JASON NEWSTED

METALLICA: Ouve a ‘demo’ que deu origem à «Enter Sandman» [streaming]

A «Enter Sandman» foi lançada como single há exactamente 32 anos! Esta é uma oportunidade de ouro para dissecar uma das canções de metal mais importantes de todos os tempos.

Quando ouvimos um tema novo pela primeira vez estamos, geralmente, a ouvir o produto final do que costuma ser um longo e agonizante processo de composição e gravação. As versões demo dão-nos a oportunidade de perceber como a música evoluiu. Neste caso, as coisas tornaram-se ainda um pouco mais interessantes por estarmos a falar de uma versão rudimentar, chamemos-lhe assim, de um êxito estratosférico como a «Enter Sandman», dos METALLICA, que foi editada oficialmente como single no dia 29 de Julho de 1991. A demo instrumental disponível em baixo foi gravada por James Hetfield e Lars Ulrich na cave deste último a 12 de Julho de 1990 (pouco mais de um ano antes de ser por fim lançada ao público) e apresenta a dupla a trabalhar a música ainda nos seus estágios iniciais, mas ainda assim, mesmo na sua forma mais lo-fi, já soa bastante massiva. Para fãs e músicos, esta é uma oportunidade de ouro para dissecarem uma das canções de metal mais importantes de todos os tempos.

Embora não conste desta gravação em particular, foi Kirk Hammett que criou a versão inicial do riff icónico da música, que já disse ter sido inspirado no álbum «Louder Than Love», dos SOUNDGARDEN. Fã de longa data do grupo de Seattle, o guitarrista dos METALLICA foi conquistado pelo poder do disco, confessando mesmo que estava “a tentar capturar a atitude dos riffs enormes e pesados dos Soundgarden” quando escreveu o riff principal da incontornável «Enter Sandman». “É engraçado porque foi uma coisa mesmo muito específica”, disse Hammett em entrevista à CBS News. “Eram duas ou três da manhã e eu estava a ouvir o «Louder Than Love», o álbum dos Soundgarden. Isso aconteceu numa altura em que eles ainda eram um pouco underground… Adoro esse disco; é um óptimo álbum. E quando o ouvi, senti-me inspirado e peguei na minha guitarra. O riff da «Enter Sandman» surgiu nesse momento.

No ano passado, Lars Ulrich e Kirk Hammett recordaram o processo de criação do seu álbum auto-intitulado (e multi-platina) editado em 1991, numa entrevista para a revista britânica Uncut. Mais conhecido como «The Black Album», o disco reúne algumas das canções mais antémicas gravadas pela banda, numa manobra que lhes permitiu fazerem a passagem de um público 100% metal, para um apelo muito mais abrangente, muito mais próximo do rock. Embora os músicos tenham conseguido os primeiros airplays na rádio e na televisão com o disco anterior, «… And Justice For All», de 1988, foi com “o álbum preto” que materializaram o seu maior avanço comercial até então, apoiado em cinco singles de enorme sucesso que os transformaram numa das bandas de rock mais populares no mundo.

Quando terminámos o «… And Justice For All» e a digressão de dois anos subsequente, percebemos que não havia como seguir nesse caminho”, disse Lars Ulrich à Uncut. “Íamos bater contra uma parede. A última canção desse álbum chama-se «Dyers Eve» e tem seis ou sete minutos da coisa mais louca e progressiva que os Metallica são capazes de fazer. Depois de tocarmos todos aqueles temas na estrada por uns anos, dissemos que tínhamos de pensar num reset.” Kirk Hammett acrescentou: “Não foi fácil de fazer, porque queríamos um certo som para aquele álbum. Queríamos que tudo fosse o melhor possível, em termos de som, música e desempenho, e foi o que fizemos. Provavelmente serei a primeira pessoa a mencionar isto, mas nós queríamos fazer um «Back In Black», um álbum cheio de singles. Esse era o conceito, fazer músicas que soassem como singles, mas não são.

Lars continua: “Sentámo-nos e pensámos nos MISFITS, nos AC/DC e nos THE [ROLLING] STONES. Pensámos na arte de simplificar e escrever músicas mais curtas. É mais difícil escrever uma música curta do que uma música longa, é mais difícil ser sucinto. O novo desafio era escrever canções mais curtas. Ter um pouco mais de balanço, para tornar a música mais física do que cerebral.” O álbum foi a primeira de quatro colaborações com o produtor Bob Rock, com quem a banda colidiu ao longo da gravação do disco. “O Bob Rock tinha trabalhado recentemente com os THE CULT, os MÖTLEY CRÜE e os BON JOVI, por isso tinha uma abordagem diferente aos sons,” recordou Ulrich. “E, claro, nós queríamos que os nossos discos fossem um pouco maiores e mais impactantes. A boa notícia é que o Bob era muito encorajador, no sentido de expandirmos os nossos processos. A má notícia é que nós não estávamos muito abertos a que alguém nos dissesse o que devíamos fazer“.