IRON MAIDEN: «Fear Of The Dark» [1992], o som de uma banda a desmoronar

É verdade que os anos 90 acabaram por representar uma mudança tão grande para as bandas grandes dos anos 80 como para as dos 70s no salto para os 80s, mas ninguém podia imaginar que até os GIGANTES DO HEAVY METAL fossem tão afectados. Se o «No Prayer For The Dying» já nos tinha mostrado uma mudança bastante significativa no estilo da banda, com Harris e companhia a afastarem-se da música com sabor a fantasia que os tinha tornado populares, o «Fear Of The Dark» acabou por provar que ainda não sabiam bem para onde ir. Para começar temos logo a ausência de Adrian Smith, que provou aqui ser um incómodo pelo segundo álbum consecutivo. Nada contra o Janick Gers, mas com o Bruce quase a dizer adeus para embarcar na sua carreira a solo, às vezes parece que a banda estava a desmoronar. Provavelmente pela primeira vez, os IRON MAIDEN serviram um disco de fillers, com canções que simplesmente carecem da energia e paixão a que a banda nos tinha habituado até então. Tem o tema-título, claro que tem — esse está, certamente, entre os mais icónicos dos britânicos, mas não há como negar que, nesta altura, estavam a precisar seriamente de um impulso criativo.

O álbum começa da forma mais eficaz possível, isso não há como negar. A «Be Quick Or Be Dead» aproxima-se de perfeita na função de tema de abertura, e provavelmente até foi escrita com isso em mente. É Maiden clássico; um ritmo acelerado, galopante, e o uivo de Bruce garantem um tema que não soaria deslocado em qualquer um dos discos anteriores da banda. De certa forma, a «From Here To Eternity» segue a mesma fórmula, mas a partir daí o disco toma um caminho um pouco diferente. A prestação do Bruce Dickinson é, certamente, um ponto de discórdia entre os fãs, sobretudo depois de sabido que deixaria a banda depois de terminado o ciclo de promoção ao disco. Algumas das melodias não são tão inspiradas ou memoráveis, certo; a voz ainda estava na sua melhor forma, mas às vezes o Bruce não soa como ele em inúmeros momentos. Ocasionalmente soa a Halford (o que é bom), outras vezes improvisa no estilo de Axl Rose (mau). Não se pense, no entanto, que estamos perante um passo no abismo, muito menos um momento de ruptura para com o passado, até porque nada do que se ouve soa estranho tendo em conta o que já vinham a fazer. Mesmo assim, todos os músicos, até o Steve Harris, parecem um pouco mais conservadores em termos de velocidade, o que acaba por atenuar a intensidade do material. Ouça-se, por exemplo, a malfadada «Weekend Warrior», ali entalada entre dois dos momentos mas celebrados do alinhamento — a «Judas Be My Guide» e a «Fear Of The Dark». Durante aqueles seis minutos e meio, os IRON MAIDEN soaram como nunca tinham soado antes — como uma banda de arena rock dos anos 80.

Lançado a 11 de Maio de 1992, o segundo álbum desde a saída de Smith e o último com Dickinson (ambos voltariam à banda em 1999), pura e simplesmente não respira a mesma centelha artística que Smith e Dave Murray criaram na década anterior com os seus leads gémeos. O Gers, por muito que desse ao dedo, tinha sempre uns sapatos muitos grandes para calçar. E isso nota-se ainda mais porque o disco se estica demais, deixando a nu muitas dessas falhas, durante os 58 minutos que dura. Além do tema-título, há outras canções sólidas, claro que há; a «The Fugitive» e a «Chains Of Misery», assim como alguns ganchos verdadeiramente cativantes (parecidos com aqueles que salvaram o «No Prayer For The Dying» de se transformar num desastre completo): na rapidez do single «Be Quick Or Be Dead», na escaldante «From Here To Eternity» e na sombria e misteriosa «Judas Be My Guide». E, claro: dizer que um álbum dos IRON MAIDEN, de 1992, não está ao nível do que fizeram antes já é, por si só, colocar as coisas num patamar bastante elevado — isto porque tudo o que gravaram até ao «Seventh Son Of A Seventh Son» era de primeira linha.