É uma efeméride importante que vivemos ontem, dia 22 de Março de 2022, já que um dos álbuns mais importantes da história do heavy metal, o «The Number Of The Beast», cumpre a bonita e redonda “idade” de 40 anos. Quatro décadas, inimaginável para os mais novos, um choque para os mais velhos que ainda se lembram de o ter comprado “noutro dia”, e do impacto que terá tido, praticamente sem excepção, em todos nós, ouvintes do som eterno. Um dos pontos mais marcantes do terceiro álbum dos Iron Maiden é o facto de ter sido o álbum de estreia do carismático, e por esta altura já absolutamente lendário, Bruce Dickinson. O vocalista recrutado, na altura, aos Samson, é portanto um dos homens mais indicados para nos dar alguma perspectiva histórica extra sobre o álbum, e foi mesmo o que o cantor britânico fez numa entrevista recente dada à Heavy Consequence.
Uma das primeiras coisas que Dickinson recorda é a atmosfera que presidiu às gravações. Aparentemente, foi uma festa completa. “Tínhamos a maior parte dos temas e andávamos a ensaiá-los, e achámos que já tínhamos uma boa ideia daquilo a que deviam soar. O Martin Birch apareceu durante um par desses dias de ensaios, lá acenava com a cabeça, e dizia ‘sim, ok, tudo bem’, e nós gravávamos,” começa o vocalista. Simples assim. As gravações decorreram, recorde-se, no início de 1982, nos Battery Studios, uma parte anexa pertença dos Morgan Studios. “Foi tipo uma atmosfera de festa enorme durante a gravação toda. Na verdade, até fizemos uma parede daquelas latas de cerveja de sete pints – toda a parede da sala de controlo principal era uma pirâmide de barris de cerveja que bebemos durante as sessões. Ficávamos acordados até às quatro ou cinco da manhã, e quando acabávamos de gravar, ouvíamos o que tínhamos captado, e íamos repetindo isto até o produtor dizer, basicamente, ‘Vá, têm que ir para a cama porque amanhã vão voltar aqui e fazer isto tudo outra vez.’ A vibe era mesmo incrível.” Outra memória que Bruce tem dessas sessões é a de alguns locais de gravação… pouco ortodoxos. “Gravei a maior parte das minhas vozes numa cozinha delapidada. Tinha sido quase tudo arrancado e estava vazia, à excepção de muito gesso húmido nas paredes… e eu! Dizer que havia algum eco natural é um eufemismo,” revela entre risos. É notória a relativa inocência dos músicos – apesar de os Iron Maiden já serem uma banda com algum sucesso na altura, nada os podia ter preparado para o que aí vinha, para a viragem que este álbum significou. Bruce diz que “não tínhamos ideia nenhuma da dimensão que isto ia tomar, o quão grande ia ser a influência.” Dito isto, também foi um acontecimento que apanhou uma banda bem preparada para lidar com ele. “Os Maiden eram um animal diferente,” considera Dickinson a certa altura da conversa. “Éramos tão ferozes e rugiamos e mordíamos toda a gente!“
No player em cima podes ver a curta entrevista na íntegra (em inglês, claro).