EM FOCO: STOZ’, «Popol Vuh» [Ed. de Autor]

Foi das palavras de um elemento dos MOONSHADE que surgiu a definição de SOTZ’. Ricardo Pereira, vocalista da banda portuense, explica-nos que “Sotz’ é o grito de guerra vitorioso dos maias, civilização muitas vezes erroneamente categorizada como perdida, pois sobrevivem nas nossas memórias colectivas através da história, lenda e mito. Armados com as lâminas sacrificiais do metal extremo e do folclore meso-americano, sob os olhos sempre atentos do próprio Kukulkan, trazem uma mensagem de esperança nas garras do desespero, de um porto seguro de equilíbrio espiritual dentro dos corações e mentes, com contos de criação e destruição, morte e renascimento, como Kisin é para A Grande Serpente e a Grande Serpente é para Kisin. Eles são o olho do Jaguar. Os filhos de Tikal. Os bardos do Popol Vuh. Tzak Sotz’!” Pois é, mesmo isso que parece. Os SOTZ’ foram criados 2008, pelas mãos do guitarrista João “Jisus” Rocha, que construiu toda a sua formação, conceito lírico, som e imaginário, sobre a história e mitologia da civilização Maia. Na verdade, a expressão significa morcego na linguagem maia. É, por isso, que na curta «Ixchel» surge o som da flauta que transporta o ouvinte para algo distante do metal agressivo em que a melodia surge embalada. O tema está contido em «Popol Vuh», álbum de 2020, primeiro-longa duração do quarteto. Enquanto banda, a formação actual consiste em Dan Vesca, na voz, Jisus Rocha e Pedro Magalhães nas guitarras – muitas vezes em formato twin, como na faixa «Siege Of Tikal» – e Emanuel Ribeiro, no baixo. Como baterista de sessão, nos concertos, encontra-se Luís Moreira.

Dentro da tal lenta disseminação a que se tem proposto, o grupo vai estar presente na edição deste ano do Vagos Metal Fest. “O Vagos é um dos maiores festivais nacionais e é um local onde sempre sonhámos tocar”, explica João Rocha à LOUD! “Uma vez que optámos por fazer o lançamento em plena pandemia, estávamos cientes de que a promoção do álbum seria dificultada. Os concertos são uma das mais importantes etapas da promoção de um disco, e até à data só nos foi possível apresentar o trabalho em dois concertos, Porto e Lisboa”, revela o músico. Apesar disso, está ciente que a “aceitação de «Popol Vuh», felizmente correu muito bem, o disco foi muito bem-recebido, dentro e fora de Portugal, e até chegamos a países que nem pensávamos chegar”. De facto, «Popol Vuh» resulta num disco intenso e coeso, em que a monotonia muitas vezes resultante do monólito sonoro e da distorção e compressão de bpms é quebrada ora por uma ou outra layer de guitarra mais melódica, ou por um certo exotismo orquestral. Para isso contribui a inserção de sons associados à região. “O conceito Maia nasceu pelo amor que tenho pela civilização, dessa forma iniciou-se o projeto ‘caseiro’ e a pesquisa constante sobre a cultura”, conta o músico, esclarecendo a temática subjacente tanto ao álbum como ao EP de estreia, o muito interessante «Tzak’ Sotz’», de 2017. “Felizmente todospartilhamos o mesmo gosto, o que se reflete no álbum que lançámos”, diz ele. “No entanto, os Sotz’ não se inspiram em culturas pré-colonização, mas sim apenas na civilização Maia”. Segundo o fundador do grupo, “para a conhecermos cada vez melhor é necessário fazer uma pesquisa constante em livros, documentários, filmes e até mesmo criar contacto com nativos da região, até termos a oportunidade de visitarmos a região”.

Ambicioso, o disco inicia-se de forma suave, com «Cenote» e sons de uma floresta da América Central. Segue-se «Oracles» onde, logo aos primeiros segundos, as guitarras evoluem numa toada quase pós-rock, mas a intensidade aumenta e surgem as vozes guturais de Dan Vesca. A partir daqui os decibéis aumentam e tudo se intensifica. Outra característica deste «Popol Vuh» são os convidados: Stefano Franceschini, dos HIDEOUS DIVINITY e ABORTED, Sérgio Pinheiro, dos DARK OATH, e Ricardo Pereira, com este último a colaborar também nas letras. João relata o encontro com Stefano por altura do “Vagos Metal Fest 2019, enquanto trabalhava como stage hands no palco onde os Aborted tocaram”. O guitarrista assume-se como “um seguidor do trabalho dele há muitos anos e claro que não deixei escapar a oportunidade de convidar para participar no tema «Tree of Knowledge», algo que aceitou sem pensar duas vezes”. Já no campo nacional, “Sérgio Pinheiro é um companheiro de banda e amigo próximo do nosso produtor Afonso Ribeiro”, conta. “Enquanto estávamos em processo de gravação o Afonso propôs que o tema «Eye of Baálam» deveria ter um solo de guitarra tão poderoso quanto a restante música, aconselhando o Sérgio como um melhor candidato. Como já conhecíamos a sua mestria na guitarra nos Dark Oath e no seu projecto pessoal, não hesitámos em aceitar esta proposta”. Ricardo Pereira “foi uma decisão geral da banda”. O vocalista é, dizem-nos, “além de um excelente profissional e de ter uma voz incrível e inconfundível, um amigo próximo de todos nós”, que “não só emprestou a sua voz no tema «Prospects of Pakal» como também ajudou na composição lírica do trabalho, juntamente da sua amada Sofia e sua avó Rosário”. Sonicamente complexo, mais pelas orquestrações e polifonias, o guitarrista assegura desde já que “tudo que está no disco estará presente no concerto, seja tocado por nós, seja em backing track”. Está assim garantida uma actuação promissora, que será reforçada pela presença em cartaz de uns MOONSHADE que estão neste momento a preparar um novo disco. Tudo acontece no Metalpoint, no Centro Comercial Stop, no Porto, na próxima sexta-feira, dia 3 de Junho, a partir das 22:00.