O final da década de 80 foi um verdadeiro paraíso para os fãs de thrash. Abriam-se novos caminhos a torto e a direito, com clássicos marcantes e definidores do género a caírem do céu como tordos. METALLICA e SLAYER já eram deuses, os DARK ANGEL andavam a brutalizar as orelhas dos mais incautos no underground e os KREATOR pareciam capazes de fazer explodir o cérebro aos metaleiros mais experientes com as suas descargas de riffs bem retorcidos. Neste contexto, os MEGADETH não eram propriamente uma excepção à regra, mais foi com o terceiro álbum, intitulado «So Far, So Good… So What What!», que tornaram ainda mais evidente a sua grande vontade de conquistarem o mundo. A banda californiana estava, uma vez mais, a atravessar uma de muitas fases turbulentas, depois de Dave Mustaine ter despedido o baterista Gar Samuelson e o guitarrista Chris Poland em tour por não aparecerem nos ensaios de som. Com as gravações de um álbum agendadas para começar assim que a tour chegasse ao fim, o guitarrista/vocalista e o baixista David Ellefson tinham de agir rapidamente.
E assim fizeram. Samuelson foi substituído uma questão de horas por Chuck Behler, técnico de bateria capaz, que já os acompanhava na estrada, mas lugar de guitarrista foi mais complicado de preencher, com o lugar a ser ocupado inicialmente por Jay Reynolds, que supostamente gravaria o disco. No entanto, quando a banda entrou no estúdio Music Grinder para trabalhar no álbum, Mustaine e Ellefson perceberam rapidamente que o músico não estava à altura e, num golpe de génio, convidaram o seu professor de guitarra, Jeff Young, para ocupar o lugar. Pese toda a turbulência, as gravações — que decorreram nos estúdios, com o produtor — o «So Far, So Good… So What!» conseguiu encarnar o espírito bruto dos MEGADETH muito melhor do que mesmo o brilhante «Rust In Peace». Os temas exalam riffs brutais, solos fantásticos e o habitual alto padrão lírico de Mustaine, enquanto mantêm o ouvinte atento a cada nota debitada à velocidade da luz. “Queríamos que as pessoas soubessem que o sucesso não nos ia chegar à cabeça”, disse Dave Mustaine no Headbangers Ball em 1988, a explicar de forma certeira a origem do título do terceiro álbum de estúdio da sua banda.
MEGADETH, «So Far Far, So Good… So What!». Os músicos traziam nas costas o sucesso revolucionário atingido com o «Peace Sells… But Who’s Buying?» de 1986, mas não se fizeram rogados. Nesse primeiro disco num selo já fora dos circuitos independentes, estabeleceram-se de vez como estrelas do thrash — talvez não tão conhecidas como a banda anterior de Mustaine, uns METALLICA em ascensão rápida até se transformarem no que são hoje, mas certamente, e quase sempre, com propostas bastante mais velozes, mais pesadas, mais agressivas e mais instrumentalmente complexas. Com o «So Far, So Good… So What!», Dave Mustaine empurrou a jovem banda ainda mais para os extremos do género, do thrash técnico ao mais desgarrado, passando pelo speed punk da «Anarchy In The U.K.», dos SEX PISTOLS, pelà épica «In My Darkest Hour» ou pelas descargas de «502», «Liar» e uma «Hook In Mouth» cuspida na direcção do PMRC, com uma das letras mais espirituosas e incisivas do Sr. Mustaine.