SAINT VITUS
[entrevista + stream]

São bons tempos para o doom metal. Os rejuvenescidos Candlemass abriram mais uma bela porta para o doom, e os SAINT VITUS completaram um círculo com um magnífico disco auto-intitulado, o segundo da sua carreira, depois do «Saint Vitus» de estreia, contando novamente com o vocalista desse álbum, Scott Reagers. Antes ainda da triunfal passagem pelo SWR — Barroselas deste ano, conversámos com a verdadeira lenda que é o guitarrista Dave Chandler, que até sugeriu uma figura geométrica diferente para resumir a longa e acidentada carreira da banda. Para ler, enquanto o álbum toca ali em cima, em antecipação à edição oficial amanhã, dia 17 de Maio.

Já tínhamos saudades de um álbum dos Saint Vitus. Como é que olhas para este novo trabalho?
Acho que o disco saiu muito bem, sinceramente. Estou orgulhoso do resultado final, muito orgulhoso das pessoas que trabalharam comigo para aqui chegar. Toda a gente a quem já o mostrei parece ter uma opinião comum – de que é diferente de qualquer outro disco dos Saint Vitus, e que ganha imenso por isso. Acho que é um conjunto de canções muito variadas, que é exactamente o que eu queria, por isso é bom que tenham notado isso. Se calhar não estava era à espera que gostassem tanto da «12 Years In The Tomb», mas por mim tudo bem! Não me interessa de que canção gostam mais, desde que gostem! [risos]

Para uma banda com cerca de 40 anos de carreira, ainda poder dizer que está a fazer coisas diferentes, é obra… Não haverá muitas!
Obrigado! Mas sim, também é por essa razão que houve uma pausa tão grande entre o «Lillie F-65» e este álbum, eu estava a escrever muito material de que, sinceramente, não gostava. Mandei muita coisa fora. Queria que me saísse algo diferente, algo que ainda fosse Saint Vitus mas que tivesse ali uma vibração distinta. Demorou um bocadinho, mas acho que conseguimos lá chegar.

Foste tu que escreveste todo o material novamente?
O tema «Hour Glass» foi escrito pelo Henry [Vasquez, baterista], e o Pat [Bruders, baixista] escreveu a «Wormhole». As letras são todas minhas, mas o Scottie colabora muito comigo nessa função, e faz a revisão de tudo de acordo com as partes vocais. Sugere-me correcções, maneiras diferentes de dizer as coisas, e tal. Há muito trabalho em equipa.

Não é uma pergunta que dê gosto fazer sequer, mas como é que foi continuar com a banda na ausência do Mark Adams?
Foi muito difícil, e muito estranho. O primeiro concerto sem ele foi estranhíssimo… Tal como eu, ele esteve lá sempre, desde o princípio, a 100%. Cada segundo de cada gravação, cada ensaio, cada concerto, o Mark esteve lá. Por isso a adaptação foi complicada. Claro que o Pat é um grande baixista, e aliás, o Mark contribuiu para a escolha e está muito feliz por termos o Pat connosco no lugar dele, mas acho que é compreensível que tenha sido difícil. Não queríamos que ele tivesse saído da banda alguma vez, mas a doença de Parkinson não dá grande escolha.

O facto de o novo álbum se chamar, novamente, «Saint Vitus», tem a ver com a presença do Scott e com um certo fechar de círculo?
É mesmo essa a razão. Enfim, muita gente fala num círculo, mas eu vejo mais como um rectângulo oblongo. [risos] O caminho não é tão certinho assim. Mas sim, tem tudo a ver com termos o Scottie outra vez na banda, tal como nesse primeiro álbum, e todo o feeling que temos actualmente. Mas claro que há diferenças, também – a capa desse disco era toda preta, e por acaso na altura muitos dos publicitários e distribuidores acabaram por lhe chamar «Self-titled». Agora, como estamos mais velhos, a capa já é cinzenta, e muita gente gente está a chamar-lhe «Untitled». Mas sim, se quisermos ver as coisas dessa forma, esta capa representa os miúdos do antigamente que ficaram velhos e cinzentos. [risos] Completando o tal rectângulo irregular.

Escreveste de forma diferente por teres o Scott de volta à banda? Se ainda fosse o Wino o vocalista, achas que o álbum teria sido substancialmente diferente?
Sim, sem dúvida. Muito do material que eu tinha e que acabei por mandar fora, como disse há pouco, foi escrito ainda a pensar no Wino. A mudança de vocalista também foi, portanto, um factor que atrasou um bocado as coisas, porque tive que recomeçar a escrever para o Scottie. Tenho um bocado mais de liberdade com ele, ele consegue manter as notas durante mais tempo, e fazer coisas noutros estilos, mas é de facto muito diferente, e os discos sempre foram orientados para o cantor que tenho na banda.

O “V” do vosso logótipo é talvez a tatuagem que mais vezes vi na pele de outros músicos. De vocalistas de bandas punk desconhecidas numa cave na Alemanha até ao Greg Anderson dos Sunn O))) e da Southern Lord, é algo de absolutamente transversal a todas as cenas do underground musical. Dá-te algum gozo?
É algo que nunca esperei na minha vida, sinceramente. Quando estava a trabalhar com o Joe Carducci para desenvolver o logo, o objectivo que tinha era que fosse algo fácil de grafitar numa parede rapidamente e fugir! [risos] Nunca pensei que fosse tomar esta dimensão. Claro que eu tenho a tatuagem, mas nunca contei vê-la em mais ninguém. Aqui há uns anos, no Facebook, lembrei-me de pedir às pessoas, mostrem lá as vossas tatuagens de Saint Vitus… Devem ter respondido mais de mil pessoas, fiquei pasmado! E é a tal coisa, gajos de bandas de death metal, de black metal, de doom, punks, malta do rockabilly… de tudo um pouco. É lisonjeador, no mínimo – uma coisa é ser fã da banda, e comprar um disco, outra é desenhares algo permanentemente na tua pele relativo a essa banda! Bem vindos à tribo… qualquer dia tomamos conta disto tudo. [risos]

Sentes que a banda agora já tem um nível de reconhecimento mais justo do que tinha há alguns anos atrás?
Sem dúvida, sim. Durante anos e anos, especialmente antes de termos ido à Europa, ninguém gostava de nós. Os punk rockers gostavam, o que foi fixe, e foi um bocado o que nos aguentou, mas mais ninguém. Agora já não é assim, e acho que isso é bom. Ainda somos uma banda underground, mas é diferente. Acho que o próprio doom metal, enquanto género, está num sítio diferente agora, com muito mais gente a gostar e muito mais bandas a aparecer, e isso beneficia-nos.