizasse. Nessa altura, travámos amizade e houve um interesse mútuo pelo trabalho musical de cada um. Em 2020, estávamos a sair do primeiro confinamento, foi quando eu e Paulo Bucho tivemos a ideia de MÁNI. Nessa altura eu tinha acabado de compor um tema, que acabou por entrar no álbum, o «Silêncio». Entretanto gravámos o tema e decidimos fazer o clip, sendo que contactámos o Charles para o realizar. Houve um interesse da parte dele neste tipo de trabalho e então fez-nos a proposta que, se fizéssemos mais temas, nos produzia o álbum”. Percebe-se assim o peso do também músico na concepção deste trabalho. Importa referir ainda que MÁNI acaba por resultar uma excelente surpresa, um “fora-de-caixa” para aqueles que apenas conhecem Paulo Bucho de sons mais pesados como CAVEMASTER e LEGACY OF CYNTHIA, entre outros. Um disco que surge singelo e frágil, como a voz de Filipa Pinto, num meio musical demasiado estereotipado e massificado.