MILHÕES DE FESTA 2018: Tudo o que não podes perder



Os triângulos regressam à cidade do galo para a 11.ª edição do MILHÕES DE FESTA, fruto da colaboração entre o Município de Barcelos e a Lovers & Lollypops, com a promessa única a que nunca faltou: subir o astral com música de coordenadas e influências tão dispersas e desafiantes quanto soberbamente cativantes. É mais uma edição do Milhões de Festa, desta vez em Setembro, de dia 6 a dia 9; o que é óptimo, pois ainda é tempo de piscina e as bifanas sabem melhor. Depois de uma plenitude de festivais de Verão, por vezes mais com rock no nome que na alma, o Milhões vem encerrar o Verão na sua maneira própria de mostrar música. A LOUD! deixa aqui um roteiro pelos pesos pesados e/ou de interesse no festival.


Para a edição deste ano, o grande cabeça-de-cartaz é ELECTRIC WIZARD, Num regresso oito anos depois do grupo de Jus Oborn ter pisado o palco na margem do Cávado. O quarteto traz «Wizard Bloody Wizard», de 2017, na bagagem e certamente que serão muitos os que passarão no festival barcelense por causa deles. Descritos como a mais pesada banda do universo, em boa verdade, serão, hoje, mais que uma banda. Electric Wizard é também um documento histórico para todo um universo de manifestações culturais que descobrem os espectros mais negros da arte. Do cinema de Jess Franco à literatura de Robert E. Howard e H. P. Lovecraft, a sua música congela as referências mais emblemáticas de uma subcultura que se alimenta do obscuro, do horror e da bruxaria.


No entanto há mais nomes interessantes e de peso, neste festival que sempre se distinguiu por apostar em diferentes estilos e caminhar pelo lado menos óbvio e conhecido da música, seja feita por cá, ou lá fora, num qualquer lado, pois aqui a diversidade também passa pela nacionalidade.

CIRCLE será não só um dos grandes nomes, como um exemplo de como a veterania ainda pode ser novidade por cá. Formaram-se em 1991, na Finlândia, praticam algo que muitos descrevem como krautrock, arriscam o experimentalismo, e podem descrever-se como psych rock, para os preguiçosos. Os autores de «Raunio» ou «Termostaatti» têm tudo para ser dos nomes mais interessantes do festival, resta saber quantos virão e que escolhas farão de um reportório com quase quatro dezenas de discos de estúdio. Este ultra prolífico colectivo finlandês, é dono de uma capacidade quase hiper-activa de conquistar terrenos a diversos géneros musicais. Do jazz ao krautrock, do metal aos ambientes mais psicadélicos, parece não haver barreiras para a naturalidade com que resume e redesenha as mais diversas linguagens da música. Estão, indiscutivelmente, no círculo de bandas de culto com maior longevidade a nível mundial.

PHARAOH OVERLORD é um out take dos Circle; na realidade três membros dos finlandeses, a fazer algo como rock experimental saído de outro projecto de rock experimental. Inicialmente uma carta de amor de três dos elementos dos Circle ao stoner rock, cedo se percebeu que o caminho para Jussi Lehtisalo, Janne Westerlund e Tomi Leppänen não ficaria por aí. Quase como uma mímica do grupo irmão, o seu output tem, desde 2007, conhecido formas diversas: do stoner ao jam rock, do space ao krautrock, do heavy ao speed metal. Auto-descrevem-se como hypno-improv-stoner-rock da Finlândia. Serão realmente algo diferente? Resta esperar para ver.

Já no caso de GAZELLE TWIN, que alinham no campo da electrónica mais alternativa, a dúvida reside em saber se ao vivo teremos um assalto sonoro ou uma abordagem mais electro. Escutem «Hobby Horse» e percebam como a coisa está na fronteira, levantando dúvidas sobre o que se vai passar em palco, e por isso justificando pelo menos uns cinco minutos de atenção para o projecto que é a capa artística de Elizabeth Bernholz, produtora, compositora e performer, que nos introduz à forma distópica com que analisa a realidade que a rodeia. Foi assim em «Unflesh» e «Kingdom Come», discos em que dissecou temas como a puberdade, identidade de género e as linhas de contaminação entre o consumismo e o fascismo; é assim com «Pastoral», a ser antecipado no concerto de Barcelos. Com data de lançamento para o final do mês de Setembro, o novo disco olha a Inglaterra contemporânea aparentemente imersa num novo período de obscurantismo.

Uma das propostas que levanta mais curiosidade é BALA, duo feminino que vem da Corunha, traz «Human Flesh» na bagagem e destila punk, grunge e stoner com a raiva que só os grupos jovens sabem ter. São os pontas-de-lança de um novo movimento punk que se forma para os lados da Galiza. Anxela e Violeta são os nomes a reter!

UKAEA pode revelar-se uma aposta interessante para quem gosta de desfrutar de paisagens urbanas em registo electrónico, talvez o nome mais indicado para quem gosta do electrónico post rock ou de algum industrial. UKAEA é o acrónimo para United Kult of the Animist Endgame Apostles, ritualistas que tentam transformar em palco pedaços desconexos de um passado não datado. Rituais prévios, diz-se, envolveram corpos nus cobertos de tinta, violino, djembe, sintetizadores modulares, pedais de efeitos, visuais peculiares e cânticos. Num jogo constante entre o culto e a rave, a música aqui nasce da mistura de ritmos, percussões mesméricas e níveis febris de noise hipnótico. À medida que a performance avança, o ambiente carrega-se e envolve a audiência, abrindo um novo espaço de junção entre o espacial e o físico.

GRABBA GRABBA TAPE é talvez o projecto mais bizarro que irá passar pelos palcos do Milhões, fenómeno de culto na cena synth-punk internacional. Formada em 2004, a dupla espanhola de “peluches” cedo captou os ouvidos do público e da imprensa da especialidade. Esqueçam o som, apreciem do espectáculo.

WARDUSCHER é aquele rock que vai buscar malhas ao funk como se pode escutar em «Standing On The Corner» tema dançável e cheio de groove. São o produto pós-punk de uma Londres multicultural. «Whale City», o novo longa duração, é uma espécie de ópera-rock que, de acordo com a banda, serve de parque de diversões para todos os que já conseguiram fugir da sua zona de conforto.

THE EVIL USSES, podiam ter um single chamado Milhões, pois ouve-se e vê-se e pensa-se no Milhões. Rock experimental, groove e piscar de olhos a outros sons. O quarteto tem vindo a ser aclamado pela energia descontrolada das suas actuações ao vivo que, segundo os mesmos, se situa algures entre o “rock not jazz” e o “jazz not rock”. Passaram por diversos projectos até se encontrarem na soma saxofone, guitarra, baixo e bateria com que se apresentam agora e integram um dos mais criativos colectivos de Bristol. «Gambino», o vídeo, diz tudo.


A tudo isto ainda há alguns nomes nacionais a adicionar e que poderão ser relevantes para os fãs de música pesada.

PAISIEL é um dos vários projectos de João Pais Filipe, talvez um dos jovens músicos mais interessantes na cena rock nortenha. Sempre na percussão, cruza fronteiras sonoras e arrisca sempre. Desta vez é com o saxofonista Julius Gabriel. O músico começa no Milhões um périplo que o leva a diferentes espaços, em cada um com um projecto próprio.

INDIGNU não é um grupo, é antes uma banda sonora para uma vida numa qualquer cidade cinzenta. Minimalista, melancólico, é daqueles nomes que passado uns anos olhamos para trás e ficamos contentes de ter visto, principalmente aqui, sua terra natal. Desde o lançamento da ópera-rock «Odyssea», com a qual percorreram teatros e salas de norte a sul, mas também com passagens por Espanha, França e Bélgica, que os Indignu se assumiram como uma das mais sólidas bandas a trabalhar o post-rock e shoegaze em Portugal. O seu mais recente disco, Umbra, retrata o Portugal coberto de cinza, descrevendo o cenário negro e assombrado em que vive o homem à beira do apocalipse.

CACILHAS é o nome tirado da antiga vila piscatória do outro lado de Lisboa, local onde Shela, teclista dos Riding Pânico e LAmA, e Casper Clausen de Liima e também de Efterklang, começaram de forma descomprometida a compor música. Os temas são imagens da Lisboa que se vê ao longe e integram captações sonoras do Tejo, dos pescadores e dos ambientes que marcam o dia-a-dia da zona.

O ENSEMBLE INSANO torna-se, cada vez mais, uma carta do Milhões, de Barcelos e do Minho criativo que por lá nasce de forma quase incontrolável. Sob a batuta de André Simão (Astonishing Urbana Fall, la la la ressonance, Dear Telephone), diferentes gerações de músicos da cidade cruzam-se para um momento único e impossível de definir.


Finalmente há a já célebre colaboração com a organização do SWR Barroselas, mas isso fica para a semana.