GLASYA: «Attarghan» | Scarlet Records, 2022 [review]

Ambicioso como muito raramente se faz no mercado nacional, «Attarghan» é, sem dúvida, um disco maior na produção nacional dentro do seu género e só por isso já merece relevância. Junte-se a isto um conjunto de convidados, de maior ou menor expressão no panorama nacional e internacional do rock melódico, e percebe-se a visão grandiosa que está subjacente ao trabalho. É o próprio grupo que diz escrever soundtrack metal, inspirando-se nas bandas-sonoras dos anos 60 e 70. Escutar este disco, escutar a emoção impregnada nos temas – e a narrativa, quer nas letras, quer através da spoken word – traduz-se numa viagem por uma obra sonora tão válida como odisseias literárias de sword & sorcery ou história romanceada. Mesmo sabendo-se da facilidade de hoje em fazer orquestrações, é impossível ignorar o arrojo empregue nos arranjos do disco e no ambiente criado, desde logo na narrativa inicial do tema-título, a cargo de Nélson Raposo, narrador ao longo de todo o enredo da história.

Há, porém, arestas que deviam ter sido limadas, mas que se perdoam numa banda novel e num segundo trabalho, como é este, mesmo considerando a carreira prévia de muitos dos elementos encolvidos no grupo. Uma obra desta dimensão necessitava de outra supervisão e de um produtor mais atento e interventivo. Desde logo na narrativa, demasiado literária e preocupada em guiar o ouvinte através da história, aproximando o disco mais de um jogo de Magic que de um trabalho musical. A ousadia musical permite perdoar algumas falhas e compreender opções. Em termos sonoros, menos é sempre mais, sobram faixas, ou tornam-se longas, como com a narrativa no final de «Eye To Eye Sword To Sword». Noutros casos, a orquestração retira impacto às muitas vozes que compõem o disco, num balanço instrumental que apaga registos ao sobrepor outros, caso de «A New Era Has Come».

Instrumentalmente tudo resulta irrepreensível, com boas orquestrações. A lista de convidados pode não trazer nomes impressionantes como no caso de uns AVANTASIA, mas é extensa, contando com Caterina Nix, dos CHAOS MAGIC, Marco Pastorino, dos TEMPERANCE, Corvus, dos DESIRE, Lavinia Roseiro, Inna Calori e Catarina Póvoa. A produção é de Fernando Matias nos Pentagon Audio Manufacturers, por onde já passaram os MOONSPELL, GWYDION ou SINISTRO. O típico disco que ganha ainda mais protagonismo por ser realizado em território nacional e só quase com “prata da casa”. Algo que joga a favor do grupo, mas que nem sempre permite dar à ideia original as asas que esta merecia. Mesmo com uma editora, a italiana Scarlet Records, que não sendo de primeira linha, possui algum protagonismo no campo onde o grupo se move, é de saudar o resultado obtido.

Neste peplum português. «Attarghan» é um trabalho certamente adequado a fãs de bandas como KAMELOT e EPICA. Escutar uma «Way To Victory» serve perfeitamente para perceber tudo que está por trás deste disco de metal melódico, com veia épica. Da mesma forma, os dois singles já divulgados, mostram muito do que por aqui rola, seja no caso de «From Enemy To Hero» ou no de «Journey To Akhbar». Esta última faixa, permite ainda descobrir a argelina Rim Bouali, agora radicada em Portugal e cuja excelente voz merece ser seguida. O balanço final, resulta obviamente muito positivo, ficando apenas a mágoa de o grupo não poder ter tido mais meios à sua disposição para concretizar a obra. Se «Heaven’s Demise» se revelava auspicioso sobre o futuro do grupo, «Attarghan» é, sem dúvida, um dos discos mais importantes, feitos até hoje, no campo do metal melódico em território nacional. [8.5]