FARO ALTERNATIVO 12 @ Casa Das Virtudes, Faro | 6, 7 e 8.10.2022 [reportagem]

QUINTA-FEIRA, 6 de Outubro

Como vem sendo hábito, o primeiro fim de semana de Outubro na capital do Algarve é inevitavelmente sinónimo de FARO ALTERNATIVO, que este ano chegou à 12.ª edição. A história do festival é repleta de muita música pesada, mas também de resiliência e perseverança, porque se conseguiu regressar em 2015 após alguns anos de interregno, não seria a pandemia que ia parar este que já é o mais antigo festival de música alternativa do Algarve.  Este ano, foram novamente forçados a encontrar um novo espaço, sendo a Casa Das Virtudes o local escolhido. Curiosamente, esta nova sala tem mais semelhanças com a antiga sede da ARCM, onde o festival nasceu. À hora anunciada, subiu ao palco a primeira banda do cartaz, OS MARAFADOS. Não é comum uma pessoa saber exactamente o local de origem de um grupo apenas pelo seu nome, mas neste caso assenta-lhes que nem uma luva visto ser um nome 100% algarvio. A sala começou lentamente a encher e o punk rock em português dos olhanenses foi despertando o interesse dos presentes. Com claras influências dos CENSURADOS e TARA PERDIDA foram disparados os primeiros “wooosss” desta edição de 2022. Infelizmente, devido a uma tragédia pessoal, os G.I.G.G.Y. não marcaram presença, mas os SHADOWMARE não se fizeram rogados e foram uns substitutos à altura. Metal técnico e cheio de solos numa actuação pujante e coesa. A evolução dos músicos foi notória e foram presenciadas as primeiras cabeças a mexer, mesmo que timidamente.

Os MAU OLHADO subiram ao palco de seguida em modo rolo compressor, com uma energia e pujança difíceis de igualar e um thrash/crossover sempre a abrir. Lembram-se do filme ‘Speed’, com a Sandra Bullock e o Keanu Reeves? Pois bem, um set desta gente é parecido, sentimos que a qualquer momento o palco pode explodir, como o autocarro no filme, se a banda abrandar a velocidade supersónica dos seus riffs cheios de veneno. A única banda não algarvia da noite foram os STONERUST, que trouxeram de Cascais aquele metal mais clássico num show competente, que deixou os presentes no ponto para receberem os cabeças-de-cartaz.  Os farenses PULL THE TRIGGER, claramente a jogar em casa, fizeram-se valer dessa vantagem e demonstraram porque são uma das mais antigas bandas do algarve no activo. Com a sala já bem composta, o nu-metal contagiante do quarteto infectou todos os presentes no culminar de uma maratona de concertos sempre em crescendo. No entanto, a noite não podia terminar sem que a DJ Killer Queen desse música para que os últimos resistentes pudessem terminar a sua bebida e darem um pézinho de dança. 

SEXTA-FEIRA, 7 de Outubro

O segundo dia trouxe o regresso dos dois palcos, algo que já é uma imagem de marca do festival. A Casa Das Virtudes fica na zona ribeirinha de Faro e toda a sala era um antigo estaleiro, por isso imaginem um armazém comprido e alto. Logo à entrada, do lado esquerdo, está o palco mais pequeno, que os FONTE estrearam nesta 12ª edição. A tarefa de serem os primeiros da noite nem sempre é fácil, mas a banda de Linda-A-Velha esteve totalmente à altura. Com temas cantados em português, a única dúvida é descrever a banda como “hardcore metalizado” ou “metal hardcorizado”… Rótulos à parte, pelo meio os presentes ainda tiveram direito a uma merecida homenagem ao Bifes e quem não sabia ficou a saber que esta foi a última banda que formou pouco tempo antes de falecer tragicamente num acidente de viação em 2018. Do norte do país vieram os DOINK, que abriram as hostilidades no “palco grande”, situado ao fundo da sala. Após o recente regresso ao activo, a banda tem vindo a crescer significativamente e o seu crossover entre o punk hardcore e o hip hop está cada vez mais no ponto. Como sempre, a interacção com o público foi excelente do início ao fim e os primeiros sing alongs da noite fizeram-se sentir neste momento. Outra banda que está de regresso ao activo e com um novo disco, intutlado «Recognize The Threat», são os DEADLY MIND. O grupo da Margem Sul teve de ultrapassar alguns problemas técnicos, mas fez com que a temperatura na sala aumentasse. O palco “pequeno” até se tornou algo claustrofóbico para conter tanta energia, ainda para mais havendo dois vocalistas “à solta”, mas a banda deu muito bem conta do recado. 

Os ribatejanos W.A.K.O., que já tinham actuado na 7.ª edição, subiram ao palco munidos do seu metal sofisticado, como os próprios o descrevem. Verdade seja dita, notou-se que a banda esteve “parada” involuntariamente nos últimos tempos, tal foi a energia e poder libertados durante um set competente e preciso.  A jogar em casa também estiveram os farenses MEDO, que tornaram o palco “pequeno” gigante com os seu FSHC contagiante e electrizante. Os presentes tiveram direito a uma malha nova, «Medo 5», e à participação da antiga baixista Tatiana Lopes no tema «Somos Nós» e do Realpunch em «Destruição Do Homem», No final, assinaram um set enérgico, que passou num abrir e fechar de olhos. Os DEVIL IN ME foram os cabeças-de-cartaz da segunda noite e mostraram porque são uma das melhores bandas nacionais em cima de um palco. Esta malta já não vai para nova, mas ainda assim a energia e o poder empregues na prestação ao vivo estão sempre no máximo. O set, que incluiu temas mais velhinhos, teve igual foco em material do mais recente «On The Grind» e mostrou que o público não gosta apenas dos clássicos, uma vez que «Will», «War» ou «D.L.T.» foram cantadas em plenos pulmões. No final da noite, os sorrisos estavam estampados na cara dos presentes, que escorriam suor motivados por uma noite bem passada.  DJ Dirty King foi o escolhido para terminar a noite e permitir que os mais exaustos recuperassem forças para o regresso a casa. 

SÁBADO, 8 de Outubro

A última noite do FARO ALTERNATIVO prometia ser mais roqueira e não desiludiu. De Viseu, chegaram os SHUTTER DOWN, que deram início ao evento na ressaca da noite anterior. O quarteto tinha uma tarefa complicada, mas nunca se escondeu e deu a cara à luta com o seu rock melódico à 00s. A sua boa disposição em palco acabou por contagiar os presentes que iam chegando a conta gotas.  O duo SON OF CAIN não pôde estar presente e, no seu lugar, esteve outro duo algarvio, os BLOODY SAM, com o seu desert rock, com direito a um cacto em palco e muito cowbell. A travessia do deserto serviu para abrir ainda mais a sede dos presentes e os ALBERT FISH foram a banda que se seguiu, num muito aguardado regresso a Faro. Inês esteve muito interventiva a puxar pelo público e, como sempre, o guitarrista Daniel encheu o palco. Infelizmente, o baixista Rattus teve alguns problemas técnicos sendo a única explicação possivel a falta de cerveja ingerida. Claramente aquele baixo precisa de valores mínimos de cevada para funcionar como deve ser. No entanto, é sempre um prazer ver uma sala bem composta a cantar o refrão da «Sindelar». “Woooooohhh!!! Fighting all the nazis.” 

Do punk rock passámos para o black metal, com os veteranos FILII NIGRANTIUM INFERNALIUM. Ora vejamos, voz crua e sempre a rasgar? Check! Guitarras estridentes e modo moto-serra? Check! Bateria galopante e baixo demolidor? Check! Check! Corpse paint? Check! Satanás?!? Check! Tudo certo por aqui. Belathauzer e companhia assinaram um set devastador de necro rock’n’roll.  Depois, com o seu contagiante metal from da hood cheio de energia e groove, os DIABOLICAL MENTAL STATE marcaram uma das performances com maior adesão do público, que não arredou pé um segundo que fosse.  Para finalizar o festival, os convidados de honra foram os MATA-RATOS, que este ano celebram quatro décadas de carreira. Foram clássicos atrás de clássicos e muito tsunami de cerveja pelo ar, como de costume. Esta formação é super coesa e consistente e eleva a banda ao patamar que merece. Para além de muito suor e cerveja pelo ar, a actuação até teve um momento WWF quando um elemento do público subiu ao palco para um stage dive tendo aterrado de costas numa das mesas do merch junto da lateral do palco. Infelizmente, a mesa não se partiu para efeitos dramáticos e o rapaz rapidamente se levantou como se nada fosse.  O DJ Villain foi o escolhido para entreter os últimos resistentes que ainda se conseguiam mexer. 12 edições já cá cantam! Agora temos um ano para recuperar para o FARO ALTERNATIVO 13

FOTOS: Coleman Rogers