GLASYA: “Tentámos que o ouvinte fosse levado a imaginar o que estava a acontecer” [entrevista]

É já amanhã, Sábado, 21 de Maio, que os GLASYA vão finalmente apresentar o seu novo álbum, intitulado «Attarghan», ao vivo, na companhia dos SECRET CHORD e LILITH’S REVENGE, que actuam como bandas de “suporte”. O evento terá lugar no Porto, na sala Metalpoint, no C.C. Stop, a partir das 22:00. A propósito do disco, editado pela italiana Scarlet Records, a LOUD! esteve à conversa com o guitarrista Hugo Esteves.

Com tudo o que se passou entretanto, o vosso primeiro álbum ficou por promover.
Ainda tivemos um festival marcado na Alemanha, bem como datas à volta que foram reagendadas. Depois, fomos vendo tudo a passar para a frente. Algumas datas passaram para depois do Verão, outras foram mesmo canceladas. As que foram reagendadas, acabaram também por ser canceladas. Ou esperávamos que as coisas fossem marcadas, sujeitos a adiamentos consecutivos, ou tínhamos de fazer alguma coisa. Falámos e optámos por seguir em frente. Havia a ideia base para este trabalho, mesmo só uma ideia formada. Pegámos nisso, cortando o que estávamos a fazer e começámos a trabalhar. Caso contrário, ficávamos na corda bamba e não fazíamos nada.

E, entretanto, mudaram de editora.
Isso aconteceu já depois do novo álbum estar masterizado. Tínhamos uma relação boa com o Ângelo, nosso o AR, que é uma pessoa que já acompanhava a banda. Mostrámos-lhe o produto final, explicámos o conceito e nasceu a parceria. Tem corrido bem, eles são muito prestáveis. Foi mais um objectivo que conseguimos cumprir.

No século XXI, uma banda portuguesa resolve fazer um álbum conceptual sobre um personagem da antiga Pérsia.
Todos nós temos influências diferentes e gostos pessoais, mas apreciamos a componente cinematográfica e dos contos. Misturando e ouvindo, por acréscimo, a parte musical. Neste caso especifico, o Dave, nosso teclista, tinha uma ideia que nasceu de um álbum que ouviu há muitos anos, de que agora não recordo o nome. Ele queria compor algo que desse a oportunidade às pessoas de estarem a ouvir e fazerem mentalmente o filme. A ideia base surge daí. Ele tinha umas demos, tudo muito cru, e falou comigo a perguntar o que podia fazer a partir dali. Tentámos fazer uma coisa nova, estudar o que se podia fazer e depois seguirmos caminho. A trilha sonora criada terá sempre interpretações diferentes de pessoa para pessoa. A parte temática e cultural vem do gosto musical do som desses países, e também da parte visual, que é chamativa. Tentámos não tirar a identidade à banda, mas aproximarmo-nos visualmente do que estávamos a falar.

Existe noção da ousadia em dar um passo assim, quando o vosso som e base de fãs ainda não estavam propriamente estruturados.
Houve uma tentativa inicial de perceber e chegar a um consenso sobre o que pretendíamos fazer. A história foi escrita e a música foi toda composta para a narrativa. Tentámos que as dinâmicas não fossem as mesmas, que o ouvinte fosse levado a imaginar o que estava a acontecer. Usámos sons diferentes, as próprias estruturas das músicas reflectem a narrativa e, nesse ponto, mudámos muito a música, mas fez sentido que assim fosse, face ao trabalho que estávamos a desenvolver e ao que procurávamos.

Reúnem diversos participações e nem todos são nacionais, como se convoca quase uma dezena de convidados?
Alguns apenas relatam a história, outros cantam ou tocam. Procurámos os que eram mais fáceis de atingir e expúnhamos o que pretendíamos. Foi mais a Eduarda que contactou as peossas e as colocou à vontade sobre o que se iria fazer. Algumas dessas participações resultaram de relações que tínhamos estabelecido em concertos, como o Marco Pastorino, dos TEMPERANCE, e a Caterina Nix, dos CHAOS MAGIC. Quando tocámos com os VISIONS OF ATLANTIS no RCA Club, ficámos muito tempo a falar com ela, e depois mantivemos o contacto nas redes. Com eles os dois, foi tudo feito à distância. Com os convidados portugueses foi mais fácil, já que era tudo feito por cá. Procurámos as pessoas pelo timbre e o que podiam fazer num dado ponto do disco, como o caso da Lavinia Roseiro, que só faz a voz da rainha. Foi um processo engraçado e diferente.

Sentiram limitações em termos físicos, como espaço para edição em formato CD, por exemplo?
Da forma como escrevemos a história, dividida pelos capítulos, poderia ter acontecido, já que as letras foram escritas antes da música. Essa situação poderia ter surgido, mas não tivemos o sentimento de precisar de um disco-duplo para contar a história.

Com o primeiro disco, deram poucos concertos. Para este trabalho era natural que surgisse executado na íntegra. Como farão o balanço entre temas de dois discos que urge apresentarem?
Ainda anda tudo em fase experimental de marcar os concertos e ver se é possível. Mesmo na banda, para ensaios ou gravações, íamos agendando e volta e meia, um não aparecia porque tinha de fazer teste ou ficar em casa. Com os concertos vai tudo dar à mesma situação. Terá de haver um compromisso entre apresentar o disco e fazer concertos mais focados nisso, e o primeiro trabalho. Não há nada ainda muito delineado, porque ainda não há margem para isso.

A audácia de um disco destes, numa fase em que se arriscam a tocar em slots mais curtos, provavelmente implicará que tenham de esperar um pouco mais até poderem executá-lo na íntegra, com condições especiais e à altura.
Obviamente que sempre que for uma situação dessas, não vai dar para o fazer. Quando for algo organizado, irá ser preparado para ser assim. Temos a noção de que sempre que haja oportunidade, muitas vezes não haverá oportunidade para o disco ser tocado na íntegra. Pelo tempo, ou pelo cartaz em que estivermos inseridos. Não pensámos muito nessa óptica quando o disco foi composto, pois nunca sabemos bem o que se pode fazer.

Qual a relação com a editora, qual o papel dela?
Estão a usar todos os canais para divulgação, mesmo fora do continente europeu. Não há contratos de booking ou management. Temos uma relação boa e pode surgir convite do lado daqui a um ano ou seis meses, para fazer algo de novo. São pessoas fáceis de contactar, sem grandes tempos de resposta. Temos hipótese de lançar algo mais de futuro, sim, e está a correr tudo bem, num relacionamento super saudável. Se calhar por já acompanharem a banda, isso pode ter contribuído para melhorar o processo.

Graças ao vosso som e terem a experiência com uma editora alemã, se calhar o vosso público alvo será mais fora de portas, principalmente na Europa central, não?
Sim, felizmente, ou infelizmente, não acontece só com os Glasya, mas também com outras bandas. Alemanha e países adjacentes, é onde está o foco. A editora anterior, permitiu atingirmos alguns pontos e divulgar, mas a capacidade de promoção da Scarlet é diferente. Podemos chegar a mais gente, que permite incluir esse foco de mercado, e outros. Com mais gente e uma componente digital mais forte. Trabalham outras bandas, com mais nome e seguidores, e acreditamos que uma coisa leva à outra.