GIRLSCHOOL + ALCATRAZZ @ RCA Club, Lisboa | 06.09.22 [reportagem]

Noite de peregrinação da velha guarda para ver duas bandas míticas no RCA Club: GIRLSCHOOL e ALCATRAZZ. Inicialmente ainda era previsto haver abertura por parte dos ASOMVEL, não tão icónicos mas também revelantes dentro das sonoridades mais tradicionais; no entanto, o cancelamento não revelou impacto no entusiasmo que estava palpável para receber “o prato principal”, uma aula de hard’n’heavy de enorme classe que acreditamos que superou todas as expectativas, que já eram altas. Foi pelos ALCATRAZZ que a noite começou, até quase de forma sorrateira, com Doogie White a subir ao palco e a começar a falar com o público com o seu sotaque escocês, revelando como tinha gostado de passar o dia na nossa capital e salientando as geladarias como a sua perdição. Bom humor que viria a ser uma constante ao longo de toda a noite, assim como a qualidade musical que começou logo com a interpretação de «Grace Of God», um destaque do seu mais recente trabalho «V» — que, tal como o nome indica, é o quinto álbum de originais –, mas obviamente que os clássicos também marcaram a presença na figura de «Too Young To Die, Too Drunk To Live», «Jet To Jet» ou até «God Blessed Video», do subvalorizado «Disturbing The Peace». Também não falharam uma série de versões dos Rainbow e Michael Schenker — afinal, White colaborou com ambas as entidades. Uma banda sólida, um guitarrista fenomenal (Joe Stump está à parte) e um público que vibrou como nunca com, por exemplo, a emocionante homenagem a Ronnie James Dio na «Temple Of The King».

As GIRLSCHOOL podem ter ficado na memória colectiva como a primeira grande banda totalmente feminina a tocar hard’n’heavy — ou até mesmo pelo mítico split com os Motörhead nos idos de 1981 — , mas a verdade é que apesar de terem andado a voar muito abaixo do radar nos últimos quarenta anos, nunca estiveram propriamente ausentes e, no RCA Club, deram uma autêntica lição em longevidade, energia, humor e graciosidade. Como seria de esperar, os dois primeiros álbuns, «Hit And Run» e «Demolition», foram os mais requisitados, mas ainda houve lugar para algumas surpresas, até mesmo cortesia da própria banda, como quando Kim McAuliffe partiu uma corda da guitarra. Para não se ficar à espera que o técnico remediasse a situação, nada como arrancar para uma versão épica da «Tush», dos ZZ Top, que acabou por substituir no alinhamento «Take It All Away» e foi um dos muitos momentos altos desta noite. Por falar em covers, também tivemos direito ao tema que a banda tinha feito para o já referido split com Motörhead, «Bomber», seguido daquele que Lemmy e companhia tinham tocado delas, «Emergency». Supostamente essa seria a última canção do alinhamento, mas o público queria mais e a banda engatilhou rapidamente uma «Screaming Blue Murder» que finalizou uma noite memorável e que prova que, embora a nostalgia comande muitos dos destinos e atenções na nossa cena, existe música que vale sempre a pena recordar e bandas que demonstram nunca estar velhas demais. Sortudos foram aqueles que o puderam presenciar no mesmo palco e na mesma noite.