MAIDEN UNITED @ RCA Club, Lisboa | 09.12.22 [reportagem]

Até podem achar estranho estarmos a fazer uma reportagem sobre uma banda que toca, na prática, versões de outra banda — não que haja qualquer coisa de errada com o conceito, mas enfim. No entanto, e em jeito de apresentação destes MAIDEN UNITED, não estamos a falar da típica banda de covers ou de homenagem, e aquilo que distingue este projectode todos os outros desse género é o simples facto de que não só pegam em clássicos dos Iron Maiden, como também lhes dão uma outra roupagem, acústica, e de extremo bom gosto. Uma abordagem que os levou a tocarem um pouco por todo o mundo, assim como também a editarem vários álbuns. O regresso do projecto a Portugal depois da estreia em 2019 infelizmente coincidiu com uma altura em que o RCA Club sofreu graves problemas com uma inundação (algo que afectou não só a zona de Lisboa, mas muitas outras em Portugal continental), o que inclusive obrigou ao cancelamento, na noite anterior, de um concerto dos Beyond Strength, quando todos se uniram para impedir que o pior acontecesse — uma situação que o próprio Joey Bruers, mentor da iniciativa, referiu quando mencionou que esta actuação também esteve quase a ser cancelada. Tendo sido esse o motivo ou não, infelizmente a sala estava algo vazia aquando do início do espectáculo, com a declamação de um excerto do imortal poema «The Rime Of The Ancient Mariner», ilustrado por algumas passagens do mítico tema da banda de Steve Harris.

Quando a banda entrou em palco, foi precisamente por aí que começaram, com uma versão instrumental do primeiro grande épico da Donzela de Ferro. O cenário dava indicação do bom gosto geral do conjunto, com o piano de cauda colocado ao lado da bateria, e com a banda posicionada de uma forma bem descontraída para o que viria ser uma noite mágica. Quando Rick Holleman (dos MetlhusalemPowerized e ex-Vicious Rumors) entrou em palco, foi já para atacar numa assombrosa versão de «2 Minutes To Midnight», antes de passarem para uma igualmente surpreendente «Aces High». Sendo esta uma digressão dedicada ao mítico «Powerslave», já se sabia que teríamos todos os temas desse álbum recriados, inclusivamente um que nunca foi tocado ao vivo pelos seus criadores, «Flash Of The Blade». Com Bruers a partilhar os deveres de comunicação com Holleman, a boa disposição foi sempre uma constante. Primeiro com o baixista a insistir (e com doses apreciáveis de sucesso) em falar português, e depois a revelar que, além dos problemas provocados pela pluviosidade, Holleman também se encontrava doente, o que tornou o momento ainda mais especial — porque só damos valor ao que temos na iminência de o perdermos, certo? Neste ponto em particular, foi para admiração de todos que se recebeu essa notícia, porque a sua prestação esteve extraordinária, dando uma alma completamente nova aos temas abordados — «The Trooper» e «Strange World» foram dois onde a emoção esteve nos píncaros.

Um momento especial foi também o da interpretação da «The Duellists» por Holleman e John Thermos (dos The Silent Wedding) ao piano, num dos momentos mais intimistas e belos da noite, assim como as de «22 Acacia Avenue» e «Die With Your Boots On». A grande magia deste projecto é a de transformar temas que podem passar despercebidos na carreira da banda britânica, mas que com uma outra roupagem e deixando a nu a sua essência, ganham uma dimensão totalmente diferente. Muito também graças a músicos fantásticos que, além dos já mencionados, incluem Pim Goverde na bateria e  Hein “The Riffmachine” Willekens, dos Splinterbomb e ex-Legion Of The Damned, na guitarra.  A banda sairia de palco e voltaria para a interpretação final de «The Evil That Men Do», que encerrou o espectáculo. Ou assim pensavam eles. Alguém do público disse que tinha vindo mesmo para ver a «Revelations», que até estava no alinhamento mas que a banda resolveu cortar para poupar a voz de Holleman. Com o público a comprometer-se a ajudar no refrão, foi mesmo com «Revelations» que os MAIDEN UNITED colocaram um ponto final em mais uma actuação mágica em Portugal, antes de seguirem para o Algarve, mais concretamente para o Bafo de Baco, em Loulé, onde certamente repetiram a proeza.

Fotos: Sónia Ferreira