SpeeDemon

MASSACRE METAL FEST @ UDCA, Vila Franca de Xira | 07.05.2022 [reportagem]

O ritmo de concertos tem aumentado exponencialmente nos últimos tempos, o que é um excelente sinal, dando a desejada sensação de normalidade que faltava após mais de dois anos de pandemia. Este Sábado foi exemplo disso mesmo, com diversos eventos a acontecer, e com um deles a ser o regresso do MASSACRE METAL FEST em Á-dos-Loucos, no concelho de Vila Franca de Xira. Um regresso com um estrondo, já que estava prevista uma autêntica maratona com dez bandas nacionais num cartaz de qualidade bastante elevada, e essas previsões bateram certo, em ambos os pontos: a maratona (para a duração da qual o atraso que se foi criando como uma bola de neve só contribuiu ainda mais), e a qualidade dos nomes, que se materializou em concertos, no geral, muito bons.

A começar já depois da hora prevista de início, a banda a dar início às hostilidades foram os Pure Steel Band, banda do concelho que é dona de um hard/heavy rock musculado e que recentemente lançou o seu EP de estreia, «Utopia», que foi o grande centro do foco da sua actuação. Com um frontman (Mário Pimenta, vocalista/baixista) bastante comunicativo, foi um bom início, com destaque para a «Keep On Rocking» e o seu excelente solo de guitarra. Deu-nos a sensação que a actuação foi prolongada para além daquilo que estava previsto, o que terá agravado o atraso inicial.

Depois de um hard rock tradicional, thrash metal old school. Os Alpha Warhead são uma banda jovem que tem uma devoção genuína pelo género, e que tem agarrado cada actuação que faz como se fosse a última. Mesmo tendo sido uma adição de última hora ao cartaz, depois da confirmação de que os Mindtaker não poderiam tocar por motivo de doença de dois dos seus integrantes, o entusiasmo da banda foi contagiante e temas como «Code Red» e «Fuel To The Fire» já são incontornáveis – são de resto os únicos temas lançados oficialmente – assim como «Backfire» e «Thunder, Rain And Lightning». Entusiasmo e energia palpáveis, e até tivemos o baixista e o guitarrista solo a tocar no meio do público, com uma excitação que faz falta ver mais vezes.

Uma nova banda também mas composta por veteranos da cena são os Rage And Fire, que deram o seu primeiro concerto. Rick Thor e Mário Figueira, companheiros dos extintos Ravensire, têm nesta nova empreitada de heavy metal clássico que tem tudo para triunfar. A banda apresentou dois temas da demo de 2021, «Demo 1986+35» (o tema homónimo e a «Tell The Tales (Of Medusa)», que tem uns solos de guitarra na melhor tradição clássica de Iron Maiden e Judas Priest) mas também deixaram um cheirinho do álbum de estreia que tem estado a ser registado. Estreia em palco e já um nome obrigatório a acompanhar.

Os Enchantya  saíram fora do teor mais tradicional que vingou até então, mas isso também não implicou uma menor participação ou entusiasmo por parte do público. A banda ficou sem o guitarrista Bruno Santos recentemente, e para o seu lugar teve a ajuda de João Pedro Ribeiro (dos My Enchantment e Malignea, que no dia anterior se tinham apresentado pela primeira vez ao vivo no Side B Rocks). O alinhamento esteve centrado naturalmente no último álbum de originais «On Light And Wrath» mas ainda houve oportunidade para visitar a estreia «Dark Rising», e ficámos também com a indicação por parte de Rute Fevereiro de que o novo álbum já estava finalizado.

De volta às sonoridades tradicionais, veio o death metal old school e bem bruto dos Rageful, numa actuação demolidora, provavelmente uma das melhores que já vimos deles. Com um grande álbum de estreia lançado em 2020 («Ineptitude»), a máquina estava bem oleada e temas como «Feed The Pigs» e «Whispering Rage» foram muito bem recebidos por uma sala que foi enchendo durante a actuação que teve um dos melhores sons da noite. E para torná-la ainda mais especial, não faltou a participação especial de Sérgio Afonso dos Bleeding Display na «Unsocial Network», tal como acontece no disco.

Pareceu que a sala estava mais vazia para receber mais uma banda local, os Konad. Pareceu… até começarem a tocar o seu thrash/crossover altamente abrasivo, porque passadas algumas malhas, cuspidas a torto e direito e sem grande espaço para respirar, a energia atingiu níveis elevados, e o público aderiu com gosto (circle pits incluídos), começando mesmo o fenómeno paranormal da noite, que foi o de apreciar chinelos (!) a voar  de um lado para o outro. A banda espalhou o alinhamento pela sua discografia, tendo até revelado alguns temas novos como «Release Yourself» e «Alien Punks», ambos ainda por lançar.

Para continuar a jogar forte em casa, foi a vez dos SpeeDemon subirem ao palco, eles que são a banda residente e que faz parte da organização do Massacre Metal Fest. O seu heavy/speed/thrash metal soa cada vez melhor, com a banda cada vez mais coesa – ainda na semana passada tiveram uma bela prestação no SWR Feast. Riffs e solos voaram a torto e direito tal como os malfadados chinelos que estavam tão irrequietos quanto o público. «Thunderball» e «Road To Madness» já são obrigatórios e ainda tivemos direito a serem revelados alguns novos, de onde destacamos «Words Of Fire», o tema-título do próximo trabalho de originais.

Os Sacred Sin eram um dos nomes maiores desta edição do Massacre Metal Fest e aquilo que prometiam era aquela dose de death metal lusitano clássico. E a melhor forma de começar seria mesmo com um clássico – «In The Veins Of Rotting Flesh». Com uma discografia considerável e com muitos clássicos, alguns teriam de ficar de fora até porque a banda de José Costa e Tó Pica apresentaram dois temas novos que farão parte do seu próximo lançamento, sendo eles «Hell Is Here» e «Storms Over The Dying World». Mas seriam temas como «Ghoul Plagued Darkness», «Eye M God» e o incontornável «Darkside» que teriam as maiores reacções, numa actuação de luxo.

Os Basalto subiram no alinhamento, pegando no slot deixado vago pelos Mindtaker, e se à partida os mais cépticos poderiam achar de que essa decisão poderia não ser a mais lógica (afinal os Mindtaker tocam thrash metal old school como manda a lei crossover, ao passo que os Basalto são donos de um do doom dinâmico mas bem diferente em termos de estilo), a reacção do público foi a contrária. Ainda que a banda tivesse sido algo prejudicada pelo atraso (que por esta altura já andava perto de uma hora). Tudo considerações que não tiveram qualquer peso nem na entrega do power trio de Viseu nem sequer na forma como o público os recebeu, depois de terem sidos conquistados tema após tema.

E para o final, os Attick Demons, uma banda que dispensa apresentações e que ficou encarregada de fechar a noite. Apesar da hora tardia e do público estar já desfalcado, os que ficaram fizeram a festa por todos os outros – a festa do heavy metal, com uma prestação de uma banda que esteve ao seu melhor nível. O nível de coesão é notável e as prestações individuais impressionantes – neste aspecto teremos de referir a de Pedro Correia na bateria, que esteve demolidor. Passeando pelos três álbuns, o mais recente («Daytime Stories… Nightmare Tales») e o primeiro («Atlantis») acabaram por estar em maior evidência, principalmente por este último ter sido reeditado em vinil como forma de comemorar o séu décimo aniversário. «The Contract», «City Of Golden Gates» e «The Flame Of Eternal Knowledge» são temas já obrigatórios, mas o que teve a reacção mais entusiástica (das originais da banda, pelo menos) da noite – «O Condestável (Ode a D. Nuno Álvares Pereira)». Um hino que não nos cansamos de ouvir. Antes de fechar a noite com «Atlantis», ainda houve tempo para outra “bomba”, uma inesperada cover dos Iron Maiden, «Wasted Years», cantada em uníssono pelo público.

No final, coração cheio por vários motivos. Por dez bandas de música pesada nacional, e por um evento que é exemplo da união que houve entre uma organização local e uma banda tendo em vista a divulgação e celebração da música ao vivo, fora dos centros habituais. Uma iniciativa que esteve congelada devido àquilo-que-todos-sabemos e que voltou mais forte que nunca, e que podemos considerar como um verdadeiro sucesso. Se poderia ter sido melhor? Claro que sim, mais público, horários mais rigorosos, mas tudo serve como aprendizagem. Para já, um passo extremamente importante e que deveria servir como inspiração para muitos outros, um pouco por toda a parte.

Fotos: Sónia Ferreira