HAKEN e BETWEEN THE BURIED juntam-se em digressão europeia

Convenhamos, o rótulo “metal progressivo” pode significar uma série de coisas diferentes. Para alguns músicos, descreve uma abordagem à composição que se concentra naquilo que pode ser feito com tecnicidade, levando a conceito de canção muito além do que se ouve habitualmente. Solos de guitarra angulares, bateria intrincada e padrões fora de ritmo criam uma sonoridade que é infinitamente emocionante de ouvir e tentar decifrar sem fazer equações matemáticas mas, no seu âmago, o adjectivo “progressivo” deve significar algo que impulsione o género além de clichés, de convenções e dos níveis de composição média. Os HAKEN e os BETWEEN THE BURIED AND ME são dois dos mais brilhantes exemplos de músicos que, apostados em não se vergarem às regras, têm conseguido fazer progredir largamente a tendência e, no início do próximo ano, vão fazer o gáudio dos fãs ao juntar-se na Island In Limbo Tour. A rota tem paragem assegurada em Lisboa e no Porto, a 12 e 13 de Março de 2023, no LAV – Lisboa ao Vivo e no Hard Club, respectivamente. A primeira parte dos espectáculos será assegurada pelos norte-americanos CRYPTODIRA. Os bilhetes para o concerto custam 27€, à venda a partir de 29 de Agosto nos locais habituais.

Um dos elementos definidores do heavy metal metal é a agressividade, mas sempre houve bandas dispostas a ir para além da força primitiva dos acordes na criação de composições mais inventivas e técnicas. Nesse sentido, os HAKEN são uma banda progressiva moderna de pleno direito. Criados em 2007, na cidade de Londres, pelo guitarrista e teclista Richard Henshall, que tinha feito até então parte dos To-Mera, o grupo lançou dois registos de longa-duração, «Visions» e «Aquarius», no início da década passada. Desde aí, o seu som evoluiu para uma amálgama caleidoscópica que inclui elementos de metal progressivo, jazz, pop, electrónica e rock, e deu origem a títulos tão aplaudidos como «The Mountain», «Affinity» e «Vector». Ao longo do caminho, a capacidade para explorarem ganchos orelhudos levou-os a território invulgar, que os viu serem rotulados como uma das propostas mais inventivas da sua geração. «Virus», o mais recente longa-duração do sexteto, foi editado em 2020 e os músicos estão actualmente a trabalhar no seu sucessor.

Com duas décadas de experiência às costas, seria fácil ver os BETWEEN THE BURIED AND ME sentados à sombra das entradas nas tabelas da Billboard, das pontuações máximas de jornais de referência como o The Guardian, das nomeações para os Grammys e dos muitos quilómetros de estrada percorridos em nome próprio ou com gente como os Lamb Of God ou os Mastodon. Na verdade, até podiam estar só um bocado a gozar o facto de terem uma espécie rara de estrelas do mar pré-históricas, descobertas em 2018, com o nome da banda. Por esta altura, até seria muito fácil dizer que não têm absolutamente mais nada a provar a ninguém, mas desenganem-se os mais incautos, porque estes músicos sempre pensaram de forma diferente. Com «Colors II», o mais recente longa-duração, Tommy Rodgers e companhia decidiram elevar a fasquia e assinaram uma sequela de «Colors», considerado “um dos 100 melhores álbuns de hard rock e heavy metal do século 21”.

De formação mais recente, os CRYPTODIRA são um quarteto de metal progressivo/experimental oriundo de Long Island, nos Estados Unidos. Com um som em constante mutação e recheado de surpresas, os músicos procuram adicionar sujidade ao som polido que é normalmente associado ao metal de tons mais vanguardistas e, em discos como «The Devil’s Despair» e «The Angel Of History», fundiram de forma muito inteligente a natureza caótica e espástica de pioneiros como os Converge e The Dillinger Escape Plan com uma vertente significativamente melódica, equilibrada em composições longas e expansivas, mas que retêm uma quota-parte de agressividade suja muito considerável. Com uma abordagem lírica realista e humana num mundo progressivo encravado em temas espaciais e narrativas fictícias, a abordagem pouco ortodoxa a um estilo em que tudo parece já ter sido inventado afirma-os como um grupo de músicos que tem algo muito importante a dizer – e uma forma muito interessante de o fazer.