IGNITE: «Ignite» | Century Media, 2022 [review]

O que será pior que ter algo como a COVID-19 a fustigar os planos de uma banda — seja de digressões relativas trabalhos já lançados, seja de lançar um álbum que estava pronto para ser apresentado em público? Talvez perder o frontman para ajudar?. Foi o que aconteceu aos IGNITE, que em 2019 ficaram sem Zoltán Téglás, o marcante vocalista que já ocupava a posição há 25 anos. Seria o suficiente para qualquer banda ponderar muito bem o próximo passo. E assim foi, decididos a elevar a fasquia em todos os níveis, queriam não só obviamente prosseguir o caminho que ficou interrompido pela mudança de formação como pela pandemia, assim como também ir buscar alguma energia e inspiração às suas raízes musicais. Dois anos depois, aqui está o resultado.

Para já, álbum auto-intitulado. Podem chover acusações de supersticioso, mas quando uma banda decide dar este passo, é sinal de que tem noção de que tem em mãos um excelente trabalho. Claro que poderá sempre estar iludida e, algumas vezes assim se verifica, mas este não é o caso. Depois temos o novo frontman, o surpreendente Eli Santana. Surpreendente, porque trata-se do guitarrista de bandas como HOLY GRAIL e HUNTRESS, que se situam em escaparates mais metálicos. O músico tem aqui uma prestação irreprensível, com uma voz e personalidade que assentam perfeitamente neste contexto. Claro que resta saber como se enquadra na banda ao vivo e verificar a dinâmica com o restante quarteto. Para já, neste disco, estamos agradavelmente surpreendidos. Está aqui tudo aquilo que prometeram. Os temas surgem perfeitamente na sequência criativa da banda, não se sentindo propriamente uma reinvenção, mas indo buscar muita da energia hardcore do seu início de carreira. A melodia é um dos grandes pontos de destaque e uma das razões que faz com que este álbum seja um autêntico vício do primeiro ao último momento.

Poderá parecer lugar-comum, mas as primeiras audições — que, já agora, sucederam-se num ápice aqui deste lado– são recebidas da mesma forma como se estivéssemos a ouvir os primeiros trabalhos da banda, ou seja, álbuns com os quais já convivemos há bastante tempo. Poderá ser uma forma diferente de definir déjà vú. A diferença está sobretudo pelo sentido de emergência e frescura com que malhas como «Call Of The Dogs» e «The Butcher In Me» nos batem. Depois, é tudo muito fácil de interiorizar; e difícil de cansar; um álbum auto-intitulado que marca uma nova era da banda e, contrariamente ao que acontece com muitas outras quando mudam de vocalista, neste caso parece haver um belo futuro à frente. O presente, esse, já nos trouxe este grande álbum de hardcore melódico que não vamos querer largar tão cedo. [9]