Os lendários MELVINS “aterram” em Portugal nos dias 8 e 9 de Julho de 2023, para duas actuações, as primeiros em nome próprio no nosso país!, no Hard Club e no Cineteatro Capitólio, no Porto e em Lisboa, respectivamente. Naquela que é a sua primeira tour europeia em cinco anos, vão celebrar 40 anos de um percurso exemplar e sobem ao palco em formato de trio, com Buzz Osborne na guitarra e voz, Dale Crover na bateria e Steven McDonald no baixo. Esta não é, no entanto, a primeira vez que passam por Portugal — e é esse momento que se recupera aqui. A única vez que, até aqui, passaram por cá foi no dia 20 de Julho de 2003, no Festival Vilar de Mouros. Numa época em que o certame nortenho tinha cartazes cujo calibre permanece por igualar nos grandes festivais de Verão actuais, nesse dia os MELVINS dividiram o palco com os Tomahawk e Public Enemy. Aliás, Mike Patton juntou-se aos MELVINS na interpretação de «Black Stooges», malha que encerrou uma actuação de cerca de quarenta minutos. Na altura, a digressão foi literalmente conjunta com os Tomahawk, com Dale Crover e David Scott Stone a manterem-se no palco, para o concerto da banda de Patton.
Quanto aos MELVINS, como recordam os nossos sempre atentos parceiros da ROMA INVERSA, estavam a promover o seu disco de 2022, «Hostile Ambient Takeover». O 14.º LP de estúdio da banda é mais um exercício que procura fundir alucinatórias mudanças de tempo, entre o punk e o prog, com ambientes de exploração sem regras, como no caso dos 15 minutos de «The Anti-Vermin Seed» e, claro, com demolidoras malhas com a afinação em Drop A como é exemplo «The Fool, The Meddling Idiot». Este foi inclusivamente o tema que abriu o primeiro concerto de sempre dos MELVINS em Portugal. A actuação foi transmitida em directo pela SIC Radical e sobrevive nos canais de streaming. No player em cima podem recordá-la integralmente. Eis a setlist completa: «The Fool», «The Meddling Idiot», «Night Goat», «Revolve», «We All Love Judy», «The Brain Center At Whipples», «Let It All Be», «The Bloat», «The Bit», «Black Stooges».
UM NOME INCORTONÁVEL NA HISTÓRIA DO ROCK
“Entre os artistas mais influentes dos últimos quarenta anos, os Melvins nunca desistiram de ser a banda mais pesada de todos os tempos. Desde o dia em que deixei cair a agulha no LP de estreia «Gluey Porch Treatments», senti-me inspirado pela abordagem deles, aquele ritmo sincopado, muito próprio, que também influenciou inúmeras outras bandas que os consideravam os reis do Noroeste. Ah, e obrigado por me darem o número de telefone dos Nirvana.” — Dave Grohl
É certo que não foram a primeira banda a reconhecer as influências do heavy metal que a maioria dos músicos underground andavam a evitar desde que o punk rock “rebentou” em 1977; essa honra vai para os Black Flag e para o lendário álbum «My War». No entanto, nenhum outro grupo surgido no underground do rock alternativo teve a ousadia de explorar tão a fundo, e com tanto impacto, o rugido lento e monolítico dos Black Sabbath. Pelo caminho, os Melvins atingiram verdadeiro estatuto de culto e ainda provaram ser extremamente influentes, abrindo as portas às afinações baixas e às batidas arrastadas que ícones do grunge como Tad, Mudhoney e Soundgarden exploraram no início das suas carreiras. Com o malogrado Kurt Cobain a citá-los como referência a cada oportunidade, ajudando-os inclusivamente a conseguirem o seu primeiro contrato com uma editora “grande” em 1993, transformaram-se numa ponte entre as franjas mais liberais das comunidades punk e metal, que encontraram maior terreno em comum a partir dos 90s. E sim, os anos de formação coincidiram com a ascensão do rock vindo de Seattle, mas os músicos nunca abraçaram nenhuma afiliação rígida ao grunge e sempre se mantiveram prontos a trocar de pele a cada passo.
«6 Songs», o EP de estreia de 1986, mostrou os MELVINS a oscilarem entre temas punk mais rápidos e descargas de peso arrastado e demolidor, mas em «Bullhead», de 1991, o som gigantesco de marca registada que os tornou famosos já estava firmemente no lugar. Por um lado, provaram ser tão fáceis de reconhecer como qualquer banda da sua época; por outro, revelaram-se mais flexíveis criativamente que quase todos os seus parceiros. Vai daí, experimentaram estilos diferentes (no bizarro «Lysol«, de 1992), exploraram mais a fundo o potencial dos truques de estúdio (no «Stag», de 1996) e até mergulharam em paisagens sonoras épicas e barulhentas (no duplo LP «A Walk With Love And Death», de 2017). Como se isso não bastasse, encarnaram uma variedade enorme de configurações musicais: vários vocalistas convidados (no «The Crybaby», de 2000), dois bateristas (no «A Senile Animal», de 2006), uma equipa rotativa de baixistas (no «Basses Loaded», de 2016) e até ensaiaram um regresso às raízes no «Bad Mood Rising», de 2022. Essas doses enormes de variedade e criatividade ajudaram-nos a permanecer produtivos e prolíficos durante mais de quatro décadas. Desde que o grupo tomou forma, numa zona rural de Montesano, WA, em 1983, o cantor e guitarrista “King Buzzo” Buzz Osborne permaneceu consistentemente ao comando de um corpo de trabalho cada vez mais extenso. Dale Crover, que gravou alguns temas do «Bleach», dos NIRVANA, juntou-se à banda em 1984. O actual baixista, Steven McDonald, dos punks californianos Redd Kross, começou a tocar com a dupla de elementos fundadores em 2015, seguindo uma longa linhagem de baixistas que vão desde um vanguardista como Trevor Dunn a JD Pinkus, dos infames Butthole Surfers.