RETROVISOR: GARY MOORE + PHIL LYNOTT, «Parisienne Walkways» (Ulster Hall, Belfast, Irlanda do Norte, 18 de Dezembro de 1984)

Escolha óbvia se pensarem em GARY MOORE, pois trata-se de um dos seus temas mais icónicos; estranha se pensarmos em PHIL LYNOTT, mentor dos Thin Lizzy, mas é sobre este último músico de que hoje se fala. Antes, importa referir que Moore foi um dos últimos grandes guitar-heroes dos anos 70. Último no sentido em que tardou a ser reconhecido, só popular a partir de meados dos anos 80 e, em particular, com o seu trabalho na área dos blues, na década de 90 e seguintes. Este tema, levou-o ao Top 10 britânico em 1979 e é uma das baladas mais conhecidas do hard rock.

GARY MOORE era velho amigo de Lynott, ambos formaram os Skid Row ainda nos anos 60, tendo o guitarrista integrado por duas vezes os Thin Lizzy, sendo, após a morte do baixista, aquele que mais lutou para preservar a sua memória e organizado mesmo as primeiras homenagens. Um dos frutos dessa amizade é este tema, em que PHIL LYNOTT toca baixo, canta e é co-autor da letra. Curiosamente, o início do sucesso de Moore, corresponde ao ocaso de Lynott, que pouco depois terminaria os Thin Lizzy, em 83, para iniciar uma carreira a solo que se revelou curta, pois faleceria a 4 de Janeiro de 1986.

Este vídeo é simbólico não só porque marca a reunião dos dois, mas também é a última presença de Lynott, em palco, na Irlanda, sua terra natal. Para lá da excelente técnica de guitarra de Moore, num dos melhores solos do hard rock de todos os tempos, há também o diálogo com o baixo, tornando o tema também um pouco de Phil, o que na realidade era. Mais tarde, o duo gravaria ainda outro dueto, «Out In The Fields», sobre a guerra pela independência irlandesa.

O porquê da escolha do tema para referenciar a data da morte de Lynott, evitando os muitos clássicos dos Thin Lizzy, reside no primeiro verso do tema “I remember Paris in ’49”. Ser negro na Irlanda católica dos anos 50 e 60 não era fácil, muito menos, filho de uma mãe solteira. Talvez por tudo isso, a presença da mãe de Lynott foi sempre uma constante na sua carreira, e há até boas histórias sobre a pensão que ela geria e foi usada por muitos grupos britânicos em digressão, lá atraídos pelo filho. O pai, oriundo da Guiana Britânica, ausente ainda antes do nascimento do músico, chamava-se Parris e Lynott nasceu exactamente em 1949. Tudo isto dá uma outra dimensão à letra, e ao tema. Hoje alguém lhe chamaria um easter egg, mas basta apenas recordar que, para lá de brilhante músico e compositor, Lynott escreveu também algumas das melhores letras do hard rock dos anos 70.