JETHRO TULL: Coliseu dos Recreios, Lisboa | 18.02.2022 [reportagem]

Parece quase surreal caminhar pela Rua das Portas de Santo Atão e ver uma fila de pessoas à entrada do Coliseu dos Recreios para voltar a assistir a um concerto de uma banda internacional. Contra rodas as expectativas, os JETHRO TULL de Ian Anderson seguiram em frente com o concerto agendado e o número de pessoas que se encontrava para entrar no recinto era, desde logo, sinónimo de casa cheia. É certo que a faixa etária média estava bem acima dos 40 anos, mas o entusiamo devia estarao nível de uma audiência com metade dessa idade. Às 21:40 começa a ouvir a introdução que daria início ao concerto. O aviso estava dado e os JETHRO TULL iam percorrer a sua carreira tocando os temas mais progressivos – The Prog Years, é assim que se intitula a digressão. O concerto iniciou-se ao som de «Nothing Is Easy», do álbum «Stand Up» de 1969 – que foi o primeiro trabalho com o guitarrista Martin Barre, que iria ficar na banda até à dissolução em 2012. Seguiram-se «Love Story» e «Thick As A Brick», que provocaram a primeira grande reacção por parte do público.  

Ao longo da noite, Ian Anderson foi contando algumas histórias entre canções, como a que antecedeu «Hunt By Numbers», com o músico a recordar o seu gato, Curry. Consta que, quando ia à rua, o bichano gostava de levar para dentro de casa criaturas mais pequenas e desfazê-las por completo, deixando o chão cheio de sangue. Segundo Ian, o gato agora é vegan. E não se queixa! A canção acabou por ser dedicada ao gato e a Vladimir Putin.  Seguiram-se «Bourrée In E Minor» e «Black Sunday», aqui quase um dueto entre Anderson e o guitarrista Joe Parrish. Antes de revisitar o clássico «My God», o frontman dos JETHRO TULL referiu que, na altura em que o tema foi editado, corria então o ano de 1971, a letra lhe trouxe grandes problemas (e à banda), principalmente nos estados mais religiosos dos Estados Unidos. Os norte-americanos acharam que o tema era sobre anti-religião e a única coisa que Anderson pediu às pessoas foi que lessem a letra, fazendo um apelo ao bom senso.

Tinha terminado ali a primeira parte do espectáculo e, uma pausa que seria supostamente de quinze minutos, acabou por ser quase de meia hora, dando tempo ao público para visitar a banca de o merchandise e beber qualquer coisa. A segunda metade do concerto começou ao som de «Clasp», do álbum «The Broadsword And The Beast», de 1982. De seguida, ouviram-se «Wicked Windows» e o novo tema «The Zealot Gene», que Ian Anderson explicou ser sobre as pessoas maldosas que navegam nas redes sociais, estilo Donald Trump.  Depois ainda houve tempo para «Songs From The Wood» e a clássica «Aqualung», ambas muito bem recebidas pelo público, principalmente esta última. Para o encore, ficou «Locomotive Breath», que nos levou numa viagem de locomotiva no ecrã que estava por trás da banda e que, ao longo da noite, foi passando imagens e animações referentes a cada um dos temas. A noite terminou com «The Dambusters March», uma versão de um tema original de Eric Coates.  Resumindo, foi uma noite muito bem passada e com uma banda em excelente forma. É certo que alguns dos arranjos podem não ter agradado aos fãs mais acérrimos, mas a grande a verdade é que todos saíram felizes – apesar de não se terem visto grandes sorrisos pelo uso obrigatório da máscara – do Coliseu. Hoje à noite, a dose repete-se no Porto.