MISS LAVA + DOLLAR LLAMA + MURRO @ RCA Club, Lisboa | 25.02.2022[reportagem]

Noite de rock épica no RCA Club. Quantas saudades tinhamos de dizer e de sobretudo de sentir algo deste género mas principalmente de viver noites onde a música pesada reinou perante os seus mais fieis súbditos e servidores num local sagrado para o efeito. Três bandas nacionais perante um público ávido que as recebeu de braços abertos, sendo que os MURRO foram a banda convidada para acompanhar os MISS LAVA e os DOLLAR LLAMA na sua ambiciosa digressão nacional Evil Twins Tour. E foi uma escolha mais que ajustada.

A casa ainda estava em construção em termos de público presente mas os MURRO subiram ao palco apostados em trazer para o RCA Club a intensidade única que caracteriza o seu álbum mais recente editado pela Raging Planet, «Misantropo». A voz de Hugo Cão é àspera e corrosiva de uma forma intimidante mas encaixa perfeitamente na parede sonora instrumental debitada pela restante banda. O já referido álbum foi tocado na íntegra e ainda foram recuperados temas da fase anterior, que funcionam muito bem em conjunto. Apesar de um pequeno problema com a guitarra de Pedro “Macaco Rápido” na «Galinhas», foi um concerto onde a intensidade esteve sempre nos píncaros e onde o público aderiu muito bem.

DOLLAR LLAMA é já (há muito tempo) sinónimo de energia musculada e incontrolável e esta actuação foi uma das mais épicas que vimos da parte da banda de Tiago Simões que confessou em forma de desabafo “as saudades que eu já tinha disto” – algo que mais tarde viria a ecoar vindo do público. Nós também, nós também. O sludge poderoso e energético contagiou toda a sala e manifestou-se em grande parte através dos temas de «Juggernaut», o mais recente trabalho da banda, mas isso não impediu incursões pelo passado e também um cheirinho do futuro, através de «Supercvlt», o primeiro tema de avanço ao álbum com o mesmo título que ainda não tem data de lançamento anunciada. Sempre comunicativo, o vocalista não se furtou de fazer várias dedicatórias de vários temas, destacando-se a «Jaws» para a situação na Ucrânia e a «Noisecreep» a MARK LANEGAN. Inesquecível!

Com a fasquia bastante alta, o que esperar dos MISS LAVA senão corresponder mesmo a essas expectativas? Com o seu stoner/doom com laivos psicadélicos hipnóticos, assim que as primeiras notas de «Fourth Dimension» (também o primeiro tema do mais recente trabalho da banda «Doom Machine»), já estavamos todos agarrados. A ambiência era convidativa a viajar para fora do corpo assim como Johnny Lee assumia o papel de narrador, sempre a contar uma história que nos prendia sem esforço nenhum. Tal como todas as outras bandas anteriores, não faltaram agradecimentos tanto ao público, aos companheiros de cartaz assim como à promotora Amazing Events por estarmos todos ali. E se houvessem dúvidas de que o sentiento era mútuo por parte da assistência, a forma como esta cantou e fez coros de temas como «The Oracle» e «Ride» as mesmas ficariam logo desfeitas nesta noite que também serviu para apresentar o novo baterista da banda, Pedro Gonçalves.

Uma noite memorável para todos e novamente terei de citar a frase “as saudades que tinha disto” porque resume na perfeição o sentimento partilhado por todos e também o impacto de termos ficado praticamente dois anos sem podermos celebrar a música como a mesma deve ser celebrada. Ao vivo e em comunhão com a magia a gravar e marcar todos os que nunca desistiram e nunca vão desistir dela.

(FOTOS: Sónia Ferreira)