KNOCKED LOOSE: “Só queremos fazer música pesada e tocá-la bem alto” [entrevista exclusiva]

Às vezes não há PV ou grindcore que nos valha para aliviar a tensão de um dia “daqueles” e, nesses casos, vamos à procura de quê? De puro espancamento sonoro. Sim, porque às vezes é preciso uma valente dose de metalcore sem truques ou segredos, afinado bem lá em baixo, cuspido com raiva e com as descargas de energia nos sítios certos. Apoiados em breakdowns do tamanho de mamutes, durante os últimos seis anos, os KNOCKED LOOSE afirmaram-se como uma das mais entusiasmantes propostas de hardcore bruto de que à memória em algum tempo. Seguindo as pisadas dos Code Orange e Vein.fm, estes miúdos de uma pequena localidade nos arredores de Louisville são uma verdadeira força da natureza com, segundo testemunhos recentes, capacidade de provocar os pits mais loucos e brutais da actualidade underground. Sobre isso, e muito mais, falámos com o vocalista Brian Garris.

Lembras-te do que te atraiu para a música pesada?
Sei que comecei a ouvir música pesada desde muito pequeno. A minha tia Heidi mostrava-me bandas aqui e ali, e acabou por ser uma peça fulcral na transição da fase em que só ouvia rap e hip-hop, que até ali eram os meus principais interesses quando se tratava de música. Sempre adorei ouvir música, desde que me lembro. Acho que também ajudou ter uma série de gente na família envolvida na música, e numa série de géneros diferentes. Para mim, no entanto, o hip-hop sempre foi o género de eleição. Depois passei um Verão com a minha tia e ela mostrou-me bandas como os Korn, os Slipknot e os Metallica; o meu interesse floresceu a partir daí. O que é mais fixe é que, com os Knocked Loose, acho que todos temos raízes e interesses diferentes quando se trata da música pesada que ouvimos.

E quem ou o que te fizeram quereres estar numa banda de hardcore?
Quando comecei a tocar, nunca quis ser vocalista. Um ano, por alturas do Natal, peguei numa guitarra e comecei a tocar, mas descobri rapidamente que não era para mim. [risos] Na altura, o Jared Barron estava a tocar com outros miúdos da escola e pediu-me para gritar na banda, por isso comecei a gritar com 13 ou 14 anos.

E como é que os Knocked Loose começaram?
O Kevin e eu já nos conhecemos desde o 5.º ano, fomos para a escola e sempre tivemos várias aulas juntos. O Isaac e o Kevin, por seu lado, entraram para o ensino médio juntos, e foi assim que se conheceram. Quando começámos, éramos apenas um quarteto. O Cole não estava na banda nessa altura; era só eu, o Kevin, o Isaac e um baterista diferente. Na altura lançamos a maqueta «Pop Culture», depois começaram a surgir oportunidades para fazermos digressões. O nosso baterista original não as queria fazer, por isso pegámos no Kevin Kaine e adicionámos o Cole, que andava numa escola diferente, para fazermos um quinteto.

No espaço de seis anos, passaram dos concertos nas casas dos vossos amigos para as digressões pelo mundo. Era algo que podiam prever?
Nunca. Quando começámos, o raciocínio era: só queremos fazer música pesada e tocá-la bem alto. Depois, entrar numa carrinha e chegar o mais longe que pudéssemos. Acho que, de certa forma, nenhum de nós podia sequer imaginar que a banda ia durar seis anos, sabes? Não faço ideia, não sei porque é que as pessoas, de tantos quadrantes, nos receberam tão bem, mas a verdade é que o fizeram. Fico surpreso sempre que alguém me lembra disso. Gosto de pensar que a nossa música é boa, e as pessoas também pensam que é boa, por isso é muito fixe. Além disso, temos uma boa ética de trabalho, vamos em tour e ficamos nesse registo durante o máximo de tempo que pudemos, o que ajuda… Damos oportunidade a todos de nos verem e as pessoas gostam disso.

O sucesso alcançado até agora afectou, de alguma forma, a dinâmica da banda?
Abriu-nos muitas portas que, de antemão, não teriam sido abertas. Isso deu-nos uma imensidão de possibilidades, permitiu-nos experimentarmos coisas que nunca teríamos experimentado de outra forma, e acho que nos ajudou a amadurecer bastante. Acho que, neste ponto, já estamos aqui há tempo suficiente para nos podermos dar ao luxo de dizer que analisamos e sabemos exactamente o que gostaríamos de fazer da próxima vez.

Os vossos objectivos mudaram?
Não, continuamos apenas a querer divertir-nos, curtir com os nossos amigos, basicamente é só isso. A diferença é que, agora, o fazemos em diferentes partes do mundo.

O «Laugh Tracks» e o «A Different Shade Of Blue» soam muito parecidos, tanto na produção como no estilo. Achas que a continuidade importa nesse aspecto?
O «Pop Culture», que foi o primeiro EP, foi gravado pelo Isaac quando tinha 16 anos, e foi ele que fez tudo. Engenharia de som, mistura, gravação, tudo. Claro que nos dedicámos a fazer com que parecesse tão grande como um concerto, mas não processado demais. No «Laugh Tracks» gravámos com o Will Putney e sabíamos que acabaríamos por trabalhar com ele novamente no «A Different Shade Of Blue». Somos amigos, e essa foi a principal razão pela qual o escolhemos novamente. Também foi uma promessa que fizemos a nós mesmos. Quando gravámos o «Laugh Tracks», disseram-nos que precisávamos de um mês e nós achámos que uma semana chegava, mas demorámos dez dias. A sessão de gravação não foi má, mas achámos que não tínhamos usado todo o potencial do estúdio e dissemos que, na próxima vez, íamos aproveitar o mês. Isso fez com que não tivéssemos usado o método de gravar “ao vivo em estúdio”, como anteriormente.

Foi fácil abrir mão dessa fonte de energia que é tentar gravar “num só take”?
Foi, simplesmente, diferente. Em digressão, passámos por diferentes fases da escrita dos temas e, quando demos por isso, tínhamos dezanove. Tivemos de parar e trabalhámos neles durante mais seis meses, por isso a gravação desta vez foi feita esporadicamente ao invés de continuamente – trabalhar assim permitiu-nos fazer as coisas de forma diferente, mas confortável na mesma para nós. Não foi um problema, pelo contrário, deu-nos tempo para trabalharmos a fundo as músicas.

Vocês passam imenso tempo na estrada, há alguma história daquelas boas, que possas partilhar?
Na verdade, temos uma tonelada de histórias para contar e é difícil escolher entre todas. Eu gosto sempre de recordar quando estávamos em tour com os Vice – íamos na estrada e a carrinha deles começou a desviar de um lado para o outro. Eles encostam e vemos o vocalista e o guitarrista a brigar e a gritar um com o outro. Tentámos acabar com aquilo e, eventualmente, descobrimos o que aconteceu – eles têm um grelhador para cozinhar nas viagens mais longas… Um deles atirou uma garrafa de ketchup e eles começaram a lutar, o que fez com que o grelhador tombasse nas pernas do condutor. Cenas maradas, man!